El PSDB, principal partido opositor, definió a su candidato presidencial
PSDB conciliado
A inusitada ausência de rivalidades internas foi a circunstância mais enfatizada no encontro que oficializou a candidatura de Aécio Neves à Presidência da República. Realizada no sábado, a convenção do PSDB não se ressentiu dos subterrâneos desgastes produzidos pela disputa pessoal entre os principais caciques do partido.
Essa confluência tem paralelo no que se poderia chamar de reconciliação com o próprio passado do PSDB. Afirma-se com mais vigor, o que nem sempre foi automático entre os tucanos, o endosso à política empreendida por Fernando Henrique Cardoso em seu governo, de 1995 a 2002.
A conjuntura econômica presente auxilia o PSDB a recuperar seu eixo. Mais do que o elogio à privatização dos anos 1990, os tucanos podem agora mencionar o constante empenho de FHC no combate à inflação –que contrasta com as tentações populistas do governo Dilma Rousseff (PT).
Em outro ponto, além do das críticas à alta dos preços, a candidatura Aécio deu mostras de ir encontrando um discurso mais definido. Tem sido constante, nas declarações do mineiro, a afirmação de que Fernando Henrique enfrentou, por parte do PT, uma oposição mais sectária e sistemática do que a apresentada por seu próprio partido nos tempos de fastígio lulista.
A avaliação dos tucanos pode ser vista com reservas. Corrobora, porém, a imagem do sectarismo e da intolerância que –não tanto no governo, mas na militância petista– rotulam como «golpismo» e «conspiração de elites» quaisquer críticas que se dirijam a esquemas e projetos do partido no poder.
Aécio aposta, assim, na construção de um perfil conciliador, sem dúvida para aproximar-se das tradições de seu avô, Tancredo Neves. É difícil prever o quanto essa atitude sobreviverá às tensões de uma campanha eleitoral e ao acirramento dos conflitos sociais e ideológicos que se percebe no país.
O candidato do PSDB julga, ao mesmo tempo, poder beneficiar-se da onda de descontentamentos que se verifica, desde junho passado, nos grandes centros. Prevê um «tsunami» destinado a tirar o PT do poder, incapaz, na sua avaliação, de atender às demandas sociais.
Por mais eficiente que queira ser, nenhum governo poderá, contudo, dar conta de pressões tão diversas como as que surgem na era pós-Lula. O mais provável, embora não convenha a discursos de candidato, é que o próximo governo tenha a tarefa de controlar e organizar urgências e insatisfações advindas de todos os lados.
O desafio, que não é só de Aécio, mas de todo candidato, parece ainda longe de ser dimensionado nos pronunciamentos do tucano.
http://www1.folha.uol.com.br/opiniao/2014/06/1470949-psdb-conciliado.shtml
Em convenção, PSDB confirma candidatura de Aécio Neves
O PSDB confirmou, em convenção nacional do partido realizada neste sábado (14), o nome do senador Aécio Neves (MG) para concorrer à Presidência da República nas eleições de outubro.
Os tucanos realizaram a convenção partidária em São Paulo. Apesar de confirmar o nome de Aécio, o partido ainda não definiu quem será o candidato a vice, o que deve ocorrer até o fim deste mês.
A legenda afirma que mais de cinco mil pessoas de todo o país participam do evento, que teve a presença de tucanos como o senador Aloysio Nunes (SP), o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, o ex-governador José Serra e os governadores Geraldo Alckmin (SP), Marconi Perillo (GO), Teotonio Vilela (AL) e Beto Richa (PR). A candidatura também recebeu apoio de líderes do DEM e do Solidariedade.
Aécio foi chamado para discursar no palanque ao som do hino nacional. No início de sua fala de 30 minutos, ele lembrou do avô, Tancredo Neves, eleito presidente da República pelo colégio de líderes em 1984, mas que morreu antes de assumir.
Aécio também elogiou ações do PSDB durante o governo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.
«Transformamos a realidade brasileira de forma permanente com o Plano Real. O Real recuperou a confiança do Brasil em si próprio […] Criamos os primeiros programas de transferência de renda e benefícios sociais, aquilo que se tornou depois o Bolsa Família», afirmou o agora candidato.
