Brasil a la derecha – Diario Folha de S. Paulo

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Na eleição presidencial tida como a mais imprevisível desde 1989, passaram ao segundo turno as duas forças políticas que se destacavam nas pesquisas desde o ano passado.

A surpresa, só devidamente dimensionada depois do fechamento das urnas, foi a impressionante onda que se formou nos momentos finais em favor de Jair Bolsonaro (PSL) e de seus aliados nos pleitos estaduais e legislativos.

Por pouco o capitão reformado, que passou a maior parte da campanha recolhido, vítima de um abominável ataque a faca, não saiu vencedor já neste domingo (7). Os votos do Nordeste, onde ainda se impõe a força do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), levaram Fernando Haddad à rodada final.

Bolsonaristas de origem ou de ocasião surpreenderam nos maiores colégios eleitorais do país. Em São Paulo, o correligionário Major Olímpio apareceu à frente na disputa pelo Senado. Finalista e em tese favorito na corrida ao Bandeirantes, o tucano João Doria já declarou apoio ao capitão.

Em Minas Gerais, Romeu Zema (Novo) passou ao segundo turno na primeira colocação, dias depois de declarar apoio ao capitão; no Rio de Janeiro, Wilson Witzel (PSC) disparou à frente do ex-prefeito da capital Eduardo Paes (DEM), com quem fará o confronto definitivo.

Se as eleições municipais de 2016 já mostravam uma guinada conservadora do eleitorado, agora caminhou-se mais à direita —e com rejeição a líderes mais tradicionais.

Com uma pregação tosca, de tons frequentemente autoritários, e um programa ultraliberal encampado na última hora, Bolsonaro conquistou ampla vantagem nas regiões Sudeste, Sul e Centro-Oeste, tomando redutos que haviam escolhido o PSDB há quatro anos.

O PT, embora tenha chegado ao segundo turno da eleição presidencial pela quinta vez consecutiva, sofreu derrotas cruciais —que agora põem em xeque o sucesso da estratégia nacional arquitetada desde a prisão de Lula.

Subestimou-se, de maneira geral, a intensidade da rejeição ao partido, em particular nos grandes centros urbanos e entre os eleitores de renda alta e média. Dilma Rousseff (MG) e Eduardo Suplicy (SP) perderam vagas dadas como certas no Senado; Fernando Pimentel deixará o governo mineiro.

Haddad se amparou exclusivamente no prestígio do líder único e imutável da legenda —que não fez a autocrítica pela corrupção em seus governos nem soube oxigenar seu pensamento econômico.

Falta muito ao PT, neste momento, para liderar uma esquerda com agenda factível, assim como Bolsonaro ainda não mostrou preparo e consistência para conduzir a direita emergente. Um segundo turno radicalizado não será a melhor chance para que ambos demonstrem sua capacidade de governar.

Folha de S. Paulo


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