Brasil | Senadores acusan al canciller Araujo por someterse a Trump y atentar contra Venezuela

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No Senado, Ernesto Araújo é cobrado por submissão a Trump e ataques à Venezuela

Por Erick Gimenes

O ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, foi duramente cobrado por senadores pela subserviência a Trump, pela tentativa de impor domínio à Venezuela e por outros fatos relacionados à política internacional, como a fala do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) na Assembleia da Organização das Nações Unidas (ONU).

Araújo foi convocado nesta quinta-feira (24) pela Comissão de Relações Exteriores (CRE), para prestar esclarecimentos sobre a motivação da ida do membro do governo de Donald Trump às instalações da Operação Acolhida, na fronteira.

A senadora Mara Gabrilli (PSDB-SP), que iniciou os questionamentos ao ministro, apontou uma contradição do chanceler brasileiro quando declarou que o governo Bolsonaro é solidário ao povo venezuelano e que a Operação Acolhida é um exemplo para os demais países.

“Vossa Excelência esclareceu que a Operação Acolhida é um exemplo, mas nossa fronteira continua fechada. Vossa Excelência poderia comentar, por exemplo, a respeito da portaria 419, de 2020, que prevê sanções desproporcionais e ilegais, inabilita o pedido de refúgio, responsabiliza criminalmente os migrantes e ainda determina a deportação imediata? Mesmo assim, Vossa Excelência continua afirmando que o Brasil mantém sua solidariedade ao povo venezuelano, chanceler?”, emparedou Mara Gabrilli.

O senador Telmário Motta (Pros-RO), autor do requerimento para que o ministro fosse ao Senado, disse que as explicações eram “só para inglês ver”. Roraimense, o parlamentar afirmou que as ações dos governos brasileiro e estadunidense não estão resolvendo “absolutamente nada” e criticou as ações “humanitárias midiáticas”.

“Eu lhe pergunto, senhor ministro: por que o Pompeo foi lá agora, em plena campanha do Trump? As fronteiras estão fechadas. Por que ele não foi na hora da crise da imigração, quando ninguém tinha dinheiro para nada? Por que ele não esteve lá na hora da nossa crise da pandemia? Nosso povo estava morrendo, nós não tínhamos respiradores. Os Estados Unidos compraram todos da China e não deram nenhum pra nós. Nosso povo estava indo para Manaus para respirar. Ou seja: o seu Pompeo, homem de coração bom, grande, resolveu ir agora, quando não estamos precisando dele?”, ironizou o senador.

Telmário satirizou a servidão do ministro ao governo estadunidense. O senador imprimiu as bandeiras do Brasil e dos Estados Unidos e mostrou a Araújo, irônica e didaticamente, a diferença entre as duas.

“Aqui, nós temos duas bandeiras: uma americana e uma brasileira. Essa aqui que é a nossa [mostra a bandeira do Brasil e a coloca no peito], é essa que nós temos que a abraçar”, disse, levantando-se e entregando uma bandeira nacional ao chanceler.

O local da visita dita diplomática foi questionado pelo senador Humberto Costa (PT-PE). Para ele, há estranheza na justificativa do governo brasileiro de que a missão foi “em nome dos direitos humanos”.

“Por que essa visita de interação não aconteceu em Brasília? Em nome dos direitos humanos? Que direitos humanos o Brasil defende, que ficou calado diante do golpe de Estado na Bolívia e do massacre de camponeses? Onde está a política de direitos humanos do Brasil, que hoje se alinha às repúblicas mais atrasadas em defesa da discriminação contra mulheres, contra grupos de gays, de lésbicas, como o brasil tem se posicionado na comissão de direitos humanos da ONU?”, indagou.

A explicação do ministro também não convenceu o senador Jaques Wagner (PT-BA). “Vossa Excelência não está em uma classe de primário, com muitos ingênuos. Tentar nos convencer que a visita de Mike Pompeo – por incrível que pareça, apenas em países fronteiriços – à Venezuela não tem a ver com as eleições marcadas na Venezuela e as eleições americanas?”.

O senador petista criticou a tentativa de governos estrangeiros de serem “tutores” de outras nações e rebateu uma declaração do chanceler, em que disse que Brasil e Estados Unidos tentam combater o narcotráfico em território venezuelano.

“Não tenho simpatia especial nem pelo atual e nem pelo ex-presidente da Venezuela, mas tenho repulsa à tentativa de uma nação de se pretender tutora da democracia internacional. Se Vossa Excelência está tão preocupada com o narcotráfico na Venezuela, melhor seria se a gente e preocupasse com o narcotráfico dentro do Brasil, que vitimiza tanta gente”, sugeriu Wagner.

Falas de Bolsonaro na ONU sobre queimadas

Araújo também foi cobrado pelas declarações do governo à comunidade internacional sobre as queimadas na Amazônia e no Pantanal. Ainda no primeiro bloco de perguntas, a senadora Gabrilli questionou Araújo sobre as declarações de Bolsonaro na ONU.

“O Brasil sempre foi muito respeitado internacionalmente por sua posição pacificadora. Vossa Excelência realmente entende vantajoso abrir uma Assembleia Geral da Nações Unidas fechando portas para outros países? O que o Brasil ganha com isso? Eu realmente queria entender”, cobrou a senadora.

