Fake News à moda boliviana: direita quer jogar Evo contra García Linera – Por Sullkata M. Quilla
Durante seus doze anos no governo, Morales foi vítima de reiteradas campanhas de difamação e de xenofobia lançadas por líderes da direita e repercutidas incessantemente pela imprensa hegemônica e as redes sociaisSullkata M. Quilla*
Desde os primeiros dias deste ano a direita tenta criar um conflito entre o presidente Evo Morales e o seu vice Álvaro García Linera, por meio de falsas mensagens: “a direita aposta na mentira não tem programa e pretende criar uma falsa disputa”, analisou o mandatário.
Durante seus doze anos no governo, Morales foi vítima de reiteradas campanhas de difamação e de xenofobia lançadas por líderes da direita e repercutidas incessantemente pela imprensa hegemônica e as redes sociais.
Desta vez, a reação de Evo foi a de recordar o discurso da Assembleia Constituinte (2006-2007), quando disse, para frear os ataques daquela ocasião contra García Linera, que “um toro branco e um toro negro formam uma boa dupla para trabalhar pela Bolívia”, e defendeu a ideia de que a política “é a melhor ciência para servir ao povo, a política não é mentira, é transparência, é a verdade e vai continuar se impondo”.
“Há mensagens de ofensas, de humilhação, mas não a mim, e sim aos nossos movimentos sociais, e principalmente ao setor indígena. Mas isso não me machuca. Eu sempre disse que sabia que a direita e os grupos neoliberais tentarão nos derrubar, porém, graças à consciência do povo boliviano, nosso processo de mudança, nossa revolução, é imparável”, disse.
Álvaro García Linera é “insubstituível” dentro da “revolução democrática cultural” promovida pelo Movimento Ao Socialismo (MAS). Esses foram os termos usados pelo presidente em um discurso recente em Oruro, durante um evento que recordou uma batalha na cidade durante o processo de lutas independentistas, em 1781. “Nas últimas semanas, vi outra vez os velhos boatos: que Álvaro está se distanciando (dele), que sua esposa está se distanciando. Quero dizer diretamente a ele, irmão Álvaro, nosso vice-presidente faz parte da nossa revolução democrática cultural, e dentro dela é insubstituível. A direita, novamente usando mentiras, quer criar um confronto inexistente”, comentou.
O presidente falou que a direita, através da fofoca, também tenta provocar brigas entre o chanceler Fernando Huanacuni e o ex-ministro Juan Ramón Quintana, e entre Huanacuni e García Linera. Em agosto, durante a celebração da festa da independência, e em outubro, no aniversário do próprio García Linera, Evo Morales também afirmou que seu vice-presidente é insubstituível no processo que ele lidera desde 2006.
Em dezembro passado, García Linera descartou a possibilidade de ser novamente candidato à vice-presidência nas eleições gerais de 2019. Entretanto, os dirigentes do MAS pretendem insistir em conformar a chapa do ano que vem com a Evo e Álvaro.
Um mês atrás, Morales criticou as mentiras de setores controlados pela oposição, sobre uma suposta convulsão social na Bolívia, e esclareceu que são pequenos grupos que conspiram contra o governo, usando como pretexto as mobilizações contra a aprovação do novo Código Penal, que segundo eles vulnera direitos constitucionais.
“Escutei de algum meio de comunicação que há convulsão social no país. Que convulsão estão vendo? São pequenos grupos que conspiraram, sempre divididos, sempre tivemos que enfrentar essa situação de conspiração permanente, com tantas mentiras”, lamentou o mandatário.
A campanha de descrédito e de difamação contra o presidente, orquestrada pela oposição, foi determinante para que o “Não” vencesse o referendo de 2016, para evitar uma reforma parcial da Constituição que contemplasse uma nova candidatura de Evo Morales à Presidência. A proposta foi impulsada pelos movimentos sociais. “Os opositores só incitam a mentir através das redes sociais. Ainda assim, vamos continuar trabalhando pela Bolívia, pela dignidade, pela igualdade. Pela Bolívia, vamos a seguir suportando”, reclamou o mandatário, em entrevista à Rádio Kausachun Coca.
Em 2016, a imprensa martelou sobre o caso de uma mulher vinculada sentimentalmente com o presidente boliviano revelou em 2007 um suposto filho de ambos, um nexo que lhe permitiria gozar de favores do Executivo. Meses depois do referendo, se descobriu que o filho não existia, e tampouco a corrupção denunciada.
Carlos Valverde, antigo chefe dos serviços de inteligência bolivianos nos Anos 90, hoje fervoroso jornalista opositor, foi quem denunciou, dias antes do referendo, o caso do suposto filho de Evo com Gabriela Zapata, e que ela traficava influências dentro do governo, e até que participava em contratos de empresas chinesas com o Estado.
As investigações demonstraram que Zapata mentiu sobre o suposto filho. Ela reconheceu que o político opositor Samuel Doria Medina e seu advogado, Eduardo León, a utilizaram para criar a mentira sobre o presidente, e revelou também que recebia scripts com tudo o que deveria dizer durante os depoimentos.
Hoje, a direita volta a atacar com mentiras. Nesta época de pós-verdade, é uma das melhores formas de tentar minar a revolução boliviana e a figura de seus líderes.
(*) Sullkata M. Quilla é antropóloga e economista boliviana, e analista associada ao Centro Latino-Americano de Análise Estratégico (CLAE)