Brasil: intervención policial en una favela ocasiona nueve muertos
Al menos nueve personas murieron pisoteadas y otras dos resultaron heridas la madrugada de este domingo en una fiesta popular en una favela de Sao Paulo, Brasil. Las muertes se registraron tras una incursión policial, informaron autoridades.
La secretaría de seguridad de Sao Paulo afirmó que la Policía militar realizaba un operativo en la favela Paraisópolis, en el sur de la ciudad, cuando dos hombres en una moto dispararon contra los efectivos y huyeron en dirección a una fiesta popular “aún efectuando disparos, ocasionando un tumulto entre los frecuentadores del evento”.
El teniente coronel Emerson Massera precisó que fallecieron ocho hombres, incluyendo un adolescente de 14 años, y una mujer. Dijo que otras dos personas resultaron heridas.
Massera agregó que unas cinco mil personas estaban en el “baile funk”, como se les llama en Brasil a un tipo de fiesta de calle que ocurre en barrios populares de Río de Janeiro y Sao Paulo, y que aglomeran miles de jóvenes los fines de semana.
Vecinos exigen justicia
La madre de una joven de 17 años que estaba en la fiesta y fue herida negó la versión oficial y afirmó, en declaraciones al portal G1, que se trató de una emboscada policial.
“Los policías cerraron la calle. Hubo una correría y pisotearon a la gente. Gas pimienta, balas de goma y encima estaban agrediendo a la gente. Fue un policía que atacó con una botella de vidrio a mi hija”, dijo la mujer.
“Un policía le dio un botellazo en la cabeza y un porrazo en la espalda (…) Cuando la vi no la reconocí, tenía el rostro deformado y perdió mucha sangre”, agregó.
Videos mostrando personas llorando y otras en el suelo circularon en las redes sociales ayer en la mañana. La televisora Globo difundió un video que mostraba a una persona siendo pateada por un policía. La estación dijo que el clip había sido filmado por un residente de la favela.
La asociación de vecinos Paraisópolis publicó un comunicado en sus redes sociales denunciando los excesos policiales.
“Esta madrugada jóvenes fueron acorralados en callejuelas y llevados a la muerte. Quien debería proteger está generando más violencia”, dice el texto. “No aceptaremos callados, exigimos justicia”, aseveraron.
OCURRIÓ EN UNA DE LAS MAYORES FAVELAS
Paraisópolis, vecina de la rica urbanización de Morumbi, es una de las mayores favelas de Sao Paulo con más de 50.000 habitantes. La mayoría no tiene acceso formal a la red de servicios básicos y muchas de sus calles no están asfaltadas. Abundan los recovecos angostos y construcciones precarias.
La asociación de vecinos lamentó las muertes y defendió los “bailes funk” como un espacio social ante la falta de opciones culturales para los jóvenes de la favela.
Pero el comisario Emiliano da Silva Neto cuestionó la realización de estos bailes porque a su juicio sirven como fachada para crímenes y tráfico de drogas. Agregó que los fallecidos no son por balas.
Morte de 9 jovens em Paraisópolis ocorreu após um mês de tensão com a PM
A ação da Polícia Militar que terminou com nove jovens mortos na madrugada deste domingo (1/12) na favela de Paraisópolis, na zona sul da cidade de São Paulo, deixou os moradores chocados, mas não chegou a ser uma surpresa. Conforme relatos de mais de uma dezena de moradores ouvidos pela Ponte, as mortes ocorreram após um mês em que policiais militares fizeram ameaças diárias aos habitantes da favela, por conta da morte do sargento da PM Ronald Ruas Silva, ocorrida em 1º de novembro de 2019.
Ruas, de 52 anos, morreu após ser baleado na barriga durante uma troca de tiros na avenida Professor Alcebíades Delamare, nas imediações de Paraisópolis. No dia seguinte, sem mencionar a morte do sargento, o comandante geral da PM, coronel Marcelo Vieira Salles, postou nas redes sociais que a comunidade seria alvo de «uma Operação Saturação», como são chamadas ações com a presença massiva de policiais. No comunicado, Salles dizia que «centenas de policiais militares» de diferentes unidades intensificariam o policiamento no bairro, «sem previsão de término».
O músico Marcos Forlan, o MC Sacana, conta que foi abordado por dois policiais, há duas semanas, quando entrava num supermercado de camiseta e chinelo. «Eles perguntaram o que eu fazia e eu fui falando. Quando eu falei que era ator e MC, eles já me ameaçaram naquele tom: ‘MC também morre de vez em quando'», conta. Segundo o músico, os policiais deixavam claro que sua atitude era uma vingança contra a favela por causa da morte do colega. «A polícia é assim: quando morre um policial, a polícia toda para para resolver isso, mas quando morre um favelado, nem liga.»
Outro lado
Procurada, a PM afirma que «faz rondas diárias na região da ocorrência para aumentar a sensação de segurança da população e como medida de prevenção às práticas criminosas» e que «a Corregedoria da Polícia Militar está à disposição para receber denúncias em caso de atuação imprópria dos policiais militares».
Em coletiva de imprensa neste domingo, o porta-voz da PM Emerson Massera negou que a ação policial que terminou com a morte de nove jovens pisoteados tenha relação com operações anteriores. Segundo o porta-voz, quatro policiais da Rocam (Ronda Ostensiva Com Apoio de Motocicletas) estavam em patrulhamento pela área e abordaram dois homens numa motocicleta, que teriam atirado contra eles. Os homens teriam entrado atirando no baile funk, segundo a versão policial, e provocado o pânico que levou às mortes. Já moradores dizem que foram encurralados pelas bombas da polícia nas vielas de Paraisópolis.
A reportagem da Ponte esteve em Paraisópolis em 10 de novembro e ouviu diversos relatos de ameaças e agressões feitas por policiais. Um morador entregou um vídeo de uma das abordagens feitas neste período, que mostra pelo menos quatro PMs agredindo uma pessoa em plena rua até serem contidos por um oficial.
Desde então, as operações da PM no local passaram a ser diárias, com bloqueios de ruas, revistas de pessoas, entradas em casas e comércios, além de ameaças. «Vamos tocar o terror em Paraisópolis» passou a ser um refrão usado por muitos deles, segundo falas dos moradores.
As operações violentas da Polícia Militar fazem parte da história de Paraisópolis, segunda maior favela da capital paulista, geralmente como um «revide» por conta de alguma violência praticada contra a corporação. Em 2009, após três policiais terem sido baleados num tumulto, a PM deu início a uma Operação Saturação que durou 82 dias e deixou relatos de práticas de tortura feitas até em crianças e idosos, segundo O Estado de S.Paulo. Quando a PM Juliane dos Santos Duarte foi sequestrada, torturada e morta por membro do PCC (Primeiro Comando da Capital), em agosto de 2018, policiais também foram denunciados por abusos, inclusive o de «apontar uma arma para a cabeça de uma menina negra» sem justificativa, segundo a União dos Moradores da Favela do Jardim Colombo.
A violência nas operações contra os bailes funk também é constante. A Ponte relatou em duas ocasiões a história da estudante Dayane de Oliveira, que, em janeiro de 2013, aos 17 anos, perdeu um olho ao ser atingido por um estilhaço de bomba, lançado pela PM durante uma operação contra os pancadões do bairro. Sem amparo do Estado e vítima de depressão por conta da perda do olho, Dayane tornou-se moradora de rua.