Ela emendou com uma possibilidade: “A proximidade do Brasil é com Trump, não com os Estados Unidos. O governo está preparado caso o seu aliado não ganhe as eleições? Que medidas o Itamaraty vai tomar, isolado do resto do mundo, sem o Trump?”.

A senadora Zenaide Maia (Pros-RN) também aproveitou a presença do ministro para condenar a fala de Bolsonaro às Nações Unidas.

“Nós não estamos tendo alucinações quando dizemos que tem fogo e queimadas. Não estamos tendo alucinações quando vemos animais feridos e mortos”, enfatizou. “Ficar alfinetando outros países não é diplomacia”, instruiu a senadora ao diplomata.

Sem diplomacia

Ao atacar o governo do país vizinho ao Brasil, o chanceler brasileiro chamou de “facínora” o presidente venezuelano, Nicolás Maduro, e o comparou a um narcotraficante quando fez uma analogia para explicar a missão com Pompeo.

“Vamos supor que estamos numa rua e tem um vizinho, que é muito amigo nosso, que tem a casa invadida por narcotraficante, que praticamente escraviza o vizinho e ocupa essa casa. Vamos supor que um dos filhos do vizinho foge e vem para nosso terreno, nós o acolhemos em nossa casa. Recebemos um amigo de outra rua que também é amigo desse vizinho e falamos da situação deste vizinho”, metaforizou.

No Senado, Araújo afirmou que a visita do secretário de Estado dos Estados Unidos, Mike Pompeo, a Boa Vista (RR), na semana passada, foi um pedido do país norte-americano para «enfatizar a importância» dos dois países para a Venezuela.

Por mais que tenha legitimado o governo do deputado autoproclamado presidente Juan Guaidó, por diversas vezes, Araújo negou que Pompeu tenha ameaçado derrubar Maduro do poder, durante a visita ao Brasil. O ministro atribuiu o que ele chamou de “polêmica” em torno das declarações do estadunidense a um erro de tradução.

“Na verdade, o que ele disse em inglês foi: ‘Nossa vontade é consistente, coerente. Nosso trabalho será incansável e chegaremos ao lugar certo. Estou em Boa Vista porque estamos trabalhando juntos com o Brasil para ajudar o povo da Venezuela a superar a crise humanitária feita pelo homem, ocasionada pelo regime ilegítimo de Nicolás Maduro’. Nada foi dito que possa ser considerado nenhum tipo de ameaça, agressão ou qualquer coisa nesse sentido”, alegou.

O chanceler negou que a vinda do secretário de Trump tenha relação com as eleições presidenciais dos Estados Unidos, marcadas para novembro. “Existe, nos Estados Unidos, uma grande convergência entre republicanos. Há um amplo consenso, bipartidário, sobre a questão venezuelana. Não faz muito sentido pensar nisso [a visita de Pompeo] como plataforma eleitoral, já que não há diferenças substantivas entre republicanos e democratas”.

Brasil de Fato


Bolsonaro defende volta às aulas e ironiza ‘alta cúpula’ por pegar Covid

O presidente Jair Bolsonaro voltou a defender na noite desta quinta-feira, 24, o retorno das aulas presenciais em escolas. Em sua tradicional live semanal, desta vez transmitida de São Paulo, onde o presidente está para se submeter a uma cirurgia nesta sexta-feira, o chefe do Planalto também reafirmou que houve uma “politização” relacionada à pandemia do novo coronavírus.

Bolsonaro mais uma vez sugeriu que pessoas abaixo de 40 anos não sofrem tanto com os sintomas da Covid-19. “As aulas têm que voltar. Abaixo de 40 anos, a chance de pegar o vírus existe para todo mundo, mas uma quantidade, um porcentual enorme, não atinge em nada as pessoas, nem aquela gripezinha ela pega”. Mas, segundo o presidente, há resistência para o retorno às aulas em colégios militares. “Estamos tendo problemas em colégios militares porque tem muitos professores civis, são sindicalizados, e uma pressão enorme para o continue ficando em casa. É uma politização do vírus”, destacou.

O chefe do Planalto voltou a criticar a política de isolamento social: “É o que falava lá atrás, é tomar cuidado quem tem comorbidade, esperando uma vacina e um remédio comprovado cientificamente, mas não adianta, vai acabar pegando. E ficando em casa não resolve nada porque um dia vai ter que sair da toca, sair de casa”.

Jair Bolsonaro usou da ironia ao citar a “alta cúpula do poder” de Brasília por usar máscara de proteção facial e, mesmo assim, pegar o coronavírus. “Fico vendo Brasília, não posso falar nomes aqui, mas a alta cúpula do poder de Brasília, alguns do Executivo, do Judiciário bastante, do Legislativo também, com máscara 24 horas por dia. Dormiam com máscara, cumprimentavam assim [com ombro], pegaram o vírus agora. Não adianta isso aí”, disse.

