Brasil: denuncian el asesinato de líder indígena en la Amazonía

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Após morte de líder, organização indígena afirma que ‘Bolsonaro tem sangue em suas

Para a Apib (Associação dos Povos Indígenas no Brasil), o “governo Bolsonaro tem sangue indígena em suas mãos”. Por meio de nota, a associação acusa o atual governo de negligência e lamenta o assassinato do líder indígena Paulo Guajajara, morto na sexta-feira (1), após emboscada de madeireiros.

“O aumento da violência em territórios indígenas é resultado direto de seus discursos odiosos e medidas tomadas contra nosso povo”, afirmou a organização, em comunicado enviado à imprensa, ao citar o presidente.

A organização ainda destaca que os povos indígenas “são responsáveis ​​por preservar 80% da biodiversidade, bem como por combater a crise climática, que é um dos maiores problemas enfrentados pela humanidade no século XXI”.

“Onde há povos indígenas, há florestas. Portanto, um ataque aos nossos povos representa um ataque a todas as sociedades e ao futuro das próximas gerações. Precisamos parar a escalada dessa política genocida contra nossos povos indígenas no Brasil”, pede a organização.

Paulo Guajajara foi morto com um tiro no rosto durante emboscada feita por madeireiros na Terra Indígena Arariboia, na região de Bom Jesus das Selvas, entre as Aldeias Lagoa Comprida e Jenipapono, no Maranhão. Etnias Ka’apor, Guajajaras e Awá-Guajás vivem no local, que faz parte da Amazônia Legal.

Conhecido como Kwahu Tenetehar, ele era integrante de um grupo de agentes florestais indígenas autodenominados “Guardiões da Floresta” que, desde 2012, tentam proteger a região do desmatamento e ações criminosas de grileiros e madeireiros por conta própria e é composto por 180 indígenas.

Na ação que vitimou Paulo, outro líder indígena, Laércio Guajajara, conhecido como Tainaky Tenetehar, que também é “guardião da floresta”, foi baleado, mas sobreviveu ― ele levou tiros nas costas e nos braços, e está em recuperação.

A morte do líder indígena foi confirmada pelo governo do Maranhão, por meio da Secretaria de Estado dos Direitos Humanos e Participação Popular. Ontem, o governo local deslocou equipes para apurar o caso e proteger os ameaçados, junto com a Secretaria de Segurança Pública.

Na manhã de ontem, o ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro, afirmou em sua conta no Twitter, que a Polícia Federal vai apurar o assassinato.

“Não pouparemos esforços para levar os responsáveis por este crime grave à Justiça”, disse Moro. Segundo a assessoria de imprensa do ministério, equipe da PF está se preparando para ir ao local onde ocorreu o assassinato.

O governador do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB), disse também pelo Twitter que a “competência para apurar crimes contra direitos indígenas, em face de suas terras, é federal”. Disse ainda que “desde ontem a Polícia do Maranhão está colaborando com investigações sobre crimes na TI Arariboia”.

O presidente Jair Bolsonaro, que teve nome citado em investigação do caso Marielle Franco nesta semana, não se pronunciou sobre o tema até o momento. A coordenadora executiva da Apib, Sonia Guajajara, também por meio de nota, afirmou que o governo está desmantelando agências ambientais e indígenas e deixando tribos para se defender da invasão de suas terras.

“Mais um de nossos guerreiros perde a vida em defesa do Território. Não queremos mais ser estatística. Queremos providências do Poder Público”,disse a ex-candidata a vice-presidência da República pelo Psol. ”É hora de dar um basta nesse genocídio institucionalizado. Parem de autorizar o derramamento de sangue de nosso povo.”

Atualmente, oito líderes indígenas da Apib, entre eles as líderes indígenas Sônia Guajajara e Célia Xakriabá, estão em viagem pela Europa para denunciar a grave crise de direitos humanos enfrentada pelos povos indígenas do Brasil.
Intitulada “Sangue indígena: nem uma gota a mais”, a campanha pede às autoridades e líderes empresariais da Europa que respondam à crescente violência e devastação ambiental na Amazônia e em todo o país.

Os Guajajaras, um dos maiores grupos indígenas do Brasil, com cerca de 20 mil habitantes, criaram os Guardiões da Floresta para patrulhar uma vasta reserva. A área é tão grande que uma tribo pequena e ameaçada de extinção, os Awá Guajá, vive nas profundezas da floresta sem nenhum contato com o mundo exterior.

Paulo Paulino Guajajara, que estava na casa dos vinte anos e deixa um filho, disse à Reuters em entrevista na reserva em setembro que proteger a floresta dos intrusos havia se tornado uma tarefa perigosa, mas seu povo não podia ceder ao medo.

