Trump se mete na campanha eleitoral – Por Gerardo Villagrán del Corral
Por Gerardo Villagrán del Corral*
Andrés Manuel López Obrador, candidato da coalizão Juntos Faremos História e favorito para vencer a eleição no México, começou sua terceira campanha presidencial exigindo respeito com o compromisso de acabar com a corrupção, a impunidade e defender o país. “O México e seu povo não serão a pinhata de nenhum governo estrangeiro”, assegurou, ao lembrar das últimas ameaças do presidente estadunidense Donald Trump.
Neste domingo (1/4), o candidato visitou uma região próxima da fronteira com os Estados Unidos, onde falou em exigir que o Trump respeite o México, em referência às ideias das alusões que o mandatário vizinho faz sobre finalizar os acordos comerciais que são cruciais para a economia mexicana, além da conhecida promessa de fazer o país latino pagar pelo muro que pretende construir entre os dois países.
Através do seu twitter, Trump publicou uma mensagem no mesmo domingo, na qual disse que “o México não está fazendo quase nada para frear a imigração ilegal e se ri das nossas ingênuas leis a respeito. O país vizinho deve combater a droga e o fluxo de pessoas, ou vou acabar com a sua mina de ouro, o NAFTA (sigla em inglês da Área de Livre Comércio da América do Norte). Precisamos do muro!”.
Obrador respondeu dizendo que “em breve, muito em breve, nenhuma ameaça nenhum muro, nenhuma atitude prepotente de algum governo estrangeiro nos impedirá de sermos melhores e felizes em nossa pátria, porque nosso desejo é fazer do México uma potência, e também mostrar ao presidente Donald Trump que sua política de segurança está equivocada, especialmente em sua particular atitude desrespeitosa para com os mexicanos”.
A respeito da fronteira com os Estados Unidos, o candidato disse que a transformará numa zona livre ou franca, para promover o desenvolvimento produtivo e tecnológico, assim como a criação de empregos, com redução de impostos e aumento de salários.
A coalizão Juntos Faremos História, liderada por López Obrador, é integrada pelos partidos Morena, Partido do Trabalho e Encontro Social. Neste fim de semana, os líderes da aliança se comprometeram a realizar um programa de transformação nacional, caso vençam as eleições do dia 1º de julho.
Segundo o Instituto IMO, se a votação fosse hoje, López Obrador teria 38,5% dos votos dos homens e 29,3% das mulheres, seguido por Ricardo Anaya (PAN, de ultradireita) com 22,1% do voto masculino e 21,4% do apoio feminino, e por José Antonio Meade (do PRI, governista e neoliberal), com 12,5% de voto masculino e 13,7% de voto feminino. Seria o suficiente para a vitória, já que o pleito é de turno único.
López Obrador disse que em seu governo o Estado deixará de ser uma fábrica de novos ricos, porque “não haverá oportunidade de fazer negócios amparados pelo poder”, e também assegurou que haverá desenvolvimento do norte ao sul do país, através de projetos que visem manter a população em sua região natal.
Sobre o movimento que lidera, disse que se trata de uma aliança ampla, voltada à inclusão de diferentes setores: “se a esquerda é ser honesto e lutar pelos mais fracos, então somos de esquerda. Agora, se a esquerda é outro tipo de luta, talvez não sejamos estritamente um movimento de esquerda. Mas, isso sim, se lutamos pela igualdade e pela honestidade, como fazemos, devemos ser considerados de esquerda”.
Também acrescentou que, diferente do que pensam outros movimentos de esquerda, seu projeto vê a desigualdade no México como um produto da corrupção. A maior parte das riquezas foram construídas com o amparo do poder público. Também destacou o fenômeno que sua coalizão representa, como algo inédito no mundo: “em que país um partido fundado há quatro anos consegue liderar as pesquisas? Aqui (no México), o PRI acaba de cumprir 89 anos, o PAN tem 79. O Morena (o seu partido, membro da coalizão) tem quatro anos e está em primeiro lugar”.
Obrador reiterou a promessa de suspender a construção do Novo Aeroporto Internacional da Cidade do México, próximo ao Lago de Texcoco, para fazer duas pistas na base aérea de Santa Lucía, no Estado do México, o que significaria uma economia de mais de 200 bilhões de pesos (cerca de 11 bilhões de dólares). “É um poço sem fundo, é jogar dinheiro fora, pois se escolheu o pior lugar possível, já que se trata de uma zona de geografia complexa, uma das menos planas em todo o Vale do México”, disse.
E continuou: “eles pensam que vão assustar as pessoas, dizendo que alguns investidores amedrontados estão fugindo do país. Antes de tudo, vamos garantir que aqueles que escolheram investir no México não vão perder. O mesmo acontecerá com os contratos, serão respeitados”.
López Obrador respondeu as críticas dos organismos empresariais, que reclamam das incertezas que sua candidatura gera: “não se trata de colocar em risco a economia e sim de não tolerar mais a corrução. Se a decisão é continuar uma obra porque pode gerar incertezas, mas sem que haja corrupção envolvendo esse contrato. Vamos avaliar o que consideramos que está mal planejado, ou mal executado e não serve.
Muita gente tem se somado ao movimento encabeçado por López Obrador. O candidato afirma que a coalizão Juntos Faremos História está unida por um projeto no qual há concordância em muitos aspectos, mas não em tudo. “Creio que podemos fortalecer a reconciliação nacional a partir da luta contra a corrupção. O grande acordo é para colocar a honestidade na linha de frente. Podemos não concordar em outras coisas, mas nisso sim”.
Também estão de acordo com a ideia de que a monstruosa desigualdade econômica do país já não pode mais existir, e que é necessário construir a paz, para se chegar a um verdadeiro Estado de direito. “Isso é veneno puro para os que se beneficiam de um estado defeituoso, para os que não querem que exista legalidade”, afirma.
López Obrador acredita que há uma luta na direita para ver quem está em segundo lugar, e tentar coordenar o apoio do que está em terceiro visando impedir seu triunfo, mas que devido às brigas mais recentes entre os dois setores, isso pode acabar se tornando impossível, embora não descartável – em 2006 e 2012 essa estratégia foi utilizada e deu certo. Finalmente, o candidato assegurou que estará atento a uma possível fraude que o impeça, outra vez (como em 2006), de chegar à Presidência.
(*) Gerardo Villagrán del Corral é antropólogo e economista mexicano, associado ao Centro Latino-Americano de Análise Estratégica (CLAE)