Brasil: el presidente de la Cámara de Diputados dice que el país va camino a un «colapso social muy fuerte»
Rodrigo Maia: ‘Ainda não vi ser formatada por esse governo agenda para o Brasil’
Alvo de críticas em protestos recentes organizados por seguidores do governo, o presidente da C’mara, Rodrigo Maia (DEM-RJ) ataca: o Executivo não tem uma agenda formulada e o país está caminhando para o “colapso social”. Maia também critica o ministro da Educação, Abraham Weintraub , por não se comportar como deveria: “Ele não é ator, é ministro”. Na entrevista que concedeu ao GLOBO na residência oficial, na noite deste domingo, Maia voltou a insistir na necessidade da reforma da Previdência , mas alertou que só ela não resolve os problemas do país.
A relação com o presidente Bolsonaro melhorou ou vai ser de idas e vindas?
Não sei. Da minha parte é uma relação de diálogo, de construção de uma pauta que tire o Brasil do caminho que está indo, de um colapso social muito forte. Para onde a gente está indo não é bom. A gente precisa que cada um, com sua atribuição, colabore, principalmente Executivo e Legislativo, para construir pautas além da Previdência, para que a gente possa cuidar desses brasileiros que estão cada vez mais em uma situação que eu tenho chamado de colapso social. Estamos caminhando de forma muito rápida para esse colapso social.
Sobre o pacto anunciado pelo governo, há algo próximo de ser anunciado?
Teve aí uma informação mal colocada. O ministro (Dias) Toffoli fez uma proposta de um pacto, não me lembro dos termos exatos, mas era mais de princípios, o governo veio com uma contraproposta mais política, mais ideológica, nós vamos estudar porque eu não posso assinar algo que eu não tenha apoio majoritário. Acho que a assinatura de um pacto de princípios entre os três poderes pode ser uma coisa interessante.
Mas já não está na Constituição o papel de cada um?
Já tivemos dois pactos republicanos. Tem algumas agendas que dá pra você pactuar princípios em relação a elas. Acho que o Onyx (Lorenzoni) avançou na informação sem uma construção política amarrada. Ele entregou um documento, ninguém leu, e ficou parecendo para a sociedade e a imprensa que a gente fechou aquele pacto em cima daquele texto. Zero de verdade nisso.
Como as manifestações que tiveram o senhor e o centrão como alvos vão interferir na Casa?
Não tem nenhuma relação. Manifestação é para ser respeitada. Foi uma manifestação basicamente do governo atacando àqueles que podem ajudar a agenda do próprio governo. Mas a agenda de reformas é maior que esse governo.
O que o senhor diz sobre a avaliação de que implodiu a fisiologia que havia no centrão?
Não sei se existia antes. Não entro nessa de ficar preocupado de que estão tratando o DEM como se fosse centrão. O DEM tem ideias claras. Acha que o estado brasileiros é insuficiente, burocrático e caro, que precisa ser reformado. E para isso um partido de 30 deputados precisa ter uma aliança com um arco de partidos que tenham a mesma agenda. É muito bonito ficar sozinho vocalizando, falar para um público, mas quem quer mudar o Brasil tem que ter a capacidade de compreender que só com um arco de aliança você consegue aprovar as emendas constitucionais que podem tirar o Brasil da linha do colapso social. Tenho clareza disso.
Como avalia a proposta de se tirar estados e municípios da reforma da Previdência?
Eu nunca defendi isso. Os governadores têm que ajudar mais, isso é uma questão óbvia, já disse isso a eles. Mas o que tem que se pensar é que o deficit previdenciário dos estados está na ordem de R$ 80, R$ 90 bi e vai continuar crescendo sem reforma. Quem vai pagar a conta? O governo federal.
O senhor fala em votar a reforma antes do recesso…
Não é fácil, mas vamos trabalhar para isso. A gente tem que trabalhar com datas, porque se não vai ficando para depois. Se não tem objetivo, vai extrapolar nosso tempo. Claro que não há atraso. O governo tinha a proposta do Michel, que era de R$ 1 trilhão, podia ter buscado e votado em março. Teria passado? Acho que não, mas era uma opção. Ninguém pode dizer que a reforma está atrasada, como algumas vezes meu amigo Paulo Guedes fala que está atrasada. Não é verdade. A perda de expectativa do mercado não tem relação com ter votado ainda ou não a Previdência, mas com as sinalizações confusas que o governo deu, pelo menos até os últimos 15 dias.
E como lidar com o que já foi vocalizado pelo deputado Paulinho da Força (SD-SP) que uma reforma robusta pode ajudar Bolsonaro a se reeleger?