Ao criticar o governo do PT, Aécio argumentou que petistas tinham se colocado contra o Plano Real e contra a Lei de Responsabilidade Fiscal na época em que esses dois projetos foram aprovados.
«Nossos adversários mantiveram a coerência. Quem foi contra o Plano Real é quem hoje não controla a inflação. Quem foi contra a Lei de Responsabilidade Fiscal é quem hoje assina essa contabildade maldita», criticou Aécio.
«Nós estamos aqui para dizer um basta definitivo àqueles que se apropriaram do estado nacional e iniciarmos no Brasil um novo e generoso ciclo onde haja educação de qualidade, saúde digna e segurança na porta das famílias brasileiras», disse.
«Eu percebo que há, não apenas mais uma brisa, mas uma ventania por mudanças, um tsunami que vai varrer do governo federal aqueles que lá não têm se mostrado dignos e capazes de atender às demandas da população brasileira», afirmou.
FHC critica governo
O ex-presidente Fernando Henrique, em seu discurso na convenção, também fez críticas ao governo Dilma Rousseff e disse que «as vozes das ruas querem mudança».
«Elas [as vozes das ruas] cansaram de impunidade, de enganação, de mentira, de distanciamento do governo com o povo. O governo atual ficou distante , acusando quem não devia. Não dá mais, ninguém aguenta mais isso», afirmou o ex-presidente.
«Posso dizer, do alto dos meus 83 anos, que o Brasil precisa de um líder jovem», concluiu FHC.
Serra participa de ato
O ex-governador José Serra, que foi o candidato do PSDB na última eleição presidencial, também fez discurso para apoiar o colega de partido. «Esse espírito de mudança, Aécio, que agora converge para a sua candidatura, é o desdobramento de uma longa jornada no Brasil».
Antes de Aécio ser escolhido pré-candidato, no início do ano, o nome de Serra era um dos cotados para concorrer pelo PSDB ao Palácio do Planalto. Ao final da convenção, Serra afirmou, como já vem fazendo nas últimas semanas, que não será vice na chapa de Aécio e que deve se candidatar para uma vaga no Senado ou na Câmara Federal.
Aliados
Entre os representantes de partidos aliados, foram à convenção o deputado federal Paulo Pereira da Silva (SDD-SP) e o senador José Agripino Maia (DEM-RN), um dos cotados para ser vice. Outros nomes já mencionados para o cargo estão FHC, o senador Aloysio Nunes (PSDB-SP) e a ministra aposentada do Supremo Tribunal Federal (STF) Ellen Gracie.
O deputado e líder sindicalista, Paulo Pereira da Silva, discursou na convenção reafirmou o apoio do Solidariedade à candidatura tucana e fez críticas ao governo Dilma.
«Nosso partido já declarou que apóia a candidatura [de Aécio]. Quero dizer que nós vamos enfrenta um governo que destrói a inflação nacional, que não cumpriu nenhuma das causas trabalhistas», afirmou.
PSDB e aliados se unem em torno do nome de Aécio à Presidência da República
Cinco mil pessoas, entre lideranças políticas, militantes, simpatizantes, aliados e representantes de todos os estados do Brasil, se uniram neste sábado (14/06), em São Paulo, em torno da oficialização do nome do presidente nacional do PSDB, senador Aécio Neves, como candidato à Presidência da República. Durante a Convenção Nacional do partido, o tucano foi escolhido candidato com 99,11% dos votos. Dos 451 delegados, 447 se mostraram favoráveis ao senador. À época em que foi escolhido presidente nacional do PSDB, Aécio obteve a aprovação de 97,3% dos votantes.
Emocionado, o candidato do PSDB à presidência agradeceu a presença de todos e o voto de confiança dado por milhares de brasileiros.
“Acho que vocês podem imaginar a emoção que eu sinto neste instante. O mais importante momento de toda a minha caminhada política. E as coisas não acontecem ao acaso. Aceito hoje a convocação do meu partido e dos partidos aliados. Sou candidato à Presidência da República para mudar o Brasil, para transformar a vida dos brasileiros. O Brasil merece mais”, afirmou.
