Eleições em Lima: candidatos e prontuários – Por Mariana Álvarez Orellana

851

Por Mariana Álvarez Orellana*

As eleições municipais de Lima se realizarão no dia 7 de outubro e servirão para escolher o prefeito da capital peruana e dos subprefeitos dos diferentes distritos. Na semana passada, vários partidos realizaram suas eleições primárias, algumas restritas somente à militância e outras de carácter aberto, onde todos os cidadãos foram convidados a participar.

A pouco mais de cem dias das eleições, o ex-congressista Renzo Reggiardo, empresário e filho do líder fujimorista Andrés Reggiardo – se mantém na liderança das pesquisas, com 9% das intenções de voto, seguido pelo ex-prefeito Ricardo Belmont, pelo ex-ministro do Interior Danielo Urresti e pelo ex-ministro dos Transportes Enrique Cornejo, todos com 8%. O ex-congressista e pastor evangélico Humberto Lay aparece em quinto lugar, com 7% e Alberto Beingolea fica com 5%.

Depois dos processos internos, restaram 18 candidatos ainda na corrida para definir quem será o sucessor de Luis Castañeda Lossio (da coalizão Solidariedade Familiar), que deixará o cargo depois de sua terceira gestão, a qual foi marcada por grandes dificuldades, com obras que não beneficiaram a maioria da população, além do acúmulo de várias denúncias de irregularidades.

O atual prefeito também terá o seu filho, Luis Castañeda Pardo, ex-subprefeito do distrito de Lima e La Molina, como candidato à sua sucessão. O herdeiro já sofreu com a rejeição dos eleitores no processo de revogação do seu mandato, em março de 2013, com 2,28 milhões de votos pela sua saída. Há uma desconfiança instalada na opinião pública de que o prefeito possa usar a máquina municipal para beneficiar o filho candidato, que começa mal nas pesquisas, mas conta com a vantagem de que nenhum adversário disparou ainda.

O Partido Popular Cristão (PPC) optou por uma de suas figuras ascendentes, o advogado e jornalista esportivo, Alberto Beingolea, deixando de fora sua principal líder, Lourdes Flores, que foi candidata presidencial em 2010. Os candidatos que acompanham Beingolea na chapa são figuras seriamente questionadas, como Marco Álvarez Vargas, prefeito de San Borja, submetido a um processo judicial, acusado da desaparição forçada de Luis Manrique Escobare, em 1989, quando Álvarez era chefe militar da zona de Huancavélica.

Outro dos questionados é Rafael Álvarez, candidato a subprefeito de Carabayllo, empresário com diversas denúncias por fraude contratual em prejuízo do Estado e uma sentencia de 4 anos de prisão devido a “obras fantasmas” – que ainda não foi cumprida porque seus advogados conseguiram suspender a execução. Outro nome sob suspeita é o de José Luis Huamaní, atual prefeito de Surquillo, que aparece na lista de candidatos às subprefeituras, apesar de ter sido acusado, em 2015, de se apropriar irregularmente de uma chácara de 1,5 mil metros quadrados na região de Santa Eulalia.

Daniel Urresti, ex-ministro do Interior durante o governo de Ollanta Humala, foi escolhido em uma assembleia realizada no distrito de Pacarán, por 60 delegados do partido Podemos pelo Peru, do empresário José Luna Gálvez. Porém, enfrenta um processo judicial pendente pelo assassinato do jornalista Hugo Bustíos, quando ele era chefe do Setor de Inteligência S-2, em Ayacucho, e responsável pela Base Militar de Castropampa, lugar onde o jornalista foi encontrado morto.

Outro dos candidatos, Gustavo Guerra García (aliança Juntos pelo Peru), foi presidente da empresa municipal Protransporte durante a gestão da prefeita Susana Villarán, e tem um processo administrativo aberto por irregularidades em sua gestão, cuja sentença poderia impedi-lo de exercer qualquer cargo na administração pública.

O candidato da coligação Democracia Direta será Enrique Cornejo, ex-ministro de Transportes durante o recente governo de Alan García, que não conseguiu inscrever sua própria agrupação política (foi oficializado graças aos demais componentes da aliança) e está envolvido em denúncias de subornos contra funcionários de sua gestão na licitação do Trem Elétrico, que foi outorgada à empreiteira brasileira Odebrecht.

Uma semana depois das acirradas disputas internas, o Tribunal Eleitoral Nacional (mas não o da cidade de Lima) decidiu que o jovem advogado Renán Núñez será o candidato provisório do Partido Aprista, situação que deve ser resolvida pela legenda antes do dia 19 de junho, para confirmar ou não a candidatura.

Julio Gagó, empresário e congressista da bancada fujimorista, candidato da chapa Avança Peru, é acusado pela venda de máquinas fotocopiadoras ao Estado, através da pequena empresa Copy Depot, subsidiária de sua firma Jaamsa, o que viola a lei que impede os congressistas de fazer negócios com as instituições públicas. Contudo, a denúncia está arquivada no Congresso.

Os outros candidatos na disputa são Humberto Lay (Restauração Nacional), Enrique Ocrospoma (aliança Peru Nação), Renzo Reggiardo (Peru Pátria Segura), Jorge Villacorta (Pacto pela Mudança), Ricardo Belmont (Peru Livre), Manuel Velarde (Sempre Unidos), Juan Carlos Zurek (Somos Peru), Juan Navarro (Aliança para o Progresso), Diethell Columbus (Força Popular), Esther Capuñay (Lima Vai), Enrique Fernández (Frente Ampla), Jorge Muñoz (Ação Popular) e Alberto Bajak (Todos pelo Peru). Vale destacar também que 23 organizações políticas estão inscritas no padrão eleitoral não participarão nestas eleições – entre elas o Partido Nacionalista e a frente Vamos Peru.

Os problemas mais importantes que afetam a qualidade de vida são a insegurança, a desordem no transporte público, limpeza pública (especialmente a acumulação de lixo nos bairros afastados do centro), corrupção, contaminação ambiental, mau estado (ou falta de) ruas e calçadas em alguns bairros da periferia, geração de espaços culturais (especialmente nas periferias) e a atuação do comércio ambulante desorganizado.

Nos Anos 60, o poeta Marco Martos escrevia os seguintes versos:

En Lima cada cuadra tiene un nombre me dijeron
y es verdad que he comprobado […] En Lima cada coche, cada cola, cada rueda,
rumores y presagios, sudores ajenos
Y humos robustos sin quererlo respiramos […]

(“Em Lima, cada quadra tem um nome, me disseram, e é uma verdade que eu comprovei […] Em Lima, cada carro, cada fila, cada roda, rumores e presságios, suores alheios e fumaças robustas, sem querer nós respiramos […]”, em tradução não oficial).

(*) Mariana Álvarez Orellana é antropóloga, docente e investigadora peruana, analista associada ao Centro Latino-Americano de Análise Estratégica (CLAE)

Más notas sobre el tema