Brasil | Volkswagen reconoce persecución y tortura durante la dictadura e indemnizará a extrabajadores
Volkswagen indemnizará a ex funcionarios perseguidos durante la dictadura militar brasileña
En un hecho de carácter histórico, la empresa automotriz alemana Volkswagen anunció que llegó a un acuerdo con el Ministerio Público Federal del estado de San Pablo para reparar la conducta de la entidad durante la dictadura militar que gobernó Brasil entre 1964 y 1985. Gracias a este acuerdo, cuya firma fue anunciada en la noche del miércoles, tres investigaciones civiles que estaban en curso serán cerradas, al tiempo que se estipuló que la empresa comenzará a cumplir con su política de indemnizaciones a partir de enero del año que viene, de acuerdo a lo que informó el diario O Globo.
La empresa se comprometió a otorgar 36 millones de reales –algo así como seis millones y medio de dólares– para promover iniciativas vinculadas a la defensa de los derechos humanos y a la investigación de crímenes cometidos durante la pasada dictadura. Poco más de tres millones de dólares de ese dinero se destinará para el gremio de trabajadores de la empresa, particularmente a los ex trabajadores que hayan denunciado haber sufrido violaciones de sus derechos humanos durante el período militar o a sus sucesores legales.
En un comunicado, la empresa alemana manifestó que “con este acuerdo, Volkswagen quiere promover el esclarecimiento sobre las violaciones a los derechos humanos de aquella época”. Al mismo tiempo, la entidad automotriz afirmó ser “la primera empresa extranjera en enfrentar su pasado de manera transparente”.
Los vínculos entre Volkswagen y la dictadura nunca fueron un secreto, pero recién en 2016 la Justicia brasileña puso el ojo en el tema en el marco de la Comisión de la Verdad impulsada por la entonces presidenta brasileña, Dilma Rousseff.
La casa matriz de la empresa –que durante los años 70 y 80 llenó de combis, escarabajos y camionetas Brasilia las calles brasileñas, y también las uruguayas– ordenó la realización de una investigación profunda, y para ello contrató al historiador alemán Christopher Kopper, académico de la Universidad de Bielefeld.
De acuerdo al trabajo de Kopper, se llegó a la conclusión de que la empresa les brindaba información a las autoridades sobre las actividades sindicales de sus trabajadores de la planta ubicada en Sao Bernardo do Campo, localidad paulista situada en las afueras de la capital estadual, conocida por su importante actividad industrial, sobre todo en el rubro metalúrgico.
En el marco de esta colaboración entre la compañía automotriz y el régimen militar, en el año 1972 un trabajador llamado Lucio Bellentani, quien era miembro del Partido Comunista de Brasil, fue torturado por policías integrantes del Departamento de Orden Político y Social (DOPS) dentro de la oficina de Recursos Humanos de la empresa. Además, ese mismo año otros seis trabajadores de Volkswagen fueron detenidos por sus actividades gremiales. El informe del investigador alemán que se publicó en diciembre de 2017 indica que la dirección de Volkswagen no tuvo participación en el golpe militar del año 1964, “pero la instauración de una dictadura militar que fue siendo cada vez más represiva fue evaluada en forma positiva por la empresa”. En este sentido, Kopper afirmó en su trabajo que Volkswagen fue “leal” al gobierno militar, “compartiendo plenamente sus objetivos económicos y de política interna”.
Luego de conocido el acuerdo entre Volkswagen y la Justicia brasileña, Kopper afirmó que el acuerdo tiene carácter histórico.
En declaraciones a las cadenas alemanas Norddeutscher Rundfunk y Südwestrundfunk y al diario Süddeutsche Zeitung, el investigador dijo que “esta es la primera vez que una empresa alemana acepta responsabilidades por violaciones a los derechos humanos de sus propios trabajadores por hechos sucedidos después del fin del nazismo”.
Volkswagen reconhece perseguição e tortura no Brasil
A Volkswagen disse nesta quarta-feira (23) que vai pagar cerca de R$ 36 milhões em indenizações e doações a ex-empregados perseguidos ou torturados durante a ditadura militar no Brasil, de 1964 a 1985.
