Os ‘animals’ longe de Deus e perto dos Estados Unidos – Por Gerardo Villagrán del Corral

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Por Gerardo Villagrán del Corral*

Recentemente, Donald Trump afirmou que alguns imigrantes “não são gente, são animals (`animais´)”, e a Casa Branca declarou que aqueles que se atreveram a denunciar os comentários do presidente devem pedir desculpas. As autoridades mexicanas rechaçaram as declarações de Trump e as qualificaram como “absolutamente inaceitáveis”.

Impossível não lembrar, diante dessa situação, da conhecida frase atribuída ao histórico ex-presidente Porfirio Díaz: “pobre México, tão longe de Deus e tão perto dos Estados Unidos” – embora ela tenha sido escrita originalmente pelo jornalista, historiador e escritor Nemesio García Naranjo, e logo citada por Díaz.

Trump já havia dito que a afluência de imigrantes indocumentados se deve ao fato de que seu país “tem as leis de imigração mais idiotas do mundo”, ao condenar governos estaduais como o da Califórnia, que segundo ele protegem “imigrantes ilegais, narcotraficantes, estupradores e vagabundos”, ignorando que esses imigrantes que ele ofendeu são os que movem a economia, colhem maçãs, laranjas, algodão, trabalham na pecuária, varrem as ruas e geram lucros aos seus patrões.

Kellyanne Conway, uma das assessoras de Trump, disse que aqueles que se apressam em julgar o mandatário devem uma desculpa a ele. Logo, a porta-voz da Casa Branca, Sarah Sanders, alegou dizendo que “francamente, não creio que o termo usado pelo presidente é suficientemente forte (para gerar polêmica)”.

Trump ameaçou, uma vez mais, com a construção do muro, e que o mesmo será financiado pelo governo mexicano ou pelos cidadãos mexicanos que vivem nos Estados Unidos, sem se atrever a fazer o que Israel fez na Faixa de Gaza (obviamente, com o apoio de Washington) quando matou a 63 palestinos, incluindo várias crianças, e feriu outras quase 3 mil, por quererem recuperar sua terra e protestar contra a mudança da capital israelense a Jerusalém.

Seguindo o exemplo que Trump deu, a diplomata Nikki Haley, representante estadunidense na ONU bloqueou uma proposta de investigação internacional da matança israelense e disse, sem nenhuma vergonha: “eu pergunto aos meus colegas do Conselho de Segurança, quem entre nós aceitaria este tipo de atividade em suas fronteiras? Ninguém. Nenhum país desta sala atuaria com maior moderação que a mostrada por Israel”.

Enquanto isso, um incidente em Nueva York comprovou o clima anti imigrante gerado por Trump, mas também uma resposta de uma capital mundial da imigração. O cliente de uma lanchonete em Manhattan – o advogado Aaron Schlossberg – foi gravado gritando às empregadas para que deixassem de falar em espanhol e ameaçou chamar as autoridades migratórias para “expulsar cada um de vocês do meu país… quem tem culh4ao para vir até que e viver do meu dinheiro, porque eu pago pela sua possibilidade de estar aqui, ao menos tem que ser obrigado a falar em inglês”.

O diário New York Daily News, principal jornal local, respondeu com uma primeira página que diz em inglês: “mensagem de Nova York ao intolerante que gritou a mulheres por falar em espanhol em uma lanchonete (e em letras maiores, em espanhol): ¡Jódete, idiota! (`vai se ferrar, idiota!´)”. Abaixo, entre parênteses, a tradução: “para os nossos fieis leitores que entendem somente o inglês: screw you, idiot!”.

O México em seu labirinto

Enquanto isso, as campanhas políticas para a eleição de 1º de julho segue marcada pela violência contra alguns candidatos e as incertezas sobre o Tratado de Livre Comércio da América do Norte (NAFTA, por sua sigla em inglês), que colocaram em segundo plano a questão migratória, tanto no que diz respeito às ameaças e à hostilidade crescente por parte de Donald Trump, como pelo fluxo de estrangeiros provenientes da América Central que cruzam o território para chegar aos Estados Unidos, e também com a tensão gerada pela decisão de Washington de mobilizar tropas do seu lado da fronteira.

O chanceler mexicano Luis Videgaray afirmou que estas declarações vulneram o princípio fundamental do estado de direito, e não é só um convite à violação das garantias individuais das pessoas, como também uma incitação ao ódio e ao discurso xenofóbico: “não reconhecem os direitos humanos e a dignidade das pessoas, e é incompreensível que um governo se sinta na liberdade de não respeitar estas garantias constitucionais.

Segundo dados do Banco do México, os envios de dinheiro procedentes de mexicanos em território estadunidense somaram mais de 7 bilhões de dólares no primeiro trimestre deste ano, montante que supera o dos investimentos estrangeiros diretos no país, do que representa as exportações de petróleo.

O México deve fixar como objetivo a plena despenalização da imigração, tanto por parte dos Estados Unidos como na questão interna – onde, infelizmente, a avançada lei migratória costuma ser letra morta –, defendendo o reconhecimento dos direitos dos migrantes, e colocando sobre a mesa uma realidade contundente: “enquanto persistam as assimetrias econômicas e sociais, a migração é necessária e positiva para todos, inclusive para os Estados Unidos”, como argumento um editorial do diário La Jornada.

(*) Gerardo Villagrán del Corral é antropólogo e economista mexicano, associado ao Centro Latino-Americano de Análise Estratégica (CLAE) – www.estrategia.la

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