Pueblos indígenas: el olvido está lleno de memoria (Brasil) – Por Washington Araujo
Los conceptos vertidos en esta sección no reflejan necesariamente la línea editorial de Nodal. Consideramos importante que se conozcan porque contribuyen a tener una visión integral de la región.
Povos indígenas: o esquecimento está cheio de memória
Não é mistério nem segredo algum saber da trágica realidade em que se acham aprisionados os povos indígenas no Brasil. O que causa indignação e espanto é o descaso com que têm sido tratados esses povos.
Eles, os indígenas, só ganham visibilidade na mídia pelo viés negativo (bebem muito, pouco asseados, falam mal o português), violento (foram massacrados pela polícia, rechaçaram posseiros de sua aldeia, tomaram funcionários como reféns), discriminados (poucos chegam a universidade). E não deveria ser assim, isto que os povos indígenas tem uma rica cultura autônoma, possuem seus idiomas, línguas e dialetos, detém vasto conhecimento na arte da saúde e cura, possuem precioso legado religioso e espiritualista, e além disso são os verdadeiros ambientalistas – os índios protegem o Todo-Ambiente, ou seja, a harmonia implícita entre o ser humano e o ser natureza, defendem uma ecologia totalizadora, onde nós pertencemos à Terra, e não o seu exato contrário.
No caso brasileiro, qualquer historiador ou antropologo imparcial haveria de dar testemunho – e eloquente – de que desde o descobrimento do país, em 1500, foi colocado em movimento um dramático genocídio de novos povos originais – a população indígena que há cinco séculos se estimava em 5.000.000 de almas, não passa hoje de meros 221.000 espalhados por todas as regiões do Brasil. Nossos índios têm sido diImados fisicamente. E também culturalmente: sua história tem sido negada, suas línguas estão desprotegidas, sem o amparo legal para sua perpetuação, suas tradições religiosas e culturais são obliteradas, quando não motivo de menosprezo, escárnio e reles folclorização.
Tudo parece ser nivelado por baixo, quando nosso olhar de homem branco se lança de cima para baixo por sobre o homem indígena. E isto constitui flagrante crime de lesa-humanidade. Flagrante porque continua em movimento, acontece neste. Imento mesmo em que escrevo este texto. É a dolorosa solidão moral e espiritual a que temos relegados nossos povos ancestrais, em uma primeira instância, os legítimos habitantes e reais donos de todas as vastas extensões de terras deste imenso país.
Hoje, 24 de junho, tomei comhecimento pelo jornal chileno, El País, que ontem a presidente do Chile, Michelle Bachelet, pediu perdão nesta sexta-feira em nome do Estado à principal etnia do país, os mapuches, tanto pelos desencontros quanto pelo descaso com qie têm sido tratados. «Temos falhado como país. Por isso, em minha qualidade de presidente da República, quero solene e humildemente pedir perdão ao povo mapuche pelos erros e horrores que tem cometido ou tolerado o Estado em nossa relação com eles e suas comunidades», assinalou ela, visivelmente emocionada, em cerimônia celebrada no Palácio La Moneda.
A mandatária chilena foi além e apresentou seu Plano de Reconhecimento e Desenvolvimento da Araucanía, que contempla uma série de medidas em favor deste povo indígena, que habita principalmente essa zona do sul do Chile. E com base nesse documento, anunciou uma compensação financeira às vítimas de violência na área, declarando o dia 24 de junho como o «Dia dos Povos Indígenas», sinalizou apoio a aumentar a representação dos Mapuches no Congresso chileno, informou a criação do Ministério dos Povos Indígenas e anunciou investimentos em infra-estrutura, entre outras medidas. «Hoje, como uma sociedade democrática e madura, queremos dar um passo decisivo para enfrentar a história de mal-entendidos que atrasam e afetam séculos na região de Araucania e do povo Mapuche […]. Nós viemos de uma longa história, história de conflitos culturais e diferenças sociais, o que resultou em um desafio de tamanha complexidade e tensão que as medidas não se resolvem da noite para o dia», disse Michelle Bachelet.
Contemplamos essas decisões vindas do vizinho Chile e sabemos que precisamos fazer pausada reflexão sobre a real situação de nossas muitas nações indigenas. Muito mais precisa ser feito para ajudá-los a seguir adiante, confiantes no radioso futuro que lhes é reservado, futuro este muito claramente anunciado na profecia do sábio persa ‘Abdu’l-Bahá (1844/1921) de que «os povos indígenas, se forem adequadamente educados, poderão ser a causa de iluminação de todo o planeta».
É tempo de pensar sobre a forma como as futuras gerações de brasileiras poderão lidar, proteger e apreciar nossos povos originários. E, nessa época em que se incluem nas grades currículares do ensino fundamental novas disciplinas como filosofia e sociologia, tratarmos de incluir a mais importantes de todas elas: «Apreço da História e da Cultura dos Povos Indígenas do Brasil».
E a questão das terras indígenas também necessita ser enfrentada, mais cedo ou mais tarde, só que já parece estar bastante tarde para isso. Os aldeamentos e as cidades indígenas têm sido por longa décadas «empurradas» para terras áridas, lugares remotos, e em geral impróprias para a agricultura. Muitas se encontram em meio a pedreiras, serrotes, realmente, terras absolutamente incultiváveis, muitas distantes de fontes de água doce como rios e riachos. Bem sabemos que junto com o sangue, a terra, também corre nas veias indígenas. São fontes de vida indissociáveis para eles, enquanto para nós brancos a terra não passa de um bem imóvel, um título de posse passado em cartório, símbolo não apenas de status social, como também de nossa decadência moral.
Neste aspecto chega a ser auspicioso tomar conhecimento que a presidente chilena, ao relatar o conflito que durante séculos sofre a Araucanía (terra dos Mapuches) afirmou estar entre seus principais «nós» justamente o problema da terra. Ela indicou que com o advento da democracia em 1990, os governos chilenos começaram uma política de restituição territorial e que nos últimos 25 anos, o Chile tem feito grandes investimentos para comprar, subsidiar e regularizar 230.000 hectares de terra para povo indígena Mapuche. Mas, segundo ela, essas políticas não foram eficientes.
Segundo Bachellet, a coexistência eficaz de tais diversidades, e em paz, nos territórios deve se fundar no reconhecimento e no desenvolvimento institucional que deve incluir a todos, visto que a desigualdade sofrida pelos povos de Araucania é um problema que se arrasta há séculos. Ela disse: «É claro que, desde o estabelecimento da nossa República, a identidade, a cultura, os territórios e os meios de subsistência do povo Mapuche não foram protegidos e preservados como deviam e que em mais de um século e meio de história nacional, as pessoas foram submetidas à invisibilidade e suas comunidades foram não somente negligenciadas, mas também discriminadas.»
Nunca é tarde para se fazer a coisa certa, assim como nunca será tarde demais comprender que ‘a mais amada entre todas as coisas é a justiça’. E os povos indígenas precisam ser abrigados sob o manto acolhedor e protetor da Justiça.
(*) Periodista, escritor y profesor de la UnB. Autor del blog de periodismo y cultura Cidadaodomundo.org