Brasil | Amplio repudio a Bolsonaro tras las nuevas amenazas a los jueces de la Corte

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Brasil: jueces y políticos salieron a defender la democracia tras el ataque de Bolsonaro

Mientras el presidente de Brasil, Jair Bolsonaro, volvió a apuntar este martes, frente a una multitud de seguidores, contra jueces que ordenaron investigarlo, dos de los magistrados más atacados por el mandatario, el presidente del Tribunal Superior Electoral (TSE), Luís Roberto Barroso, y el magistrado del Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes llamaron a respetar la democracia, un pedido que también hicieron políticos opositores.

«Brasil, una pasión. Blancos, negros e indígenas. Civiles y militares. Liberales, conservadores y progresistas. Desde 88, la voluntad del pueblo: FHC (Fernando Henrique Cardoso), Lula, Dilma y Bolsonaro. Elecciones libres, limpias y seguras. El amor a Brasil y a la democracia nos une. Sin vuelta al pasado», escribió por Twitter Barroso.

Moraes publicó un mensaje con un tono similar: «En este siete de septiembre, conmemoremos nuestra independencia, que garantizó nuestra libertad y que solamente se fortalece con un respeto absoluto a la democracia», escribió en la misma red social.

Los dos jueces han estado en la mira de Bolsonaro hace meses.

Por un lado, Barroso abrió una investigación en contra de Bolsonaro por sus repetidos ataques al sistema de urnas electrónicas y, por otro lado, De Moraes incluyó como investigado al presidente en un proceso penal que se inició en 2019 por la difusión en redes sociales de noticias falsas contra las instituciones democráticas.

Posibles rivales de Bolsonaro en las elecciones de 2022 también usaron las redes sociales para alertar sobre la necesidad de defender la democracia ante la amenaza golpista del mandatario ultraconservador.

Lula da Silva difundió un video en el que afirmó que el papel del presidente de la República es mantener viva la confianza en el presente y en el futuro, informó Estadao. «Pero en lugar de anunciar soluciones para el país, lo que hace es llamar a la gente al enfrentamiento, llama a actos contra los poderes y contra la democracia, que nunca respetó. En lugar de sumar, alienta la división, el odio y la violencia. Definitivamente, eso no es lo que espera Brasil de un presidente”, dijo.

El gobernador de San Pablo, Joao Doria, enfrentado con Bolsonaro por la gestión de la pandemia, afirmó que Brasil vive su peor momento desde la dictadura. «Necesitamos la paz. No hay lugar para coqueteos autoritarios. La democracia, la libertad y el diálogo son los cimientos de la prosperidad y un mejor futuro para Brasil», dijo el gobernador, quien también advirtió del riesgo de «retrocesos».

Luiz Henrique Mandetta, quien fue ministro de Salud en el gobierno de Bolsonaro hasta el inicio de la lucha contra la pandemia en el país -y dejó el cargo en marzo del año pasado precisamente por desacuerdos sobre la conducta adoptada por el presidente-, afirmó que el 7 de septiembre no puede ser el «nosotros contra ellos». «No podemos aceptar que Brasil esté dividido así, por discursos de odio. Tenemos problemas reales que debemos abordar», dijo.

Ámbito


Mundo político reage às falas de Bolsonaro em manifestações

Por Rafaela Lara e Lucas Rocha

O meio político reagiu às falas do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) durante as manifestações pró e contra o governo que acontecem neste 7 de Setembro em diversas capitais.

Durante seu primeiro discurso em Brasília, Bolsonaro não citou nominalmente nenhum dos ministros do Supremo, mas afirmou que quem age fora da Constituição “deve ser enquadrado” ou “pedir para sair”.

Em São Paulo, Bolsonaro foi ainda mais incisivo e acrescentou que “só Deus” o tira de Brasília e que ele nunca será preso.

O senador Flávio Bolsonaro (Patriota-RJ), filho do presidente, também se manifestou nas redes sociais. Ele esteve com o presidente em cima do carro de som em Brasília e afirmou que aqueles que adotam a narrativa de “‘atos antidemocráticos’ ou que milhões de brasileiros estão nas ruas hoje apenas por causa do presidente Bolsonaro vivem em outra dimensão”.