″Às vezes, tenho medo, mas temos que levantar a cabeça e agir. Estamos aqui lutando”, disse, enquanto ele e outros guerreiros se preparavam para atravessar a floresta em direção a um campo de corte de madeira. “Estamos protegendo nossa terra e a vida nela, os animais, os pássaros e até os Awá [pessoas] que também estão aqui”, disse na época.

A morte do líder indígena ocorre em meio a um aumento nas invasões em reservas por madeireiros e grileiros ilegais desde que Jair Bolsonaro assumiu a presidência e prometeu abrir terras indígenas protegidas para o desenvolvimento econômico.

“Há tanta destruição da natureza acontecendo, boas árvores com madeira tão dura quanto aço sendo cortadas e levadas. Temos que preservar esta vida para o futuro dos nossos filhos”, disse Paulino à Reuters.

Segundo o G1, em setembro, lideranças das etnias que vivem na região denunciaram às autoridades que estavam sendo alvo de ameaças de madeireiros instalados dentro da reserva indígena.

Nesta mesma época, os “Guardiões da Floresta” realizaram a apreensão de quatro caminhões, duas motos e uma moto serra que estavam sendo utilizados na extração ilegal de madeira das terras indígenas.

″É fundamental que as autoridades realizem uma investigação completa e independente sobre o ataque, e haja punição dos responsáveis, além de proteção imediata ao povo Tenetehara”, apontou a Human Rights Watch, organização em defesa dos direitos humanos sobre o caso.

Segundo a organização, o nome de Paulo Guajajara se soma a uma longa lista de mais de 300 pessoas assassinadas durante a última década no contexto de conflitos pelo uso da terra e de recursos naturais na Amazônia – muitas delas por pessoas envolvidas na extração ilegal de madeira – de acordo com dados compilados pela Comissão Pastoral da Terra (CPT).

“O Brasil precisa adotar medidas urgentes contra os madeireiros que intimidam, ameaçam, atacam e até matam aqueles que, como Paulo Paulino e Laércio tentam proteger a floresta, que é património de todos os brasileiros”, disse.

Os números da violência contra povos indígenas no Brasil

Segundo o Relatório Violência Contra os Povos Indígenas no Brasil – Dados de 2017, do Conselho Indigenista Missionário (Cimi), no último ano foram registrados 109 casos de “invasões possessórias, exploração ilegal de recursos naturais e danos diversos ao patrimônio”, enquanto em 2017 haviam sido registrados 96 casos. De acordo com o Cimi, nos nove primeiros meses de 2019, foram contabilizados 160 casos do tipo em terras indígenas do Brasil.

Também houve um aumento no número de assassinatos registrados (135) em 2018, sendo que os estados com maior número de casos foram Roraima (62) e Mato Grosso do Sul (38). Em 2017, haviam sido registrados 110 casos.

Além dos dados, ações recentes do governo federal têm colocado essa questão em pauta. Recentemente, o STF (Supremo Tribunal Federal) manteve a suspensão da medida provisória que transferiu a demarcação de terras indígenas para o Ministério da Agricultura. Assim, voltou a ser atribuição da Funai (Fundação Nacional do Índio), ligada ao Ministério da Justiça.

As denúncias de invasão de territórios indígenas têm sido recorrentes desde o início do ano. Em julho, o conselho da etnia Waiãpi denunciou a invasão da Terra Indígena Waiãpi, no oeste do Amapá, e o assassinato  do cacique Emyra Waiãpi no local. Agentes da Polícia Federal e da Secretaria de Segurança Pública não encontraram a presença de garimpeiros e invasores na região.

Huff Post


Quem é o líder indígena morto em confronto com madeireiros no Maranhão

Pedro Paulino Guajajara era líder do grupo de defesa da Amazônia “Guardiões da Floresta”. Ele tinha 26 anos e foi assassinado a tiros em Bom Jesus das Selvas, na noite de sexta-feira 1, no Maranhão, durante confronto com madeireiros. Paulino estava com Laércio Guajajara, que ficou ferido no ataque.

Ambos eram integrantes dos Wazayzar, também conhecidos como “Guardiões da Floresta”, do povo Tenetehara. Segundo informação preliminar, os guardiões foram vítimas de uma emboscada por madeireiros no interior da Terra Indígena Araribóia, no Maranhão. Um madeireiro também pode ter morrido no confronto.

Candidata a vice-presidência da República pelo PSOL em 2018, a líder Sonia Guajajara pediu o fim do genocídio institucionalizado ao comunicar a morte de Paulino pelo Twitter. “Parem de autorizar o derramamento de sangue de nosso povo”, escreveu.