Passado
Após a execução de trecho do Hino Nacional interpretado por Zezé di Camargo em gravação enviada pelo cantor ao senador, Aécio lembrou, em seu discurso, figuras importantes em sua vida. Sua mãe, Inês Maria, a filha Gabriela, a esposa Letícia e seus filhos recém-nascidos, Bernardo e Julia, foram homenageados. Aécio também se lembrou de seu pai, Aécio Cunha, e de seu avô Tancredo Neves, homenageado na leitura do poema “Palavra Gasta”, de Ferreira Gullar.
O senador também revisitou feitos de governos anteriores do PSDB, que possibilitaram ao país crescer até o patamar em que se encontra hoje.
“Nenhum outro governo em nossa história recente deixou um legado de transformações e criou bases tão sólidas para que o país pudesse avançar como o governo do PSDB, apoiado sempre pelos nossos aliados”, afirmou.
“Se sempre foi inequívoco o compromisso do PSDB com a democracia e a liberdade, foi a nossa coragem que nos legou o país moderno e promissor que somos hoje. Foi com ela que colocamos fim ao ciclo hiperinflacionário que aprisionava o nosso crescimento e roubava o nosso futuro. E atingia especialmente os mais pobres, os que mais precisavam e menos tinham”, acrescentou.
Presente
Apesar do grande número de pessoas presentes, um só sentimento permeou o encontro: o clamor pela mudança.
“Os brasileiros percebem que foram traídos, e por isso o ambiente de indignação e de desalento que toma conta de todos os cantos do Brasil. Acreditaram na propaganda de quem dizia defender a ética e elegeram um governo que foi protagonista dos mais vergonhosos casos de corrupção da nossa história”, avaliou Aécio.
O candidato à Presidência pelo PSDB afirmou que, ao invés de protagonizar um novo e prometido salto, o país retrocedeu, perdeu o rumo, “não ousa encarar o presente e tampouco enfrentar o futuro”.
“Problemas antigos como a inflação, por exemplo, que imaginávamos superados, estão de volta, atrasando a agenda nacional. Tudo isso, cada ato, é consequência de um governo que governa para si mesmo. Que promete mais do que entrega, fala mais do que faz e que perdeu, há muito tempo, a capacidade de ouvir”, considerou. “E nós sabemos: governo que não ouve, erra. Governo que improvisa, falha sempre”, disse.
Futuro
Diante de uma plateia atenta, Aécio externou sua crença de que o Brasil cobra o fim de “escândalos em série e da corrupção endêmica que tomou conta do país”.
“É este o país que temos o desafio e a responsabilidade de mudar e melhorar, em respeito à nossa gente que demanda hoje no governo ações permanentemente adiadas por aqueles que nos governam”, salientou.
Aécio ainda reiterou seu compromisso em mudar para melhor a situação do Brasil:
“Se coube a Juscelino Kubitschek, há 60 anos, permitir o reencontro do Brasil com o desenvolvimento e a modernidade, coube a Tancredo, 30 anos depois, permitir que o Brasil se reencontrasse com a democracia e a liberdade. Outros 30 anos se passaram.
Vamos conduzir o Brasil para um reencontro com a decência, com a dignidade, com o trabalho, com a eficiência na vida pública, e vamos fazer isso com a coragem de todos vocês”, completou.
Força da união
Ao final, a forte emoção e o entusiasmo de todos os presentes impediu que o senador chegasse ao final do seu pronunciamento. Momentos antes de concluir sua fala, o candidato do PSDB foi ovacionado por todas as lideranças presentes, que caminharam ao encontro do senador para abraçá-lo e parabenizá-lo.
Antes de ser interrompido, Aécio agradecia a cada um dos líderes tucanos de todo o país, responsáveis pela construção desse momento histórico momento de união de todo o partido.
“Nesse dia, apoiado e ladeado por algumas das mais expressivas lideranças políticas nacionais, apoiado por companheiros anônimos, que deixaram suas casas, suas cidades e viajaram por quilômetros para estarem aqui hoje, a minha responsabilidade, se já era grande, hoje é a maior de todas, porque estamos muito próximos mesmo de fazer esse reencontro ao qual me referi. Para um novo Brasil! Muda Brasil”, conclamou Aécio.