Bolsonaro no ayuda a Brasil en la ONU – O Globo, Brasil
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Bolsonaro não ajuda o Brasil na ONU
No segundo discurso que fez na abertura de uma Assembleia Geral das Nações Unidas, a 75ª, o presidente Jair Bolsonaro perdeu a chance de amenizar o mau humor mundial com o Brasil. No ano passado, distribuiu um cartão de visitas de agressividade ao defender a soberania na Amazônia — obsessão de militares —, atacar o socialismo, Venezuela, Cuba e a imprensa. Desta vez, em vídeo, até mudou de tom para apaziguar os ânimos. Mas foi na essência o mesmo Bolsonaro de sempre. Pôs a culpa dos incêndios em índios e caboclos, citou uma mirabolante “campanha de desinformação” sobre as queimadas e soltou os assovios de praxe a seus acólitos (“cloroquina”, “cristofobia” etc.).
Se Bolsonaro se mostrou mais sereno, o bolsonarismo de raiz ficou no Brasil, representado pelo ministro Augusto Heleno, que, em audiência no Supremo para tratar da questão ambiental, disse segunda-feira que não se pode atribuir ao governo a responsabilidade por desmatamentos e queimadas. As denúncias, afirmou, não passam de plano para “derrubar o presidente”.
O mesmo cacoete paranoico surgiu no discurso presidencial. Na pandemia, disse Bolsonaro, “parcela da imprensa brasileira politizou o vírus, disseminando o pânico entre a população”. Na visão delirante da mais grave epidemia em cem anos, insistiu que foi um erro promover o isolamento social e deixar “a economia para depois”. Aos mortos, só uma referência protocolar.
Como esperado, nada de reconhecer a gravidade da tragédia ambiental no país. Na última sexta-feira, escolheu logo Sinop, no Mato Grosso, para ensaiar explicações sobre uma das piores, senão a pior, temporadas de queimadas no Pantanal. Ao discursar para empresários do agronegócio, minimizou o desastre. Afirmou que o fogo de queimadas “acontece ao longo dos anos”. Só esqueceu que não na dimensão atual. O Ibama estimava que o fogo já destruíra quase 20% do bioma pantaneiro. No discurso de ontem, acusou índios e caboclos por incêndios “que ocorrem sempre nos mesmo lugares”, para preparar “roçados em em áreas já desmatadas”. Desmentiu os satélites.
Bolsonaro repetiu na ONU que as denúncias e críticas à tragédia do Centro-Oeste e da Amazônia se devem apenas à reação interesseira de concorrentes do Brasil no mercado mundial de commodities. Como considera as organizações não governamentais comunistas e desconfia da Ciência, não lê e nem ouve ponderações dos próprios empresários. A mobilização interna de grandes grupos empresariais é, por sinal, a maior esperança para que o Planalto abandone a trajetória suicida.
Queira-se ou não, os europeus, diante das motosserras e das chamas, encontraram o pretexto ideal para deixar de homologar o acordo comercial com o Mercosul. Dizem que não querem contribuir para mais devastação ao comprar carnes e grãos do bloco. Temem mesmo é competir com Brasil e Argentina. Ao compactuar com a destruição da floresta, Bolsonaro continuará a fazer a alegria dos protecionistas.