Segundo ele, aqueles que adotam tal postura “se recusam a perceber a insatisfação da população ante atos antidemocráticos de um único ministro do STF”.

O governador de São Paulo, João Doria (PSDB), também se manifestou pelas redes sociais sobre os atos desta terça-feira (7).

“Não podemos tolerar retrocessos. Que o Estado Democrático de Direito e os valores da liberdade sempre prevaleçam sobre o autoritarismo p/ o Brasil voltar a crescer, gerar empregos e diminuir as diferenças sociais. Viva a independência”, escreveu.

Em publicação no Twitter, o vice-presidente da Câmara dos Deputados, Marcelo Ramos (PL-AM), cobrou ações do presidente Jair Bolsonaro após participações em manifestações. “Presidente, o que o senhor tem a dizer sobre 14,8 milhões de desempregados, 19 milhões com fome, gás acima de 100 reais, gasolina acima de 7, juros de dois dígitos e PIBinho?”, disse o deputado.

A ex-candidata à Presidência da República, Marina Silva (Rede-AC), afirmou que Bolsonaro fez ameaças aos ministros do Supremo “e ao mesmo tempo afirmou que age em nome do ‘respeito à Constituição’.

“Definitivamente, não entende de democracia. Entende de golpes. Respeito à Constituição e Bolsonaro não combinam”, escreveu Marina.

O ministro do Trabalho e Previdência, Onyx Lorenzoni, fez diversas postagens favoráveis aos atos nas redes sociais. “O que mais incomoda o pessoal da narrativa é que Jair Bolsonaro é um líder popular de verdade, que fala a verdade”, escreveu.

O senador Marcos Rogério (DEM-RO), vice-líder do governo, se manifestou nas redes sociais. Ele esteve ao lado de Bolsonaro durante sobrevoo em Brasília e afirmou que o este “7 de Setembro vai entrar para a história”.

O senador Humberto Costa (PT-PE), presidente da Comissão de Direitos Humanos do Senado, também se manifestou pelo Twitter. “Quem pensa que Bolsonaro deu demonstração de força se engana totalmente. Está isolado da população, da comunidade internacional, das elites econômicas, dos meios de comunicação, das classes médias. Não vai dar o golpe que pretende pois terá resistência”, disse o senador.

O deputado federal Baleia Rossi, presidente do MDB, afirmou em rede social que considera inaceitáveis ataques a qualquer um dos poderes constituídos. “Sempre defendo a harmonia e o diálogo. Contudo, não podemos fechar os olhos para quem quem afronta a Constituição. E ela própria tem os remédios contra tais ataques”, disse.

Em vídeo publicado no Twitter, o senador Fernando Collor (PROS-AL) manifestou apoio ao presidente Jair Bolsonaro e pediu para que a população mantenha o otimismo. “Nós todos estamos unidos para fazer deste Brasil um país cada vez mais forte. Vamos manter o nosso otimismo, vamos manter as nossas esperanças e vamos manter a nossa fé de que o Brasil será um país dos nossos sonhos”, disse Collor.

O senador Eduardo Girão (Podemos-CE) afirmou que é necessário refletir sobre os impactos das manifestações. “Participei em Brasília do gigante ato neste 7/9, no qual milhares clamaram por liberdade. Agora, é preciso refletir sobre o impacto das manifestações. Amanhã cedo tratarei no Senado de ações q atendam aos legítimos anseios do povo, pelo bem da democracia”, disse.

O governador de Goiás, Ronaldo Caiado (DEM), destacou a importância da democracia em publicação no Twitter. “Hoje comemoramos a Independência do nosso País. Uma data simbólica para nossa gente, que representa um momento marcante, um dos mais importantes que tivemos na história, a nossa emancipação política e o início da luta por um processo democrático onde as pessoas tivessem voz”.

