Descuido programático – Periódico Folha, Brasil
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Descaso programático
As erratas de Marina Silva em relação ao seu programa de governo, quem diria, não foram o que de pior aconteceu nesse capítulo da disputa presidencial. A candidata do PSB, afinal, ao menos entregou à Justiça Eleitoral um documento que consolida suas propostas.
Verdade que as emendas à carta diminuíram-lhe a credibilidade. No episódio mais polêmico, itens que versavam sobre a criminalização da homofobia e a regulamentação do casamento gay não resistiram às críticas de pastores evangélicos. Em menos de 24 horas, Marina desautorizou as passagens.
Ainda assim, e mesmo considerando o quanto recuos dessa natureza acrescentam de incerteza a sua postulação, é salutar que a ex-ministra do Meio Ambiente tenha apresentado sua agenda, permitindo que a sociedade conheça e debata um catálogo oficial.
Aécio Neves (PSDB) não chegou a tanto. O senador ainda promete finalizar seu programa de governo, mas até hoje, faltando 16 dias para a votação, não avançou além das diretrizes gerais que todo candidato deve, por lei, protocolar ao registrar sua postulação.
Diga-se, quanto a isso, que o compêndio do tucano alcança um nível de detalhamento que o esquálido congênere petista nem resvala. É pouco, porém, para que Aécio se sinta confortável a ponto de alfinetar Marina, dizendo que entregará um documento escrito a caneta, e não «feito a lápis, para apagar a depender de pressões».
Desconfortável mesmo deveria estar a presidente Dilma Rousseff (PT), que teve atitude bastante distinta. Diante das divergências entre o que defende seu partido e o que pretende seu governo, a mandatária considerou oportuno suspender a divulgação de seu programa.
Para ela, talvez seja conveniente evitar esse tipo de atrito. Quem conhece sua intransigência quase folclórica sabe que Dilma sairia perdendo se aceitasse discutir sua relação com o PT em meio a uma eleição tão apertada. A presidente não pode se dar ao luxo de brigar com a própria legenda.
Ao eleitor, por óbvio, essa lógica mesquinha de nada serve. Como saber de que maneira Dilma planeja se comportar num eventual segundo mandato se nem aceita assumir compromissos formais?
A presidente quer ser reconduzida ao Planalto para, entre outras medidas, tentar reduzir a jornada de trabalho, como quer o PT, ou para bloquear essa votação no Congresso, como tem feito seu governo? Propugnará a revisão da Lei da Anistia, seguindo orientações do partido, ou se esquivará do tema?
Dilma, infelizmente, prefere silenciar, oferecendo à população apenas o mundo mágico, e mentiroso, da propaganda eleitoral.