Brasil: las mujeres contra Bolsonaro y la dimensión de la acción en las redes
Los conceptos vertidos en esta sección no reflejan necesariamente la línea editorial de Nodal. Consideramos importante que se conozcan porque contribuyen a tener una visión integral de la región.
As mulheres contra Bolsonaro. E a dimensão da ação nas redes
Por Juliana Domingos de Lima(*)
As mulheres são uma das grandes barreiras para a candidatura de Jair Bolsonaro à Presidência da República. Entre elas, o índice de rejeição ao capitão da reserva é alto: gira em torno de 50%, segundo as pesquisas.
No mês que antecede a votação de 7 de outubro, uma mobilização virtual, que promete desembocar num protesto de rua no fim de setembro, veio engrossar o discurso contra o nome do PSL. O grupo de Facebook intitulado “Mulheres Unidas Contra Bolsonaro” contava com 2,5 milhões de participantes, a 20 dias da eleição. Outros grupos e páginas de proposta semelhante foram criados e atos contra Bolsonaro convocados para várias cidades no dia 29 de setembro.
A mobilização desencadeou também um movimento em direção contrária. Na terça-feira (11), foi criado o grupo “Mulheres com Bolsonaro #17 (oficial)”, que conta com mais de 700 mil participantes.
O ataque hacker e a guerrilha virtual
O grupo “Mulheres Unidas Contra Bolsonaro” foi hackeado no sábado (15). O ataque aconteceu depois de o deputado federal Eduardo Bolsonaro, um dos filhos do candidato do PSL, e Hamilton Mourão, candidato a vice na chapa, terem acusado o grupo de ser “fake”. “Essa rede aí que apareceu dizendo que tinha 800 mil mulheres contra o Bolsonaro, a gente sabe que aquilo ali é uma coisa fake. Ela era um site, foi comprado por um grupo de opositores e que se apropriou daquilo ali. Essa é a realidade e nós estamos até aprofundando os nossos dados sobre isso”, disse Mourão, segundo o jornal El País. O grupo teve seu nome alterado para “Mulheres com Bolsonaro #17”, a foto de capa da página foi trocada para umaimagem do candidado do PSL, com uma bandeira do Brasil, e as administradoras foram excluídas. Houve confusão entre os participantes. O Facebook tirou o grupo do ar e, no dia seguinte, foi restabelecido. Em meio à confusão, a hashtag #MulheresContraOBolsonaro foi parar nos trending topics mundiais do Twitter. As hashtags #EleNão, #EleNunca e #MeuBolsominionSecreto também têm sido usadas para protestar nas redes contra o candidato e seus eleitores. Em resposta, apoiadores têm usado as hashtags #MulheresComBolsonaro, #MilhoesComBolsonaro e #MinhaFeministaSecreta.
De onde vem a resistência
O candidato do PSL é réu de uma ação penal movida a partir de um episódio envolvendo a deputada federal Maria do Rosário (PT-RS), na qual ele responde pelo crime de incitação ao estupro. Em 2014, Bolsonaro disse à deputada que não a estupraria porque “ela não merece”, ao rebater um discurso feito pela petista no plenário da Câmara. Na ocasião, Rosário defendia a Comissão da Verdade e as investigações dos crimes da ditadura militar. O presidenciável também já afirmou, em diferentes ocasiões, que não há problemas no fato de mulheres ganharem salários menores do que os dos homens. Quem deve regular isso, segundo o candidato, é o mercado, a partir de garantias dadas pela CLT (Consolidação das Leis do Trabalho). Na segunda-feira (17), o general da reserva Hamilton Mourão (PRTB), vice na chapa de Bolsonaro à Presidência, disse que famílias pobres sem pai e avô, só com mãe e avó, são “fábricas de desajustados”, que fornecem mão de obra ao narcotráfico.
‘Feminismo colonizou bem espaço online’
O Nexo ouviu Esther Solano, socióloga e professora da Universidade Federal de São Paulo, sobre a mobilização contra e a favor do candidato e o protagonismo do “anti” nas eleições de 2018.
Como você vê a mobilização em torno de Bolsonaro nos grupos de Facebook? É possível mensurar a dimensão real desses movimentos?