Se der, ótimo. Primeiro, ele sempre foi contra a Previdência e teve a coragem de enviá-la. Segundo: já está ficando claro para todo mundo que a reforma previdenciária por si só não vai resolver nada. Agora, para sair da trajetória (de colapso), o governo vai ter que ir muito além do que foi até agora. Vai ter que pensar projetos importantes na área de infraestrutura, políticas de segurança jurídica em muitas áreas, ter coragem de enfrentar desafios.
O senhor vê movimentações do governo para fazer essas propostas?
Acho que está faltando uma agenda para o Brasil. A Previdência não é uma agenda, é uma reforma racional e necessária para equilibrar as contas públicas. Ela não resolve qualidade na educação, médico no hospital, produtividade no setor público ou privado, crescimento econômico ou desemprego. O que precisamos é uma agenda para o Brasil. Previdência é uma necessidade. Agenda para o Brasil a gente ainda não viu formatada de forma ampla, completa, por esse governo.
O que senhor acha da crise na Educação?
Acho que a sociedade foi para as ruas para tratar de educação por culpa do ministro (Weintraub), porque ele assume o ministério falando “vou cortar 30% da universidade A, B ou C”. No dia dos protestos fez uma apresentação Disney com o negócio do guarda-chuva, batendo na bancada do Rio, como se não fosse precisar nenhum deputado do Rio para votar. Então, ele não é ator. É ministro da Educação. Respeito ele, mas acho que ele está errando. E está errando contra o governo. Em ministro da Educação, a cabeça é racional, não é emocional.
«Centrão pode entrar para a história por ‘salvar’ o Brasil, diz Rodrigo Maia»
«O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), disse em entrevista que, em cinco meses de governo, o presidente Jair Bolsonaro sofre com a redução de expectativas positivas e defendeu a aprovação de uma agenda de reformas para o país. «Chegamos num ponto onde ou nós construímos essa agenda em conjunto ou vamos para o colapso. Vai entrar no colapso de ruptura das relações sociais. É nisso que vai chegar», afirmou.
Para o deputado, partidos hoje tratados «de forma pejorativa» por integrarem o chamado Centrão podem «entrar para a história» como os que «salvaram» o Brasil, se ajudarem a aprovar medidas para impulsionar o crescimento.»
«Alvo de ataques em manifestações de rua, Maia disse ter certeza de que a reforma da Previdência será aprovada, mas observou que só essa medida não é suficiente para tirar o país da crise. O deputado está montando grupos de trabalho para discutir propostas sobre emprego, renda, saúde e parcerias público-privadas. Ele criticou ainda o ministro da Educação, Abraham Weintraub: «Educação não pode ser o que esse ministro está fazendo».
Cinco meses de governo depois, qual a sua avaliação sobre a gestão Bolsonaro?
Em cinco meses, o presidente está vendo que os desafios do Brasil são enormes e que todo mundo quer ajudar, cada um com seu ponto de vista. E que ele vai conseguir construir, como tem construído nas últimas semanas, por meio do Onyx [Lorenzoni, ministro da Casa Civil], o diálogo necessário para que as coisas possam avançar.
O sr. apoia a iniciativa de alguns senadores de encaminhar proposta de emenda à Constituição para instituir o parlamentarismo no Brasil, a partir de 2022?
Discutir isso agora é antecipar um debate. Acho que pode ser o melhor mecanismo para governar o Brasil, mas não está na hora. Tem cinco meses de governo. Pode enfraquecer um governo que começou com grandes expectativas; e elas estão se reduzindo. Não é bom para o Brasil que as expectativas positivas desse governo, com a crise que a gente vive, estejam caindo tão rápido.
O sr. se refere ao impacto sobre investimentos?
Quando a popularidade do presidente cai, a confiança dos investidores em aplicar os seus recursos no Brasil também cai. Se você olhar os números da economia, vai ver dados desastrosos. Não é bom que ele já esteja em algumas pesquisas com 25% de ótimo e bom, que entre os formadores de opinião no mercado financeiro tenha caído de 80% para 14%. Vai ver o que está acontecendo com a construção civil. Pararam o Minha Casa Minha Vida; e isso é muito grave.»
«Agora há muitos protestos em relação ao bloqueio de recursos na educação…
Acho que tem de se perguntar o que a direita pensa sobre habitação, saúde, educação. Educação não pode ser o que esse ministro está fazendo. Eu acho que, na área de educação, quem está trazendo a crise para o governo é o ministro [Abraham Weintraub] porque ele primeiro falou de corte, depois, de contingenciamento. Ele chamou as universidades para o conflito e depois falou: «Eu não disse isso, eu disse que era contingenciamento». Aí faz um vídeo, um musical da Disney, no qual ataca a bancada do Rio. Agora, tem rebelião na bancada do Rio. Boa parte vai votar a Previdência com o governo. Atacar a bancada porque botou uma emenda para o Museu [Nacional, destruído num incêndio no ano passado] e a emenda foi contingenciada? Onde estamos?
