Estudiantes brasileñas crean plástico biodegradable con partes de la caña de azúcar

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Estudantes brasileiras criam plástico biodegradável com bagaço da cana

Por Letícia Rodrigues*

Localizado entre morros e com grande parte de sua vegetação nativa preservada, o município de Santa Rosa de Lima, que fica a 40 km da capital de Sergipe, no Vale do Cotinguiba, ainda possui grande influência de canaviais, que faziam parte da principal atividade econômica nos tempos da colonização. É nesse contexto que quatro estudantes de uma escola pública da cidade desenvolveram um plástico biodegradável a partir do bagaço da cana-de-açúcar.

A iniciativa é parte do projeto Meninas na Ciência, da Universidade Federal de Sergipe (UFS), implementado em algumas escolas do estado com o objetivo de incentivar meninas a entrarem no mundo das ciências, em que a atuação de mulheres ainda é muito baixa. Laís Menezes, professora de Química no Centro de Excelência Dr. Edélzio Vieira de Melo, foi convidada em 2019 pela UFS a tocar o projeto na escola. “Começamos em junho do ano passado e temos um edital de dois anos”, explica Menezes.

O estudo conta com três bolsas, e para selecionar as estudantes que iam participar, Laís analisou o perfil de cada uma, baseando-se na afinidade com a área das exatas. Por fim, ela fez o convite para Sirley Mendonça, Leila Kauane e Eline Santana, além de Maria Eloíza que entrou como voluntária e ajudante. As meninas ainda tiveram a oportunidade de levar o que aprenderam para os colegas, dando aulas de química junto com a professora.

Logo no início do projeto, as alunas pensaram em juntar a história do Vale do Cotinguiba com a responsabilidade socioambiental contra o descarte desenfreado de plásticos. “A cana-de-açúcar surgiu de uma inquietação. Queríamos fazer alguma coisa para mudar o meio ambiente. Lemos muito e descobrimos que a cana poderia virar matéria-prima para fazer o plástico. Então, unimos o útil ao agradável. Pegamos a parte histórica da cidade e a vontade de querer fazer algo para mudar o mundo”, diz Laís. Os primeiros utensílios feitos com o bioplástico foram garfo, faca, colher e prato descartáveis.

Mas fazer o produto não foi tão simples. Apesar do amparo da UFS, a escola não possui uma boa estrutura de laboratórios. A receita também demorou para ser concluída: elas tentaram fazer o produto com amido e glicerina, e deu errado. Colocar no sol também não foi uma boa ideia porque o processo ficava muito mais lento e não chegava no ponto desejado. Até que elas descobriram como fazer funcionar. “Pegamos o bagaço da cana já moído, doado por feirantes, e fazemos do nosso jeito mesmo. Usamos liquidificador para triturar ainda mais a cana, deixamos na estufa para virar um pó e, por fim, o ‘cozinhamos’ com farinha de trigo e água até virar uma goma”, conta a professora.

E como são meninas que fazem o projeto andar, no universo da ciência a inspiração para todas é unânime: Marie Curie. A polonesa foi a primeira mulher do mundo a ganhar o Prêmio Nobel de Física. Sua maior contribuição para a ciência foi a descoberta da radioatividade e de novos elementos químicos.

As meninas consideram importante o empoderamento de mulheres na área das exatas. “Quando se trata de mulher em qualquer lugar é complicado por conta do patriarcado, mas temos esse lindo sonho de chegar onde Marie Curie chegou. Quem sabe um dia, né?”, afirma Sirley. A jovem também diz que é muito grata ao projeto porque sabe que terá uma juventude com oportunidades diferentes das quais sua mãe teve. “Ela é do interior, casou cedo e teve filho. Ela vê que eu não vou ter o mesmo futuro que ela. Que vou ser mais independente. Meus pais me apoiam bastante”.

Leila Kauane formou-se no Ensino Médio em 2019, então despede-se das colegas para ingressar na Universidade Federal de Sergipe e cursar licenciatura em Química. Quem continua tocando o projeto com a professora são Sirley Mendonça, que também quer cursar Química, Eline Santana e Maria Eloíza, que pretendem estudar engenharia de produção. “Todas nós desejamos que o projeto seja reconhecido em outros lugares, não somente por ser um projeto com meninas de uma escola do interior, mas também por ser algo pensado para substituir o plástico, que anda fazendo tão mal para o meio ambiente”, diz Leila.

O plástico que usamos no dia a dia pode levar até 400 anos para se decompor. E, na verdade, ele não se desintegra totalmente: o que acontece é que ele se transforma em micropartículas quase invisíveis, que poluem e água de rios e oceanos e, por consequência, muitos animais aquáticos. Em algum momento, até nós somos contaminados pelo microplástico, já que nos alimentamos de muitos desses bichos.

O bioplástico das estudantes de Sergipe vai passar por novos estudos para ganhar mais forma e consistência. Laís diz que o desafio daqui em diante é fazer com que produto se torne comestível, e o primeiro utensílio testado será um canudo. “Na verdade, já dá pra comer se quiser, mas ainda não é tão gostoso”, diz.

Revista Galieu Oglobo


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