“O que eu falava lá atrás, tomar cuidado quem tem comorbidade, esperando uma vacina, um remédio comprovado cientificamente, mas não adianta, vai acabar ficando em casa, não resolve nada, porque você um dia vai ter que sair da toca, vai ter que sair de casa e vai acabar pegando o vírus”, acrescentou, em seguida, sem citar nomes.

Eleições

Jair Bolsonaro disse ainda que, apesar de ter assumido compromisso de não se envolver nas eleições municipais, pode mudar de ideia e participar da campanha em três cidades específicas: São Paulo, Santos e Manaus.

“Eu assumi este compromisso: não entrar em eleições municipais. Se bem que a gente pode mudar de ideia também. Se chegar um ponto tal e eu achar que posso influenciar nas eleições nestas três cidades, eu vou manifestar porque acho que este candidato nosso, em chegando, tem tudo para fazer um bom mandato para o bem de São Paulo, de Santos ou de Manaus”, completou o presidente.

Queimadas

O ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, que participou da live, disse que a falta de manejo preventivo do fogo potencializou as queimadas registradas no Pantanal em 2020. O bioma é a maior planície alagada do planeta, com mais de 150 mil quilômetros quadrados. Os incêndios, este ano, já destruíram mais de 3 milhões de hectares na região.

“Quando você, fora do período seco, fora do período quente, coloca fogo de propósito e de maneira controlada pra diminuir a quantidade de matéria orgânica, resto de folha, galhos, enfim, se você não faz isso durante dois anos, que é o que vem acontecendo lá, aquele material vai se acumulando e secando de tal forma que, quando pega fogo, pega fogo numa proporção que é muito difícil de controlar porque não tomou a medida preventiva no tempo correto. E, por isso, as queimadas deste ano foram muito piores do que em períodos anteriores”, explicou.

Ricardo Salles também afirmou que não se deve responsabilizar os pecuaristas do Pantanal por atear fogo no bioma e argumentou que a criação de gado na região ajuda a controlar o acúmulo de matéria orgânica. “O pantaneiro, o pecuarista lá é um colaborador. E a pecuária ajuda a diminuir a matéria orgânica porque o gado come pasto e não deixa acumular”, apontou. Mais cedo, ele esteve na cidade pantaneira de Poconé (MT) acompanhando o trabalho de brigadistas no combate às chamas.

Já o presidente Jair Bolsonaro voltou a dizer que o Brasil é o país “que mais preserva suas florestas” e que seu governo é vítima de uma campanha internacional de desinformação que tem, segundo ele, motivações comerciais.

Veja


Manifesto de 48 entidades critica fala de Bolsonaro na ONU: ‘envergonha’

Por Carlos Madeiro

Um manifesto assinado por 48 entidades de várias áreas lançado hoje faz duras críticas ao discurso do presidente Jair Bolsonaro abertura da 75ª Assembleia Geral da ONU (Organização das Nações Unidas), na terça-feira, em que acusou índios e caboclos de serem os responsáveis pelos incêndios na Amazônia e Pantanal.

O texto diz que o pronunciamento foi «um ataque planejado e consciente, que tem a intenção falaciosa de mostrar ao mundo uma realidade que não corresponde ao que ocorre no Brasil, desde sua chegada ao governo.»

Para as entidades como a CPT (Comissão Pastoral da Terra), que assinam a nota, Bolsonaro «envergonha brasileiras e brasileiros com uma fala de apenas 14 minutos, mas repleta de inverdades.»

«São omitidos, propositalmente, números, dados e fatos em relação à destruição da Amazônia, como crimes ambientais. O discurso, desta vez em espaço internacional, não difere dos comumente dirigidos aos seus eleitores no Brasil, contudo, nesta ocasião Bolsonaro fez questão de destacar uma série de temas de extrema relevância ao Brasil e os apresentou com todos os requintes falaciosos possíveis, como forma de esconder as inúmeras denúncias contra ações e omissões danosas do seu governo», afirma o manifesto.

As entidades afirmam ainda que o discurso tenta esconder a «conivência de seu governo com o desmatamento e a grilagem de terras na Amazônia, principalmente em terras públicas.»

«O presidente acusou de forma irresponsável os indígenas e outras populações tradicionais como responsáveis pelas queimadas na Amazônia. A fala reafirma sua negação de direitos e todo seu ódio aos indígenas, quilombolas e demais povos tradicionais», diz o texto, citando que o governo não tem feito «poucas ações concretas para punir os verdadeiros responsáveis pela maioria dos crimes ambientais ocorridos repetidamente na Amazônia.»

Por fim, asseguram as entidades, a intenção do governo seria «desmontar a estrutura – já precária – dos órgãos ambientais, para atender os interesses daqueles que cometem crimes socioambientais contra a Amazônia e seu povo.»

«Bolsonaro chegou a dizer que em seu governo os crimes ambientais ‘são combatidos com rigor e determinação’, no entanto, são notórias as notícias de que, no primeiro ano de seu mandato, o número de autuações ambientais diminuiu em 34%, considerado o menor índice de autuações nos últimos 24 anos», pontua.

«Para nós, o atual governo é indigno de ocupar tal cargo e por isto manifestamos nosso protesto contra seu governo», finaliza o texto.

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