O sr. acha que é necessário um pacto pela governabilidade entre Executivo, Legislativo e Judiciário? Isso não é um cheque em branco para o governo?
Depende do que seja escrito. Um pacto com compromissos reafirmando a importância das instituições, com princípios, pode avançar. Pactos com agenda que caminhem para debate ideológico terão dificuldade de passar por todos os Poderes, não só na Câmara. Mas acho que a iniciativa é positiva.
O sr. foi alvo de ataques em manifestações pró-governo. Na sua opinião, o presidente estimulou a ofensiva contra o Congresso?
Acho que as manifestações são legítimas. O presidente teve apoio num grupo muito radical. Não é um grupo que fale com o meu eleitor, com os setores médios da sociedade. Agora, na hora em que vai o grupo mais próximo do presidente para a rua, e da forma com que ele se comunicou nos últimos meses, querendo transferir a responsabilidade para o Parlamento, o eleitor dele viu aquilo como necessário. Talvez de forma incoerente porque, modéstia à parte, se não fosse pelo meu trabalho, a Previdência estava ainda nas gavetas da CCJ [Comissão de Constituição e Justiça]. O movimento ataca aqueles que têm salvado o governo.
De que forma?
O Affonso Celso Pastore [ex-presidente do Banco Central] deu uma entrevista [ao jornal O Estado de S.Paulo] e, no final, fala quantos votos nós tivemos. O Parlamento teve 97 milhões de votos. O presidente foi eleito em dois turnos. O núcleo dele continua com ele, mas o eleitor que não era desse núcleo já saiu.»
«O governo não tem base de sustentação no Congresso. Como aprovar as reformas assim?
A Previdência tem construção no Parlamento e vamos trabalhar para aprovar. A reforma tributária tem consenso maior ainda. Os marcos regulatórios de garantia de investimento para o setor privado também. Estamos com comissão tratando das parcerias públicos-privadas. Chegamos num ponto onde nós construímos essa agenda em conjunto ou vamos para o colapso. Vai entrar no colapso de ruptura das relações sociais. É nisso que vai chegar. Já estamos num colapso fiscal, num colapso previdenciário. A política está distante da sociedade, foi criminalizada. Todos os problemas que a sociedade vive hoje passaram a ser da política. Alguns pontos são corretos, mas às vezes esse pêndulo é exagerado. Para que a gente possa dar solução para o colapso social, precisamos ter uma agenda que venha do Executivo.
O governo continua um deserto de ideias, como o sr. disse antes?
Acho que a coisa está melhorando. Nós estamos aqui querendo ajudar. O próprio presidente do Banco Central [Roberto Campos Neto] esteve aqui [na Câmara] com agenda muito positiva. Vou montar um grupo para trabalhar com ele e tratar de redução de juro no cheque especial, como montei outro para tratar de modernização do Estado.
Mas o presidente ainda critica a «velha política»…
Ao longo do tempo ele vai compreender, até porque foi deputado, que a maioria dos deputados quer ajudar. Ou todos. Cada um do seu ponto de vista. Para mim, a reforma da Previdência é vital; para o Ivan Valente (deputado do PSol), não é. E a posição dele é tão legítima quanto a minha. O governador do Rio Grande do Sul [Eduardo Leite] disse na convenção do PSDB uma frase muito boa: «Coragem mesmo precisa quem tem a ousadia de ser ponderado». Acho que a gente tem de radicalizar na ponderação, no equilíbrio no diálogo.
Por que o DEM quer agora se descolar do Centrão?
Eu não entro nessa questão de «eu não sou daqui, eu não sou dali». A presidente do Parlamento espanhol, quando esteve aqui, me perguntou: «Como vocês vão fazer para governar sem partido? Porque na Espanha isso é impossível». Então, vamos criticar as pessoas que erram, mas não vamos desqualificar os partidos. Quem coloca você numa posição ou outra são seus atos ou atitudes. Se os partidos que estão no Parlamento provarem que tem agenda das reformas como prioridade… A forma pejorativa como se trata o tal Centrão hoje, amanhã na história vai entrar como os partidos que salvaram o Brasil do colapso social, do crescimento da desigualdade, da pobreza, da falta de educação e da falta de médicos.
O sr. acha que a reforma da Previdência vai ser aprovada?
Tenho certeza.
Quando o ministro Paulo Guedes diz que, se a reforma virar uma «reforminha», pega as coisas e vai embora, isso ajuda?
A gente que está na política há muitos anos sabe que ninguém é insubstituível. O mercado financeiro, há um ano, queria R$ 500 bilhões. E se o governo está com pressa, a reforma do Michel [o ex-presidente Michel Temer] começou com R$ 1 trilhão e o último texto falava em R$ 500 bilhões. Eles poderiam ter aprovado em março a [proposta] do Michel, se tivessem voto.»
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