A morte do líder indígena ganhou destaque em sites de notícias da França neste domingo 3. Para a imprensa francesa, esse tipo de crime contra indígenas vem se multiplicando desde que Jair Bolsonaro foi eleito.

O site do jornal Le Monde destaca que Paulo era líder do grupo de defesa da Amazônia “Guardiões da Floresta” e que o drama ocorreu em um dos Estados mais afetados pelos incêndios e a exploração madeireira ilegal.

O Le Monde reproduz um trecho do comunicado divulgado pela organização Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib), que indica que o líder indígena foi morto com um tiro na cabeça. “Um outro membro do ‘Guardiões da Selva’, Laércio Guajajara, foi ferido no ataque”, reitera a matéria.

O jornal La Croix publica que o assassinato aconteceu quando Paulo e Laércio se afastaram da localidade indígena de Arariboia para buscar água. Eles foram cercados por ao menos cinco homens armados. “Laércio foi atingido nas costas por uma bala, mas conseguiu fugir”, ressalta a matéria.

160 intrusões de madeireiros ilegais em 2019

O La Croix lembra que confrontos entre madeireiros e indígenas se tornaram frequentes na Amazônia. “Segundo dados do Congresso Indigenista Missionário (Cimi), 160 intrusões de traficantes de madeira ou exploradores ilegais foram recenseados de janeiro a setembro deste ano, uma alta de 44% em relação ao total de 2018”, publica.

O site da France Info afirma que esse tipo de ataque se multiplica desde a chegada ao poder do presidente Jair Bolsonaro, que prometeu diminuir a demarcação de terras indígenas para a exploração delas. “O governo Bolsonaro tem sangue indígena em suas mãos, o aumento da violência nos territórios indígenas é reflexo direto de seu discurso de ódio e medidas contra os povos indígenas do Brasil”, afirma a Apib em comunicado reproduzido pela France Info.

A matéria também indica que a tribo Guajajara formou em 2012 o grupo “Guardiões da Selva”, que patrulha a reserva de Arariboia. “Paulo Paulino tinha 26 anos e fazia parte desta organização formada para defender a floresta amazônica onde vivia”, ressalta.

O ministro da Justiça e da Segurança Pública, Sergio Moro, afirmou que o homicídio será investigado. “A Polícia Federal irá apurar o assassinato do líder indígena Paulo Paulino Guajajara na terra indígena de Arariboia, no Maranhão. Não pouparemos esforços para levar os responsáveis por este crime grave à Justiça”, publicou em sua conta no Twitter.

HRWn cobra ação contra madeireiros

O pesquisador sênior da Human Rights Watch, César Muñoz, divulgou uma nota em que cobra as autoridades brasileiras uma “investigação completa e independente sobre o ataque”. “É fundamental que as autoridades realizem uma investigação completa e independente sobre o ataque, e haja punição dos responsáveis, além de proteção imediata ao povo Tenetehara”, escreveu.

Veja abaixo a nota na íntegra:

“Causam profunda tristeza a morte de Paulo Paulino Guajajara e os ferimentos sofridos por Laércio Souza Silva, integrantes dos Wazayzar, também conhecidos como “guardiões da floresta”, do povo Tenetehara. Segundo informação preliminar, os guardiões foram vítimas de uma emboscada por madeireiros no interior da Terra Indígena Araribóia, no Maranhão. Um madeireiro também pode ter morrido no confronto.

É fundamental que as autoridades realizem uma investigação completa e independente sobre o ataque, e haja punição dos responsáveis, além de proteção imediata ao povo Tenetehara.

A TI Araribóia abriga um dos últimos redutos de floresta amazônica no estado do Maranhão. Os guardiões começaram a monitorar o território, cansados de ver como madeireiros e fazendeiros destruíam a floresta com total impunidade, pela passividade das autoridades. Nos últimos anos, os guardiões Tenetehara têm sofrido dezenas de ameaças de morte.

O nome de Paulo Paulino Guajajara se soma a uma longa lista de mais de 300 pessoas assassinadas durante a última década no contexto de conflitos pelo uso da terra e de recursos naturais na Amazônia – muitas delas por pessoas envolvidas na extração ilegal de madeira – de acordo com dados compilados pela Comissão Pastoral da Terra (CPT).

O Brasil precisa adotar medidas urgentes contra os madeireiros que intimidam, ameaçam, atacam e até matam aqueles que, como Paulo Paulino e Laércio tentam proteger a floresta, que é patrimônio de todos os brasileiros”.

Carta Capital


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