Brasil: el Ministerio Público afirma que Flavio Bolsonaro ganó un 82% más de lo declarado
MP afirma que Flávio Bolsonaro admitiu ter lucrado 82% a mais do que o declarado
O senador Flávio Bolsonaro recebeu quase o dobro dos lucros do seu sócio Alexandre Santini na loja de chocolates da Kopenhaen, franquia pertencente aos dois. Além disso, declarou uma retirada de valores 82% acima do que a própria empresa relatou à Receita Federal, conforme apuração do Ministério Público do Rio de Janeiro (MP-RJ).
Segundo reportagem de Bernardo Mello e Juliana Castro, de O Globo, o filho do presidente declarou ter retirado R$ 793,4 mil de receita nos três primeiros anos em que esteve à frente da loja, inaugurada em 2015.
No entanto, a própria empresa divulgou, em declarações de informações socioeconômicas e fiscais (DEFIS) relativas ao Simples nacional, que Flávio retirou R$ 435,6 mil no período.
Há, segundo o MP, também divergências nas retiradas de Santini. Os documentos apontam que ele declarou lucros de R$ 288,9 mil, valor mais de R$ 24 mil abaixo da transferência que a loja informou à Receita Federal.
Com isso, o MP conclui que Flávio obteve quase R$ 500 mil a mais do que Santini nos três anos iniciais de atividade da loja.
“Laranja”
Os investigadores mencionam o que chamam de a “inexplicável desproporção na distribuição de lucros” da loja, “associada à coincidência do valor da diferença paga” a Flávio Bolsonaro em relação a seu sócio. A suspeita do MP é que Santini “possa ter figurado inicialmente nos contratos como ‘laranja’”.
O órgão também aponta que o dinheiro da “rachadinha” foi lavado na loja de Flávio e em transação de imóveis. Ao todo, os promotores suspeitam que o filho do presidente tenha injetado recursos ilícitos não declarados R$ 2,27 milhões nesses dois meios.
Suspeito de lavagem de dinheiro, Flávio batalha para reduzir aluguel de loja
Cerca de 50 pessoas se reuniram num cercadinho no shopping Via Parque, na Barra da Tijuca, zona oeste do Rio, para comemorar a nova fase da franquia da marca de chocolates Kopenhagen no local. Era março de 2015, e os convidados receberam espumantes e uma rosa dos anfitriões.
Os empreendedores do negócio são o hoje senador Flávio Bolsonaro (sem partido-RJ), na época deputado estadual do Rio de Janeiro, e o empresário Alexandre Santini.
Entre os convidados estavam o hoje presidente Jair Bolsonaro, o deputado Wagner Montes, morto neste ano, o deputado estadual Bebeto (Podemos), o técnico Carlos Alberto Parreira, o então assessor parlamentar Fabrício Queiroz e sua filha Evelyn, entre outros. “Foi um evento simples, nada de mais”, disse o técnico do tetracampeonato.
Um dos fiadores do aluguel, o vereador do Rio Carlos Bolsonaro (PSC) não aparece nas fotos da inauguração que Flávio mantinha em sua página do Facebook até a sexta-feira (20), quando as tirou do ar.
Quase cinco anos depois, o empreendimento, que é alvo de uma devassa do Ministério Público do Rio de Janeiro, passa por percalços.
A Promotoria suspeita que o negócio era usado para lavar dinheiro de suposta “rachadinha” do gabinete de Flávio na Alerj (Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro). Nesse tipo de esquema, os funcionários são coagidos a devolver parte do salário que recebem.
Na última quarta (18), agentes foram ao local cumprir mandados de busca e apreensão para recolher documentos para a investigação.
Em meio a isso, os dois sócios lutam na Justiça para reduzir o aluguel do espaço pelo próximo quinquênio, a partir de fevereiro.
A Bolsotini Chocolates e Café entrou com uma ação contra o shopping Via Parque para tentar reduzir o valor mensal de R$ 11.413,54 para R$ 9.000.
No tribunal, Bolsonaro e Santini —cuja junção dos sobrenomes forma o nome da empresa— tiveram no mesmo dia uma péssima notícia: o shopping não só recusou a proposta como quer aumentar o aluguel para R$ 12.200. O caso deve ser submetido a uma perícia judicial.
Até ter os sigilos bancários e fiscal quebrados em abril, a Bolsotini teve poucos problemas na Justiça. Dois processos trabalhistas terminaram arquivados. Também foi julgada improcedente uma ação por danos morais de uma consumidora que disse ter comprado produtos vencidos na loja.
A Kopenhagen do Via Parque não é a primeira sociedade de Santini com “famosos”. Em 2012, ele se tornou parceiro de negócios do técnico Parreira na empresa Next Global.
A importadora tinha como meta importar veículos de forma segura para jogadores de futebol. O negócio não deu certo e, segundo o ex-treinador, Santini deixou a sociedade em 2014.
Meses depois, abriu a loja de chocolates com o hoje senador. Ainda assim, a Next Global foi alvo de quebra de sigilo bancário e fiscal de 2013 a 2018.
Nas redes sociais, Santini parece ser mais do que um sócio. Ele publicou fotos dentro do Senado, ao lado do ministro Augusto Heleno (Gabinete de Segurança Institucional) na recepção do Itamaraty e no condomínio Vivendas da Barra, onde moram o presidente e o irmão de Flávio, o vereador Carlos Bolsonaro.
“BOLSONAROS – Me representam e são meus irmãos”, escreveu ele numa das postagens em que aparecem Flávio, Carlos e Rogéria Nantes, mãe dos dois irmãos e ex-mulher do presidente.
