Feminismo chileno mobiliza cerca de 3 milhões de mulheres no 8M: «Históricas»
Feminismo chileno mobiliza cerca de 3 milhões de mulheres no 8M: «Históricas»
Por volta das 12h deste domingo (8), a Praça da Dignidade, no centro de Santiago, no Chile, já estava completamente lotada, numa das maiores manifestações da história do país, mas com uma particularidade: quase todas as pessoas presentes eram mulheres. Era apenas o começo da marcha pelo 8 de março, Dia Internacional de Luta das Mulheres, e um mosaico formado pelas manifestantes já usava a palavra que melhor descreve aquelas que estavam ali presentes: «Históricas».
A façanha das feministas chilenas foi impressionante. A expectativa da organização era superar as 500 mil participantes de 2019, mas o resultado foi maior. Somente na capital Santiago foram mais de 2 milhões de mulheres nas ruas, segundo estimativa da Coordenadora Feminista 8M, articulação que reúne coletivos feministas do Chile. A polícia chilena, por sua vez, indicou 300 mil participantes. A organização também aponta que, somando os atos pelo país, o total de mulheres mobilizadas chega a 3 milhões.
Durante a manifestação na capital, muitos pediram a renúncia do presidente Sebastián Piñera e da ministra da Mulher, Isabel Plá, que declarou durante esta semana que desconhecia casos de abusos sexuais cometidos pela polícia e pelo Exército do Chile desde o início da revolta social no país em outubro de 2019. O Instituto Nacional de Direitos Humanos do Chile registra ao menos 90 denúncias desse tipo.
As mulheres também gritaram contra as policiais que estavam nas ruas. O governo de Piñera quis usar policiamento majoritariamente feminino, achando que isso seria sinal de representatividade.
O grito das feministas, em resposta, foi «puta, vagaba, mas nunca paca» – termo pejorativo para se referir às mulheres policiais. Esse foi um dos gritos mais ouvidos durante a jornada, assim como um que lembrava das vítimas de feminicídio, criticando o presidente: «Morra Piñera, assim como minhas companheiras».
Linha de frente
Algumas das mulheres que estavam na linha de frente da marcha, e que tiveram mais contato com a repressão policial – que, em todo caso, foi menor que em jornadas anteriores –, preferiram usar capuz para não revelar o rosto.
Uma delas, que não quis se identificar, declarou à reportagem do Brasil de Fato que espera alcançar as mudanças necessárias no país. «Sentimos uma emoção muito grande com este movimento, e já é algo que faz parte da nossa história como mulheres.”
As mulheres indígenas também estavam representadas na marcha. Algumas delas viajaram do norte do país para participar do ato, como a delegação de mulheres aymaras e quéchuas da região de Arica, cidade do extremo norte do país.
Emily Mancilla, uma das porta-vozes do grupo, contou que, além da defesa dos direitos das mulheres indígenas, um dos objetivos do seu grupo era “denunciar a ação de empresas mineradoras canadenses e japonesas». «Elas estão ingressando nas comunidades indígenas sem fazer consulta e estão roubando nossa água. É super importante difundir isso, porque é algo que não estão falando nos meios de comunicação tradicionais.”
Também havia muitas mulheres torcedoras. Com camisetas dos seus clubes do coração, elas reivindicaram maior presença das mulheres nos estádios. María Vargas, torcedora do clube Colo-Colo, aponta que essa participação é fundamental, pois «dentro do estádio também se reproduzem coisas que, no fim das contas, são misoginia”.
Ela considera que tem sido muito importante o apoio das torcidas femininas para os movimentos de rua. «Essa forma de união tem sido super bonita, contra todos os sistemas opressores que existem hoje no Chile.”
Perfomances
Em uma manifestação cheia de performances artísticas, não faltou uma nova apresentação de «Um violador em teu caminho», vídeo que viralizou nas redes sociais, criado pelo coletivo chileno Lastesis, com o famoso refrão «o Estado opressor é um macho estuprador».
Nesta segunda-feira (9), haverá outra manifestação, a greve geral feminista, que deverá reunir tanto os coletivos quanto as centrais sindicais. Desta vez, o enfoque será a luta contra a precarização do trabalho das mulheres promovida pelo modelo econômico ultraneoliberal do país.
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