Corrupção – Por Fernando Haddad

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Por Fernando Haddad (*)

Diante do desmonte de órgãos de Estado promovido pelo atual governo, um membro da força-tarefa da LavaJato disse numa entrevista à GloboNews que aquele grupo apoiou Bolsonaro para evitar o fim da operação que, segundo ele, eu patrocinaria se ganhasse a eleição.

Antes de tudo, não custa lembrar que Sergio Moro, quando condenou Lula, apontou o ex-presidente como aquele que fortaleceu como poucos as instituições de combate à corrupção, como a Receita Federal, a Polícia Federal, o Coaf, a CGU, a PGR etc., hoje enfraquecidas com sua complacência.

Esta Folha, diga-se, fez reportagem, bem antes das eleições, sobre a inexplicável evolução patrimonial do clã Bolsonaro, origem das investigações recém-paralisadas que tinham por alvo o milionário acervo de bens imóveis transacionados pelo senador Flávio Bolsonaro, para não falar de Fabricio Queiroz e seu “comércio” de veículos, tão ignorado quanto era o seu paradeiro até ontem.

No que me diz respeito, minhas iniciativas no combate à corrupção são bem anteriores ao início da Operação Lava Jato, e eu jamais deixaria de apoiar iniciativas de moralização do serviço público, como demonstra minha conduta à frente do MEC e da Prefeitura de São Paulo.

A criação da Controladoria-Geral do Município de São Paulo foi um marco histórico.

Nos primeiros meses da minha administração, desbaratamos a máfia do ISS, que desviou quantia estimada em meio bilhão de reais dos cofres públicos. Recuperamos boa parte daquele dinheiro, punimos corruptores e afastamos dezenas de auditores fiscais, parte dos quais já processados e sentenciados.

Suspendemos a construção do túnel Roberto Marinho a partir da mera suspeita de que a obra estava superfaturada. Odebrecht, UTC e outras empreiteiras foram contrariadas, sendo que a primeira, em acordo de leniência firmado anos depois, confirmou a formação de cartel na licitação da obra, ocorrida muito antes da minha posse.

Tomamos todas as medidas necessárias para pôr fim à inspeção veicular. O Ministério Público tentou, por anos, questionar, sem sucesso, o contrato firmado ainda na gestão Pitta. Só no nosso governo, por determinação do Executivo municipal, o caça-níqueis da Controlar deixou de funcionar.

Tudo isso aconteceu antes da Lava Jato.

O que incomoda na Lava Jato é a sua seletividade e falta de transparência, sugerida, por exemplo, por esta mensagem de membro da força-tarefa captada pelo site The Intercept Brasil: “meus vazamentos objetivam sempre fazer com que pensem que as investigações são inevitáveis e incentivar a colaboração”.
Como se vê, a Lava Jato, nem de longe, detém o monopólio da virtude.

(*) Fernando Haddad é professor universitário, ex-ministro da Educação nos governos Lula e Dilma, e ex-prefeito de São Paulo

*Artigo publicado originalmente na Folha de S. Paulo

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