Já o governador da Bahia, Rui Costa (PT), fez uma crítica. “Independência é um sonho que se constrói dia a dia; Independência é amar, é respeitar, é saber conviver com o contrário, é dar as mãos na dura batalha contra o ódio. Independência é verdade que constrói e não a mentira que destrói; Independência é comida no prato, e não fuzis”, disse.

CNN


Bolsonaro ameaça o STF de golpe, exorta a desobediência à Justiça e diz que só sai morto

Em discursos diante de milhares de apoiadores nesta terça-feira (7) em Brasília e São Paulo, o presidente Jair Bolsonaro fez ameaças golpistas contra o STF (Supremo Tribunal Federal), exortou desobediência a decisões da Justiça e disse que só sairá morto da Presidência da República.

Pela manhã, na Esplanada dos Ministérios, Bolsonaro fez uma ameaça direta ao presidente do Supremo, ministro Luiz Fux. «Ou o chefe desse Poder [Fux] enquadra o seu [ministro] ou esse Poder pode sofrer aquilo que nós não queremos», disse, referindo-se às recentes decisões de Moraes contra bolsonaristas.

«Nós todos aqui na Praça dos Três Poderes juramos respeitar a nossa Constituição. Quem age fora dela se enquadra ou pede para sair», disse o presidente, em um caminhão de som no gramado em frente ao Congresso.

«Não podemos continuar aceitando que uma pessoa específica da região dos Três Poderes continue barbarizando a nossa população. Não podemos aceitar mais prisões políticas no nosso Brasil», disse Bolsonaro em outra referência a Moraes.

Moraes foi o responsável por decisões recentes contra bolsonaristas que ameaçam as instituições. O ministro tem agido a partir de pedidos da PGR (Procuradoria-Geral da República), sob o comando de Augusto Aras, indicado por Bolsonaro, e da Polícia Federal, órgão subordinado ao presidente.

Os atos desta terça foram dominados por discursos golpistas do presidente e por faixas, cartazes e gritos autoritários e antidemocráticos de seus apoiadores. O STF foi o principal alvo.

À tarde, na avenida Paulista, exortou desobediência a decisões da Justiça.

«Nós devemos sim, porque eu falo em nome de vocês, determinar que todos os presos políticos sejam postos em liberdade. Alexandre de Moraes, esse presidente não mais cumprirá. A paciência do nosso povo já se esgotou», afirmou Bolsonaro.

«[Quero] dizer aos canalhas que eu nunca serei preso», disse o presidente, que prosseguiu. «Ou esse ministro se enquadra ou ele pede para sair. Não se pode admitir que uma pessoa apenas, um homem apenas turve a nossa liberdade.»

«Dizer a esse ministro que ele tem tempo ainda para se redimir. Tem tempo ainda de arquivar seus inquéritos. Sai Alexandre de Moraes, deixa de ser canalha, deixa de oprimir o povo brasileiro.»

Ainda na Paulista, assim como tem dito em discursos no interior do país, Bolsonaro afirmou que as únicas opções para ele são ser preso, ser morto ou a vitória, afirmando na sequência, porém, que nunca será preso. «Dizer àqueles que querem me tornar inelegível em Brasília: só Deus me tira de lá.»

A atual crise institucional, patrocinada por Bolsonaro, teve início quando o presidente disse que as eleições de 2022 somente seriam realizadas com a implementação do sistema do voto impresso —essa proposta já ter sido derrubada pelo Congresso.

No discurso em São Paulo, ele voltou a mirar o sistema eleitoral e o ministro Luís Roberto Barroso, presidente do TSE. «Não é uma pessoa que vai nos dizer que esse processo é seguro e confiável, porque não é», afirmou. «Não posso participar de uma farsa como essa patrocinada ainda pelo presidente do TSE.»

Bolsonaro também atacou a decisão do corregedor-geral da Justiça Eleitoral, ministro Luís Felipe Salomão, que vetou repasses de dinheiro a páginas bolsonaristas investigadas por disseminar fake news sobre a urna eletrônica.

«Não podemos admitir um ministro do TSE também, usando a sua caneta, desmonetizar páginas que criticam esse sistema de votação.»

