La guerra jurídica: lawfare en Brasil – Por Larissa Ramina
La guerra jurídica: lawfare en Brasil
Por Larissa Ramina *
En Brasil, la guerra jurídica se implementó con fines geopolíticos y se justificó en la lucha contra la corrupción, mediante el uso de mecanismos transnacionales de persecución con la cooperación criminal de los operadores del sistema de justicia nacional.Cuando se entiende como “sistémica y transnacional”, la corrupción se considera un crimen transnacional y, por lo tanto, una amenaza para la seguridad nacional de Estados Unidos. En consecuencia, entra en juego una gigantesca trama legislativa e institucional que asegura que la investigación y sanción judicial contra actos de corrupción nacional y transnacional en América Latina se concentren en la jurisdicción estadounidense.
Brasil se ha convertido en objetivo de la guerra jurídica desde la primera elección de Lula en 2002, pero ciertamente el descubrimiento del yacimiento de petróleo en área de Presalen 2008 hizo que el proyecto fuera más urgente, lo que provocó programas de cooptación y capacitación para operadores jurídicos brasileños.En junio de 2013, las protestas orquestadas por agentes extranjeros recordaban las revoluciones coloridas de la Primavera Árabe, pero sirvieron convenientemente para crear un clima de hostilidad contra “la corrupción sistémica del progresismo latinoamericano”, es decir, contra el Partido de los Trabajadores, elexpresidente Lula y la presidenta Dilma Rousseff.
Como resultado de las protestas, en el mismo año, se aprobaron dos nuevas leyes que se inspiraron fuertemente en el proceso penal estadounidense y las llamadas “fuerzas de tareaanticorrupción”, en línea con la aplicación extraterritorial de la legislación de Estados Unidos y la ampliación de las posibilidades de negociación de acuerdos de clemencia. Se trata de la Ley anticorrupción, que regula la responsabilidad civil y administrativa de las empresas que practican actos de corrupción contra la administración pública en Brasil y en el exterior; y de la Ley de delaciónpremiada, que definió al crimen organizado e introdujo la negociación de sanciones en casos penales relacionados con organizaciones criminales.
La Fuerza de Tarea Lava Jato, considerada la operación anticorrupción más grande de Brasil, comenzó a operar en 2014, poniendo inmediatamente en práctica ese aparato legal recién adoptado. A partir de entonces, una serie de detenciones cautelares de empresarios y agentes públicos, sumadas a filtraciones selectivas de información y acompañadas de gran espectacularización mediática, crearon las condiciones sociales y políticas para el establecimiento de un proceso de impeachment fraudulento y posterior destitución de la presidenta Dilma Rousseff en 2016. Este golpe parlamentario permitió reanudar un proyecto ultraneoliberal derrotado en las urnas cuatro veces seguidas, llevado a cabo con las reformas laborales y previsionales, con la extinción de la exclusividad de Petrobras como operadora de Presal y con privatizaciones.
A los reveses sociales se sumó la destrucción de parte de la industria nacional y la nefasta injerencia en el proceso electoral brasileño, ambos conducidos por Lava Jato. A nivel económico, la cooperación criminal de los agentes de esa Operación, incluida la violación de tratado bilateral de asistencia legal en materia penal, permitió la aplicación extraterritorial de la legislación anticorrupción de EUA y corroboró ilegalmente intereses extranjeros, actuando como sucursal de agencias estadounidenses, entre las que destacan el Departamento de Justicia (DOJ) y el FBI. Esta acción selectiva, dirigida a empresas consideradas como una amenaza para los intereses económicos internacionales de EUA -Petrobrás y Odebrecht-, terminó obstruyendo su capacidad competitiva, provocando la destrucción de toda la cadena productiva de la industria de la construcción civil y la industria energética de exploración de petróleo y gas, e impactando significativamente el PIB brasileño.
A nivel político, la aplicación extraterritorial de la legislación estadounidense allanó el camino para juicios políticos anclados en el discurso anticorrupción, como el que condenó al expresidente Lula sin pruebas sólidas y posibilitó la elección de la extrema derecha en Brasil. Tal fue la articulación para impedir la candidatura de Lula a las elecciones presidenciales de 2018, que el entonces juez Sergio Moro, responsable de su condena, recibió el cargo de ministro de Justicia por el presidente electo Jair Bolsonaro.
Detrás de esta compleja trama, que incluye discursos anticorrupción, capacitación de operadores jurídicos extranjeros, extraterritorialidad, instrumentalización del sistema de justicia de otro país y apoyo mediático, está la acción del imperialismo económico estadounidense para frenar proyectos políticos alternativos al modelo neoliberal e imponer la condición colonial a los países latinoamericanos. Aún serán necesarios muchos años para cuantificar, medir y amargar los daños de esafuerza de tarea que sacrificó el potencial soberano de un país como Brasil.
