Brasil: Gilberto Gil habla sobre los desafíos del confinamiento para el sector artístico

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“Estado de bem-estar social terá um papel novo após pandemia”, diz Gilberto Gil

O cantor e compositor fala sobre os desafios do confinamento para a classe artística e sobre gestão sanitária diante o coronavírus

Gil estava em turnê na Dinamarca quando a epidemia se acelerou no continente europeu, obrigando-o a interromper a sequência de shows e voltar ao Brasil com a mulher, Flora, a filha Nara e a neta Flor.

“Quando voltamos, ficamos em confinamento aqui no Rio, seguindo as recomendações necessárias que se faziam no momento. A única forma de contenção do vírus era interromper sua expansão exponencial. Já estava acontecendo na Itália, na França, na Espanha, em especial, e logo estava nos Estados Unidos, e a gente precisava da melhor forma prevenir no Brasil. Nossa atitude foi de nos recolhermos e evitar ao máximo toda forma de contato social”, lembrou na entrevista exclusiva à RFI de sua residência no Rio de Janeiro.

Entre entrevistas e participações em lives, como a que realizou com Erasmo Carlos para a UBC (Associação de gestão coletiva de direitos autorais) em prol de artistas, o baiano tem também refletido sobre as mudanças que a Covid-19 têm trazido para os governos e a sociedade.

“Eu tenho impressão que muitas coisas vão se modificar. Primeiro, em relação às coisas maiores, das relações do Estado com a sociedade, com o setor produtivo. Todas essas questões relativas à indústria e aos serviços. Tudo já está passando por modificações agora. Muitas dessas mudanças permanecerão depois da pandemia. Depois, há questões próprias, pessoais, psicossociais ligadas ao comportamento das pessoas, aos elementos que o confinamento vai deixar para o modo de interação entre as pessoas”, opina.

Por outro lado, o artista vê com preocupação as maiores interações desenvolvidas pelas pessoas por meio das ferramentas tecnológicas, que permitem uma maior exposição de dados.

“Eu acho que algumas coisas vão se beneficiar desse novo sentimento de agregação, integração e solidariedade. E outras vão ficar mais difíceis, como os sistemas de vigilância social que estão se intensificando com essa pandemia e que certamente deixarão resíduos negativos em relação às liberdades e à privacidade, e a uma série de questões no plano social”, analisa.

Os artistas e o desafio do confinamento

Gil destaca, no entanto, o papel que as novas tecnologias têm exercido no momento em que os diversos segmentos das artes foram obrigados a se adaptar diante do fechamento de teatros, casas de shows, museus e também de espaços públicos.

“Tudo levou os artistas a buscar guarida na sua condição de recolhimento. Daí o papel importantíssimo que essas novas tecnologias passaram a ter, propiciando aos artistas que se encontrem à distância, que se dediquem a colocar para os seus públicos em sua própria intimidade, fazendo suas próprias gravações musicais, em casa, etc. Em outros campos das artes, como os grandes museus da Europa, dos Estados Unidos, e de outras partes do mundo, tiveram que abrir seus acervos pela internet. Via essa forma remota de exposição, isso vai deixar resíduos depois da pandemia. Eles devem permanecer (atuando) nesse modo”, avalia.

Gilberto Gil prefere falar de uma perspectiva global ao ser questionado sobre a gestão sanitária da crise do coronavírus no Brasil. “Vejo dois grandes problemas para os governos. O sanitário, da saúde, as providências no sentido de maior proteção possível às populações. Neste sentido, há uma espécie de sintonia geral. Os governos, nas Américas, na Ásia, na Europa e também na África, parecem encontrar uma certa condução solidária do problema”, observa.

O outro grande desafio analisado pelo ex-ministro da Cultura do governo do ex-presidente Lula é o que diz respeito à economia. “Com a perda drástica da ocupação econômica, com reflexos importantes na vida das pessoas, os salários, as atividades comprometidas, alguns governos atuaram de imediato, trazendo um pouco a noção do Estado de bem-estar social, emergindo com força”, afirma.

“O Estado tendo que se tornar um pouco mais assistencialista, tendo que compensar as perdas do (setor) produtivo com seus próprios cofres e recursos. Essa questão também permanecerá após a pandemia. Nós teremos um Estado um pouco mais assistencialista do que era agora, contrariando um pouco as noções liberais, do neoliberalismo que estava se se tornando mais forte no mundo inteiro. Então, voltamos um pouco ao Estado do bem-estar social, que vai ter um papel novo após a pandemia”, conclui.

Carta Capital

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