O STF analisa atualmente cinco inquéritos que miram o presidente Jair Bolsonaro, seus filhos ou apoiadores na área criminal. Já no TSE tramitam outras duas apurações que envolvem o chefe do Executivo.

Apesar de a maioria estar em curso há mais de um ano, essas investigações foram impulsionadas nas últimas semanas após a escalada nos ataques golpistas do chefe do Executivo a ministros das duas cortes e a uma série de acusações sem provas de fraude nas eleições.

No discurso da Paulista, o mandatário lembrou em diversas frases a importância de seus apoiadores e agradeceu a todos os que chamou de patriotas, que se manifestaram pelo país na data. «Não existe satisfação maior do que estar no meio de vocês», «onde vocês estiverem eu estarei».

«O apoio de vocês é primordial, é indispensável para seguirmos adiante. Nesse momento eu quero mais uma vez agradecer a todos vocês. Agradecer a Deus pela minha vida e pela missão.»

O feriado da Independência também foi marcado por um factoide do chefe do Executivo que envolveu STF e Congresso.

Bolsonaro chegou a anunciar uma reunião para esta quarta-feira (8) com os presidentes de Supremo, Câmara e Senado, mas as assessorias de Luiz Fux (STF), Rodrigo Pacheco (Senado) e Arthur Lira (Câmara) disseram que não há nenhuma previsão de reunião.

Além do vice, general Hamilton Mourão, estiveram com Bolsonaro nos atos desta terça ao menos os ministros ​Braga Netto (Defesa), Milton Ribeiro (MEC), Gilson Machado (Turismo), Fábio Faria (Comunicações), Onyx Lorenzoni (Trabalho), Anderson Torres (Justiça), Luiz Eduardo Ramos (Secretaria-Geral da Presidência), Tarcísio de Freitas (Infraestrutura) e João Roma (Cidadania).

Os atos de viés golpista em Brasília e em São Paulo representam uma minoria no país. Pesquisa Datafolha de junho mostrou que 75% dos brasileiros consideram o regime democrático o mais adequado, enquanto 10% afirmam que a ditadura é aceitável em algumas ocasiões.

Anunciado por Bolsonaro nos últimos dois meses como uma espécie de tudo ou nada para ele, as manifestações do 7 de Setembro podem ampliar o seu isolamento político, no momento em que, de olho em 2022, depende do STF e do Congresso para a liberação de recursos e aprovação de projetos.

Ao mesmo tempo em que perde capital político com a crise entre os Poderes, intensificada por seus ataques ao Judiciário, a alta da inflação e a crise energética se colocam como novos obstáculos para o projeto de sua reeleição no ano que vem.

Bolsonaro usou toda a estrutura da Presidência para os atos com ameaças golpistas, tanto no deslocamento entre São Paulo e Brasília como em sobrevoos em helicópteros na Esplanada e na Paulista.

Segundo a Polícia Militar de São Paulo, 125 mil pessoas participaram do ato na avenida Paulista, que recebeu caravanas de bolsonaristas vindos de outros estados —os organizadores esperavam 2 milhões de pessoas no ato de SP. Todas as 27 capitais registraram manifestações em defesa do governo.

Como o próprio Bolsonaro já disse, ele buscava nesses protestos uma foto ao lado de milhares de apoiadores para ganhar fôlego em meio a uma crise institucional provocada pelo próprio, além das crises sanitária, econômica e social no país.

«Esse retrato que estamos tendo neste dia não é de mim nem ninguém em cima desse carro de som, esse retrato é de vocês, é um comunicado, um ultimato para todos que estão na praça dos Três Poderes, inclusive eu presidente da República para onde devemos ir.»

Bolsonaro aparece distante do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em diferentes pesquisas de opinião sobre as eleições de 2022. Pesquisa Datafolha de julho mostrou recorde na reprovação do presidente, rejeitado por 51% dos brasileiros.

Reportagem da Folha deste domingo mostrou que ministros do STF e dirigentes de partidos do centrão condicionavam o futuro das relações do governo com os demais Poderes à postura que Bolsonaro adotaria no 7 de Setembro e nos dias posteriores aos protestos.