Santini também teve as portas abertas no camarote do governador do RJ, Wilson Witzel (PSC), no Sambódromo, durante o Carnaval, e travou uma amizade próxima com o vice Cláudio Castro (PSC).
Com o azedume no clima entre o clã Bolsonaro e Witzel, o empresário também teve sua briga particular com os poderosos fluminenses.
Em uma rede social, Santini publicou uma foto do governador de São Paulo, João Doria (PSDB), almoçando com uma pessoa que supostamente seria Witzel, acompanhada da chamada: “Almoço de ‘negócios’”. Doria e Witzel são vistos como possíveis adversário de Bolsonaro na disputa pela Presidência em 2022.
Castro o repreendeu por WhatsApp, negando ser Witzel na foto. “Vc perdeu o meu respeito. Te considerava muito”. Santini respondeu: “Gosto de vc. Mas defendo os Bolsonaro pelo Brasil”.
Santini também teve a quebra de sigilo bancário e fiscal autorizada pelo juiz Flávio Itabaiana no âmbito da investigação sobre o esquema de “rachadinha” na Alerj. A Promotoria investiga a prática de lavagem de dinheiro, peculato, ocultação de patrimônio e organização criminosa.
O Ministério Público suspeita do volume de dinheiro vivo que circulava na franquia de Bolsonaro e Santini. A estimativa da Promotoria é que o senador tenha lavado R$ 1,6 milhão por meio da empresa.
Os depósitos de dinheiro em espécie nas contas da loja teriam como objetivo “esquentar” os recursos obtidos ilegalmente, segundo a Promotoria. Eles poderiam simular vendas fictícias feitas pela empresa, dando aparência legal ao recebimento.
Desde que Flávio assumiu a franquia até 2018, o volume de depósitos em dinheiro foi o equivalente a cerca de 37,5% dos recebimentos por cartões de débito e crédito.
Em depoimento ao Ministério Público, o antigo proprietário da loja afirmou que, na sua gestão, essa proporção costumava girar em torno de 20%.
Os promotores recorreram ainda à auditoria feita por shoppings nas lojas para cálculo do aluguel, que considera o faturamento do estabelecimento. A fiscalização costuma ser feita também presencialmente, para contabilizar as vendas realizadas.
O volume de créditos efetivos nas contas da loja superou em 25% o faturamento auferido pelos fiscais do shopping de 2015 a 2018.
O senador negou os crimes que lhe são atribuídos. Disse que o uso de dinheiro vivo é comum nesse tipo de estabelecimento. Afirmou ainda que não faria sentido lavar dinheiro numa franquia, que é submetida a auditoria da marca.
A Kopenhagen negou, contudo, que realize qualquer “tipo de auditoria fiscal com seus franqueados, que são pessoas jurídicas totalmente independentes da franqueadora”.
“A marca afirma que possui um amplo manual de normas e procedimentos operacionais, já que preza a padronização de toda a rede de franquias e a garantia de qualidade. Esses aspectos operacionais são auditados pelo grupo a fim de preservar os atributos do ponto de venda, mantendo a excelência dos processos”, disse a Kopenhagen, em nota.
A loja de Flávio ostenta uma placa de 3º lugar no PEK (Programa de Excelência Kopenhagen), uma premiação dada pela marca às franquias que se destacam. A marca não soube informar na sexta-feira (20) a razão da premiação.
ENTENDA A INVESTIGAÇÃO SOBRE O FILHO DO PRESIDENTE
Como começou a apuração que atingiu Flávio Bolsonaro?
Na Operação Furna da Onça, da Lava Jato do Rio, que abordava o pagamento de propina a deputados estaduais pelo ex-governador Sérgio Cabral. Relatório do antigo Coaf, órgão de inteligência financeira, feito no âmbito dessa investigação mencionava movimentações financeiras atípicas dos assessores dos deputados estaduais, incluindo Fabrício Queiroz, ex-PM que até 2018 foi funcionário comissionado de Flávio na Casa. Em janeiro de 2018, o MP-RJ recebeu dados dessa operação e abriu investigações. Flávio foi deputado estadual de 2003 a 2019
Quais os novos indícios apontados pelo MP-RJ?
A Promotoria realizou na quarta (18) operação que teve como alvo Flávio, Queiroz e outros ex-assessores do gabinete, por meio de mandados de busca e apreensão. Segundo o MP-RJ, Flávio lavou até R$ 2,3 milhões com transações imobiliárias e sua loja de chocolates, mantida em um shopping no Rio. Para a Promotoria, a origem desses recursos é o esquema de «rachadinha» no antigo gabinete de Flávio, operado por Queiroz
Qual o elo com Jair Bolsonaro?
Entre as transações de Queiroz, está um cheque de R$ 24 mil para Michelle Bolsonaro, a primeira-dama. Jair disse que ela recebeu o cheque porque o ex-PM estava pagando parte de uma dívida de R$ 40 mil que tinha com ele
Questões sem resposta
- Quem eram os assessores informais que Queiroz afirma ter remunerado com o salário de outros funcionários do gabinete de Flávio?
- Por que o único assessor que prestou depoimento ao MP-RJ não confirmou essa versão de Queiroz?
- Como Flávio desconhecia as atividades de um dos seus principais assessores por dez anos?
- Por que Jair Bolsonaro teria emprestado dinheiro a Queiroz, que costumava movimentar centenas de milhares de reais?
- De que forma foi feito esse empréstimo e onde está o comprovante?
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