ESTHER SOLANO -já Eu sempre digo que os movimentos online, na verdade, são reais. É uma outra faceta da realidade, mas a vida online também é real. O que não dá pra mensurar exatamente é a quantidade de pessoas que vão estar nas ruas no dia 29. Mas já dá pra dizer que é uma mobilização histórica. Porque é uma mobilização muito grande contra um candidato e fundamentalmente feminina. Quer dizer, foi começada pelas mulheres mas agora há vários grupos: LGBTs, negros, evangélicos contra Bolsonaro. Acho que há algumas questões a serem estudadas: o Brasil é um país ainda muito patriarcal, muito machista na política, está atrás até de países árabes nos índices de representação feminina no Parlamento. É interessante porque [esse movimento] é um pouco uma resposta. As mulheres não estão representadas na política institucional, mas participam muito da política. Uma outra questão é que, diante de um candidato altamente antidemocrático como o Bolsonaro, o voto feminino tem possibilidade de definir a eleição, porque a maior parte dos indecisos são mulheres e a oposição a Bolsonaro também é muito feminina. É um voto que está contra o fascismo e a barbárie – as mulheres estão se colocando à frente da luta contra o fascismo. É muito mais do que uma lógica partidária clássica, é mais uma lógica de proteção da democracia.
Já houve alguma mobilização expressiva contra um candidato específico em eleições, ou é algo inédito?
ESTHER SOLANO – Nos Estados Unidos houve [um movimento de] mulheres contra [Donald] Trump, mas acho que não foi tão grande. Me parece que, com outros candidatos da extrema direita, o voto foi mais oculto. Como com o Trump, diziam que não votariam nele, mas depois votaram. Acho que a diferença, no Brasil, é que a eleição já ficou muito despudorada. As pessoas que votam no Bolsonaro já declararam seu voto. A questão não é só o Bolsonaro, mas as pessoas que irão votar nele, têm um discurso abertamente violento, abertamente de ódio. Não é uma coisa dentro do armário, sutil. É algo muito aberto, muito exposto. Esse discurso de ódio estar exposto cria uma reação muito forte. E o papel das redes sociais favorece e possibilita isso.
Qual o lugar do ‘anti’ nessas eleições e na política brasileira?
ESTHER SOLANO – Essa questão, que a gente chama de voto negativo ou democracia negativa, é algo que sempre houve em países com uma baixa confiança na democracia institucional, como é o caso do Brasil, em que, historicamente, os índices de confiança nos partidos, no Congresso, na presidência são baixos. Então, há um índice alto desse voto negativo, do “anti”. Mas agora aumentou muito, justamente porque há, a nível mundial, uma crise democrática muito forte. É o que eu chamo sempre de “politização da antipolítica”. Há o antipetismo e mesmo [um comportamento] antipolítica de forma geral, “contra tudo que está aí”. Há também um voto muito antiesquerda, uma reação muito forte da direita. Acho que isso é importante: no Brasil há o antipetismo mas há também muito anti-esquerdismo, uma direita muito potente, que reclama os valores da tradição, da família, da ordem. Por último, há [aqueles que são] antifeminismo, anti-LGBT etc. Essa nova direita é muito anti-identitária. As pautas do movimento antirracista, feminista e LGBT ganharam muito impacto político socialmente e a nova direita é muito reacionária contra elas. Junta essas três coisas: antipolítica, de forma geral, antiesquerdismo/antipetismo e pautas anti-identitárias.
Qual o papel da internet na disseminação disso?
ESTHER SOLANO – As redes sociais têm um papel muito importante na polarização. Há o efeito de bolha, uma lógica muito dividida entre os eleitores, entre diferentes grupos, e muito pouca comunicação com ideias diversas. Tem pouco debate nas redes sociais. Por outro lado, há o fenômeno das fake news, que é muito forte também. Disseminar uma informação contra o outro, mas caluniosa. Há um acirramento político na internet, que primeiro invisibiliza o outro, porque o próprio algoritmo não te deixa ver o outro, e porque há essa lógica do inimigo, que é violenta.
Quais mobilizações semelhantes, lideradas por mulheres, antecedem esta? Você vê uma ligação?
ESTHER SOLANO – O movimento feminista brasileiro está muito atuante nos últimos anos. Estou me lembrando do movimento das mulheres contra [Eduardo] Cunha [em 2015]. Esse para mim também foi um movimento histórico, e tem as mesmas características: feminista, contra determinado sujeito claramente patriarcal, antidemocrático, misógino, institucional, que representa toda a velha política clássica brasileira. E o movimento feminista brasileiro colonizou muito bem o espaço online, se posicionou de maneira muito forte na internet. Teve as campanhas “meu primeiro assédio”, “meu amigo secreto”. Também é importante pensar que há mulheres que votam no Bolsorano. Entrevistei várias delas e acho que o contraponto é interessante. Dizem que votam nele porque são antifeministas, veem o movimento feminista como uma coisa exagerada, violenta, agressiva. Rotulam negativamente o movimento e o culpam pelos problemas do próprio machismo. Também são mulheres que rejeitam muito a luta coletiva por direitos, pensam que a saída é a via do indivíduo, do trabalho, da meritocracia, do esforço. O feminismo tem que encarar esse problema, a negação do próprio termo.
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