De um lado, integrantes do STF enviaram recados ao mandatário e aos presidentes da Câmara e do Senado de que o avanço das negociações em busca de uma saída para o rombo dos precatórios, o que viabilizaria a reformulação do Bolsa Família, só deve ocorrer se o chefe do Executivo cessar os ataques ao tribunal.

De outro, líderes de siglas do centrão que hoje dão sustentação a Bolsonaro no Legislativo passaram a ver o desembarque do governo no ano que vem quase como inevitável se não houvesse uma mudança de comportamento do presidente.

BOLSONARO E O GOLPISMO

Não é de hoje que o presidente flerta com o golpismo ou faz declarações contrárias à democracia. Como governante, ele mantém este tipo de discurso.

«Alguns acham que eu posso fazer tudo. Se tudo tivesse que depender de mim, não seria este o regime que nós estaríamos vivendo. E apesar de tudo eu represento a democracia no Brasil”, afirmou em uma formatura de cadetes em fevereiro deste ano.

Em 2020, Bolsonaro participou de manifestações que defendiam a intervenção militar. No passado, em uma entrevista em 1999 quando ainda era deputado, Bolsonaro disse expressamente que, se fosse presidente, fecharia o Congresso.

Hoje, por um lado, há incerteza quanto a se Bolsonaro teria ou não apoio suficiente para ser bem-sucedido em eventual tentativa de se manter no poder ao arrepio da lei.

Por outro lado, torna-se cada vez mais próxima da unanimidade a avaliação de que é preciso levar a sério o risco de que, em um cenário desfavorável, ele saia da retórica e chegue às vias de fato.

O presidente usa e abusa de retórica golpista como forma de manter o fantasma vivo, e se apresenta como um corpo único com os militares. A realidade é bem mais complexa.

Não há pilares para um golpe clássico, como alinhamento entre as três Forças e parte significativa da sociedade civil, seja para tirar Bolsonaro, seja para transformá-lo num ditador. Há uma compreensão clara de que isso não seria digerido pelas elites, pela população e no exterior.

Toda a defesa de que eleição sem voto impresso é fraude busca criar um arcabouço para, na visão dos mais pessimistas, forçar uma situação de conflito nas ruas caso Bolsonaro derreta de vez e seja derrotado nas urnas em 2022.

Isso levaria a impasses, como a decretação de uso de força federal ou mesmo estado de defesa em alguns locais. Há dúvidas se Bolsonaro iria atender a pedidos de ajuda de governadores opositores, por exemplo, o que levaria a crise para o Judiciário.

Comandantes são unânimes em dizer, durante conversas reservadas, que não há espaço para golpismos, mas o fato é que não houve nenhum teste de realidade sobre isso para atestar tal comprometimento.

Folha de S. Paulo


Em defesa da vida e de direitos, Grito dos Excluídos mostra a cara de um país plural 

Por Marcelo Menna Barreto

Os 199 anos da independência do Brasil foram marcados por atos antidemocráticos de apoio ao presidente Jair Bolsonaro (sem partido) por todo o Brasil e pela mobilização das centrais sindicais, movimentos sociais e de base por vacina, acesso aos alimentos e ao trabalho, contra o desemprego e pelo impeachment do presidente.

Se de um lado, bolsonaristas se manifestaram em 15 capitais, repetindo ataques ao STF, o 27º Grito dos Excluídos com o tema “Vida em primeiro lugar” defendeu participação popular, saúde, comida, moradia, trabalho e renda, e se estendeu por mais de 100 cidades, incluindo todas as capitais.

A CUT e demais centrais sindicais registraram manifestações em 220 cidades brasileiras. A mobilização liderada pela Igreja Católica em conjunto com os mais variados movimentos sociais ocorreu também em Portugal e na Alemanha.

Sob o viaduto

Em Porto Alegre, devido à forte chuva que castigou a capital gaúcha durante todo o dia, a programação do 27º Grito dos Excluídos sofreu alterações.

