Brasil | Partidos de izquierda se unen a días del balotaje de las municipales
Nas eleições municipais, esquerda ensaia unidade e amadurece diálogo
Por Eduardo Maretti
A união da esquerda e centro-esquerda no segundo turno das eleições municipais, em capitais importantes como São Paulo, Porto Alegre, Belém e Vitória, mostra uma espécie de “ensaio” para 2022. O campo progressista pode finalmente ter entendido que, sem unidade na esquerda, não há saída. Na opinião de deputados federais de oposição ao governo de Jair Bolsonaro, o apoio a candidatos centro-esquerdistas que podem ser eleitos no domingo deve progredir para um diálogo mais amplo, caso as forças preocupadas com a democracia queiram derrotar o projeto instaurado no país em 2018.
Em São Paulo, Guilherme Boulos (Psol) é apoiado por PT, PCdoB e PDT. Essa recepção da esquerda unida a um projeto de mudança “significa que a candidatura do Psol virou um fato nacional, de unidade da esquerda, de convergência política, de simbologia contra o bolsonarismo”, diz o deputado federal Ivan Valente (Psol-SP). “Juntar o Ciro, o Lula, a Marina e o Dino tem uma sinergia muito grande”, diz.
Em São Paulo, Boulos tem 45% (eram 42% na última pesquisa), segundo o Datafolha, em estudo divulgado nesta terça (24). Bruno Covas caiu de 58% para 55%.
Para a deputada Maria do Rosário (PT-RS), o movimento unitário da esquerda “antecipa algo muito necessário para 2022, porque tem compromisso com a defesa de direitos da população, contra o fascismo e pela democracia”.
“Ainda que Recife não tenha uma unidade de esquerda, de todo o setor popular, considero Porto Alegre, São Paulo e Recife como símbolos de importante mudança no quadro político brasileiro, porque significa uma mudança. Uma postura muito mais crítica e até indignada com o governo Bolsonaro começa a se fortalecer na sociedade”, acredita a parlamentar gaúcha.
Na capital de Pernambuco, Marília Arraes (PT) está na frente na corrida pela Prefeitura com 54% das intenções de voto, segundo pesquisa do Instituto de Pesquisas Sociais, Políticas e Econômicas (Ipespe) em parceria com a Folha de Pernambuco. João Campos (PSB) tem 46%.
Em entrevista à Deutsche Welle no Brasil, Marcelo Freixo (Psol-RJ) observou que “Recife é um capítulo à parte”. Ele acrescentou: “mas Porto Alegre, São Paulo, Vitória e Belém são cidades onde uma frente de esquerda começa a ser criada, (com) um debate mais amplo da esquerda”.
“Um bom ensaio”
Para Jandira Feghali (PCdoB-RJ), as esquerdas fazem “um bom ensaio com esse processo de unidade e mostram que essa unidade é possível, com mais humildade e grandeza de todo mundo, compreendendo o que está em jogo em 2022″.
A deputada federal destaca lamentar que o PSB, tanto em Porto Alegre como em São Paulo, não se some “objetivamente e nem formalmente à unidade que se construiu em São Paulo e Porto Alegre”.
O cenário nessas capitais, na opinião da deputada do PCdoB, mostra que Bolsonaro perdeu força, o que se evidencia com a derrocada de Celso Russomanno (Republicanos), em São Paulo, e de Marcelo Crivella (Republicanos), no Rio, apoiados explicitamente pelo presidente. Mesmo os que, de alguma forma, têm ligação com Bolsonaro, evitam citá-lo nas campanhas.
Para Jandira, o diálogo representa “um aprendizado importante” para a construção da unidade da esquerda com vistas às eleições nacionais daqui a dois anos. “É importante Ciro Gomes ter entrado na campanha de Manuela e de Boulos, com uma postura diferente de 2018, quando se ausentou.”
Fake news contra Manuela
Em Porto alegre, segundo pesquisa Ibope divulgada pela RBS nesta terça-feira (24), Sebastião Melo (MDB) lidera a corrida eleitoral com 49%. Manuela D’Ávila (PC do B) tem 42%. A candidata comunista é apoiada por PT, Psol e PDT. O maior desafio da candidata da esquerda são as fake news, aponta Maria do Rosário.
“Entre a eleição de 2018 e de agora, o TSE e os tribunais não fizeram nada contra disparos em massa e fake news. É lamentável que não tenham feito nada. É muito grave o que acontece contra Manuela. Não é uma eleição normal, com democracia.”
Em Belém, Edmilson Rodrigues é candidato da coligação “Belém de Novas Ideais” (PSOL, PT, PCdoB, Rede, PDT e UP). De acordo com pesquisa do Ibope/TV Liberal, ele está tecnicamente empatado com o delegado federal Eguchi (Patriota). O psolista aparece com 45% das intenções de voto, contra 43% do adversário.
Em Vitória, João Coser (PT), com 43%, vem tirando a diferença em relação ao candidato bolsonarista Delegado Pazolini (Republicanos), que tem 48%. Há uma semana, a diferença era de 15 pontos percentuais.
Movimento negro lança manifesto antirracista em apoio a Boulos
Organizações do movimento negro e das periferias paulistanas lançaram nesta terça (24) um manifesto em apoio a Guilherme Boulos, candidato do PSOL e de todos os partidos progressistas e de esquerda à Prefeitura de São Paulo.
O manifesto tem por t[itulo «Por uma SP Antirracista com Boulos 50», e propõe «derrotar o PSDB e o bolsonarismo» na capital.
O Movimento Negro Unificado (MNU), a Uneafro Brasil, a Educafro e a Marcha de Mulheres Negras de São Paulo estão entre os signatários da carta, informa a jornalista Mônica Bergamo na Folha de S.Paulo.
«O PSDB de Bruno Covas representa o projeto político genocida praticado há décadas por governos tucanos seja no nível municipal, seja nos momentos de dobradinha com governos estaduais, como é o caso agora, com Covas-Doria», diz o texto, que cita as mortes ocorridas em Paraisópolis há um ano como exemplo de repressão sob as gestões do PSDB.
«O PSDB é germe do bolsonarismo que contaminou o país e que fez da população negra, mais uma vez, o principal alvo. Precisamos derrotá-los», segue.
«Neste segundo turno das eleições municipais em São Paulo, temos em Boulos e Erundina a possibilidade de virar o jogo e eleger uma gestão municipal comprometida com a vida do povo negro, que estabeleça como prioridade o enfrentamento ao racismo em suas mais diferentes expressões e intersecções. Para tanto, Boulos e Erundina devem caminhar lado a lado com os movimentos negros e periféricos, e reconhecer o movimento negro de São Paulo como força política consistente que é. É muito importante a criação de canais de diálogo, participação e construção real e por dentro, do próximo governo. A população negra organizada deve compor a gestão dos serviços públicos e da máquina pública a partir de pessoas negras orgânicas desses movimentos e suas pautas e reivindicações devem ser acolhidas», diz o manifesto.