* Profesora de Derecho Internacional de la Universidad Federal do Paraná (UFPR) Brasil
A guerra jurídica –lawfare no Brasil
Por Larissa Ramina
No Brasil, a guerra jurídica foi implementada com objetivos geopolíticose justificada na luta anticorrupção, por meioda utilização de mecanismos transnacionais de persecuçãocom a cooperação criminosa de operadores do sistema de justiça nacional.
Ao ser compreendida como “sistêmica e transnacional”, a corrupção passa a serconsiderada um crime transnacional e, portanto, uma ameaça à segurança nacional dos EUA. Por conseguinte, entra em jogo uma gigantesca trama legislativa e institucional garantindo que a investigação e a sanção judicial contra atos de corrupção nacional e transnacional na América Latina concentrem-se na jurisdição estadunidense.
O Brasil se tornou alvo da guerra jurídica desde a primeira eleição de Lula, em 2002, mas certamente a descoberta das reservas de petróleo doPré-Sal em 2008 conferiu maior urgência ao projeto, desencadeando programas de cooptação e treinamento de operadores jurídicos brasileiros.
Em junho de 2013, protestos orquestrados por agentes estrangeiros fizeram lembrar das revoluções coloridas da Primavera Árabe, mas serviram convenientemente para criar um clima de hostilidade “à corrupção sistêmica do progressismo latino-americano”, ou seja, ao Partido dos Trabalhadores, ao ex-Presidente Lula e à então Presidenta Dilma Rousseff.
Como resultado dos protestos, no mesmo ano foram adotadas duas novas leisfortemente inspiradas no processo penal estadunidensee nas chamadas “forças tarefa para o combate à corrupção”, consoantes com a aplicação extraterritorial de legislação dos EUA e com a ampliação das possibilidades para a negociação de acordos de leniência.Trata-se daLei anticorrupção,que regulamentou a responsabilidade civil e administrativa das empresas que praticam atos de corrupção contra a administração pública no Brasil e no exterior;e da Lei da delação premiada,que definiu o crime organizado e introduziu a negociação de pena em processos criminais relacionados a organizações criminosas.
A Força Tarefa da Lava Jato, considerada a maior operação de combate à corrupção no Brasil, começou a operarem 2014, imediatamente colocandoem prática aquele recém-adotado aparato legal.A partir de então, uma série de prisões cautelares de empresários e de agentes públicos, somadas a vazamentos seletivos de informações eacompanhadas de grande espetacularização midiática, criaram as condições sociais e políticas para a instauração de um processo fraudulento de impeachment e posterior destituição da Presidenta Dilma Rousseff em 2016. Esse golpe de Estado parlamentar viabilizou a retomada de um projeto ultraneoliberal derrotado nas urnas por quatro vezes consecutivas, efetivado com as reformas trabalhista e da previdência, com a extinção da exclusividade da Petrobras como operadora do Pré-Sale com privatizações.
Aos retrocessos sociais somou-se a destruição de parte da indústria nacional e a nefasta interferência no processo eleitoral brasileiro, ambas conduzidas pela Lava Jato. No plano econômico, a cooperação criminosa dos agentes daquela Operação,inclusive violando tratado bilateral de assistência judicial em matéria penal, permitiu a aplicação extraterritorial da legislação anticorrupção dos EUA e corroborou ilegalmente com interesses estrangeiros, atuando como sucursal de agências estadunidenses, entre as quais o Departamento de Justiça (DOJ) e o FBI. Essa atuação seletiva, quevisava empresas consideradas como ameaça aos interesses econômicos internacionais dos EUA -Petrobrás e Odebrecht–, acabou por obstruirsua capacidade competitiva, levando à destruição de toda a cadeia produtiva da indústria de construção civil e da indústria energética da exploração de petróleo e gás, e impactando de forma significativa o PIB brasileiro.
No plano político, a aplicação extraterritorial de legislação estadunidense abriu caminho para julgamentos políticos ancorados no discurso anticorrupção, como o que condenou sem solidez probatória o ex-Presidente Lula e possibilitou a eleição da extrema-direita no Brasil. Tamanha foi a articulação para impedir a candidatura de Lula às eleições presidenciais de 2018, que o então juiz Sérgio Moro, responsável por sua condenação, foi premiado com o cargo de Ministro da Justiça pelo Presidente eleito Jair Bolsonaro.
Por trás dessa complexa trama incluindo discursos anticorrupção, treinamento de operadores jurídicos estrangeiros, extraterritorialidade, instrumentalização do sistema de justiça de outro país e apoio midiático, está a ação do imperialismo econômico estadunidense para frear projetos políticos alternativos ao modelo neoliberal e impor a condição neocolonial aos países da América Latina.Muitos anos ainda serão necessários para quantificar, mensurar e amargar os danos dessa força tarefa que sacrificou o potencial soberano de um país como o Brasil.
* Professora de Direito Internacional da Universidade Federal do Paraná – UFPR