Inicialmente previsto para acontecer no Parque da Redenção, o ato de abertura, às 11h, foi transferido para o viaduto da Avenida João Pessoa por decisão das centrais sindicais, frentes Brasil Popular, Povo sem Medo e Povo na Rua, movimentos populares e pastorais sociais da CNBB, que coordenam o movimento.

Um almoço solidário foi servido às 12h sob o viaduto – com doação de comida para pessoas em situação de rua que vivem no local.

Às 13h30min, os manifestantes começaram a se concentrar e seguiram em caminhada em direção ao Largo Zumbi dos Palmares. Cruzes foram fixadas no local pelos manifestantes para lembrar os cerca de 600 mil mortos pela pandemia.

Um Drive Thru Solidário arrecadou alimentos não perecíveis para serem distribuídos a famílias em situação de vulnerabilidade.

“Estamos diante de um processo de acumulação de forças que enfrenta essa conjuntura de ataques à democracia e aos direitos dos trabalhadores. O Grito dos Excluídos e a mobilização das centrais foram mais um passo importante de mobilização que mostra a cada dia mais pessoas compreendendo que o que está em jogo é a democracia e o nosso futuro como nação. É um momento desafiador em que a classe trabalhadora precisa se ver como classe e não apenas como categorias”, avalia Amarildo Cenci, presidente da CUT-RS.

Participação popular

O Grito dos Excluídos é uma atividade extremamente descentralizada. Acontece praticamente em cada lugar onde que existe uma diocese da Igreja Católica no Brasil. Isso, segundo seus organizadores, até chega a dificultar o mapeamento de todas as ações realizadas com o selo da ação que é promovida há 27 anos. Já os atos pró-Bolsonaro se concentraram no Eixo Monumental em Brasília e na avenida Paulista, em São Paulo.

Se nos atos bolsonaristas se reproduziram o perfil já conhecido dos apoiadores clássicos do presidente, com a predominância de homens, brancos, de meia idade ou mais, o Grito dos Excluídos demonstrou a pluralidade do povo brasileiro.

Eram jovens, idosos, crianças, brancos, negros e indígenas que saíram às ruas para protestar contra o mandatário e em defesa da democracia e de direitos. Em São Paulo, o Vale do Anhangabaú, que já foi palco, entre outras mobilizações históricas, do movimento pelas Diretas Já, ficou totalmente tomado por populares. Apesar da pluralidade de pautas do movimento, as manifestações se voltaram principalmente aos desmandos do presidente em relação à pandemia e pediram o impeachment de Bolsonaro.

Outro contraste se deu pelos cuidados sanitários. Enquanto nos atos bolsonaristas era raro ver pessoas usando máscaras, o Grito dos Excluídos incentivou desde a sua convocação o respeito às medidas sanitárias e de distanciamento.

Discursos

Ao contrário dos ataques contra o Supremo Tribunal Federal (STF) que buscam terceirizar a prefeitos, governadores e ministros da Corte o desastre da gestão da crise sanitária, o Grito dos Excluídos buscou responsabilizar Bolsonaro pela crise sanitária e pela derrocada do país em todas as áreas.

Para os manifestantes do Grito dos Excluídos, desde o início da pandemia, Bolsonaro minimizou a situação e buscou soluções mágicas como remédios sem eficácia e queria promover a chamada “imunidade de rebanho”, sem distanciamento social, o que poderia acabar em uma tragédia muito maior do que a dos quase 600 mil mortos até agora pela enfermidade.

Vários oradores do Grito dos Excluídos ainda lembraram que, no meio da “teimosia” do presidente, se montava um grande esquema de corrupção no Ministério da Saúde. Durante a gestão do general e então ministro Eduardo Pazuello, o governo buscou a compra de vacinas através de intermediários suspeitos e conceituadas farmacêuticas como a Pfizer ficaram sem resposta às suas propostas de venda de vacinas.

Agora, além do desleixo do presidente contra a saúde da população, soma-se também o chamado “custo Bolsonaro”.

Nas mais variadas bandeiras levantadas pelo Grito dos Excluídos, Bolsonaro também é responsabilizado pelo colapso iminente da economia e suas consequências, a fome e o desemprego que só aumentam no país.

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