O dinheiro será repartido entre os ex-funcionários que foram alvo de perseguições por suas orientações políticas, seguindo critérios definidos por um árbitro independente e sob a supervisão do MPT (Ministério Público do Trabalho).
Uma comissão que investiga abusos durante a ditadura no Brasil encontrou evidências de que empresas como a Volkswagen ajudaram os militares a identificar suspeitos «subversivos» e ativistas sindicais em suas fábricas.
Muitos dos trabalhadores foram demitidos, detidos ou assediados pela polícia e não conseguiram encontrar novos empregos durante anos.
A Volkswagen assinou um acordo com o Ministério Público que inclui o pagamento de R$ 16,8 milhões a uma associação de ex-funcionários e seus dependentes. O restante do valor será doado a organizações de defesa dos direitos humanos.
Em entrevista à Sputnik Brasil, a cientista política Clarisse Gurgel, Professora da Unirio, comentou que a atitude da empresa alemã faz com que aos poucos o Brasil vá recuperando a memória em relação ao período.
«O Brasil é um país que viveu uma ditadura cujo a resposta para ela foi muito insuficiente, em relação até a outros países da América Latina. Agora, aos poucos, o Brasil vai recuperando a memória da ditadura civil-militar e essa memória envolveu inclusive o reconhecimento de que a própria Volkswagen participou ativamente de algumas operações de repressão e tortura nesse período», afirmou.
A postura da Volkswagen é vista pelo cientista político Cláudio Couto, professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV), como também um recado ao presidente Jair Bolsonaro, entusiasta do período.
«Dado o momento de radicalização e da polarização que a gente vive, de ter um governo no Brasil que apoia a ditadura militar, que defende o legado da ditadura militar explicitamente, acho que é também uma sinalização forte de como as grandes empresas no mundo têm tido posições cada vez menos alinhadas com aquelas que o atual governo brasileiro defende. Creio que seja uma adesão que deve produzir um grande desconforto no governo Bolsonaro», disse à Sputnik Brasil.
A visão de que a postura da Volkswagen é decorrente de uma discordância entre algumas empresas multinacionais e o governo Bolsonaro também é compartilhada por Clarisse Gurgel.
«Elas cuidam agora de fazer uma espécie de gesto de reconhecimento do erro que cometeram, por isso uma autocrítica, e sinalizam para as empresas que hoje que apoiam o governo Bolsonaro que mais tarde serão elas a fazerem», comentou.
Cláudio Couto classifica a posição da Volkswagen como um «baque para o governo Bolsonaro».
«Na realidade [esse posicionamento] já vinha ocorrendo em outras áreas, como na questão ambiental. A gente tem uma posição por uma grande indústria, no caso da Volkswagen, não falando diretamente do governo Bolsonaro porque não se trata dele, se trata da ditadura militar, mas em função dessa afinidade entre os dois, dos repetidos elogios que Bolsonaro fez a ditadura de 64, tendo em vista esse alinhamento, essa posição da Volkswagen agora realmente representa um baque para o governo», afirmou.
Clarisse Gurgel alerta, no entanto, que a postura de empresas multinacionais em favor do meio ambiente ou contra a ditadura militar, como é o caso da Volkswagen, podem ser interpretadas também como estratégia de «melhorar a imagem» dessas companhias.
«Essa postura dessas multinacionais é uma postura que inclui uma estratégia de marketing que revitaliza o lugar das multinacionais como um sujeito que tem um espaço nesse mundo em que a sociedade percebe que existe um antagonismo entre o interesse do lucro e o interesse humano e social», ponderou.
Para Cláudio Couto, o fato de o período da ditadura ser alvo de disputas de narrativas mesmo após 55 anos do golpe que colocou as Forças Armadas no poder por 21 anos se deve a uma falta de reparação adequada por parte do Estado brasileiro às vítimas daquele período.
«É uma ferida aberta, sendo uma ferida aberta ela continua a arder. É aberta porque todas as reparações não foram feitas e os que ocupam hoje posições de poder são claramente elogiosos à ditadura militar», completou.