Chico Buarque ganó el Premio Camões, galardón literario más importante en lengua portuguesa
A pesar de Jair: Chico Buarque gana el Premio Camões 2019
Francisco Buarque de Hollanda, poeta, cantante, guitarrista, compositor, dramaturgo y novelista, es uno de los más conocidos representantes de la llamada Música Popular Brasileña (MPB), con más de 17 álbumes grabados y una trayectoria musical de más de cinco décadas, también se ha destacado en el mundo de la literatura como escritor de novelas, cuentos, poesías y obras de teatro. También es destacada su militancia y compromiso social desde el contenido de sus obras. Luego del golpe militar en 1964, Buarque empezó a escribir sobre la situación y evitó la censura al usar analogías crípticas y juegos de palabras. Por su militancia fue arrestado en 1968 y exiliado al año siguiente. Pero al poco tiempo regresó a Brasil para seguir su militancia contra la dictadura desde sus producciones artísticas. Durante la década del 70, una de sus canciones mas recordadas, “A pesar de Vocé” burló a la censura y se convirtió en un himno de las luchas contra el régimen. Poco tiempo después, la canción fue censurada y sus copias retiradas del mercado luego de haber vendido más de 100.000 copias. Ademas de “A pesar de Vocé”, Buarque también es famoso mundialmente por canciones como «Construçao» , «A Banda», «Cálice» y «Vai pasar», todas con criticas a la dictadura brasileña (1964-1985).
Chico Buarque ya había sido ganador en tres oportunidades del premio Jabuti, otro de los galardones más representativos de la literatura portuguesa por sus obras «Estorvo» (Estorbo) -con la que debutó como novelista en 1991- «Budapeste» (2004) y «Leite derramado» (Leche derramada – 2010). Antes de su incursión en la novela, Buarque publicó cuentos, poesías y hasta musicales infantiles. Su primer libro publicado fue «Ulisses», un cuento lanzado en 1966.
El Premio Camões, instituido en 1989 por los gobiernos de Brasil y de Portugal, es el principal premio literario destinado a los autores que, por el conjunto de su obra, hayan aportado al enriquecimiento del patrimonio literario y cultural de la lengua portuguesa. La entrega del premio se alterna anualmente entre Brasil y Portugal. Entre otras figuras destacadas que lo ganaron se encuentran los escritores Jorge Amado y José Saramago.
El jurado encargado de elegir al ganador está formado por representantes de Brasil, Portugal y países africanos de habla portuguesa, como Mozambique, Angola o Cabo Verde. La lengua portuguesa cuenta con más de 230 millones de hablantes en todo el mundo.
En los últimos años Chico Buarque se había pronunciado en contra del golpe institucional a Dilma Roussef, la detención de Lula, el asesinato de Marielle Franco, y obviamente también se pronunció en contra de Jair Bolsonaro. Este galardón se da justo una semana después de que cientos de miles de brasileños se hayan manifestado contra las medidas de recorte en educación y ciencia. A pesar de Jair Bolsonaro, la cultura Brasilera se sigue expresando y la palabra de Chico Buarque trasciende las fronteras.
Chico Buarque ganha o Prêmio Camões 2019
O cantor e escritor brasileiro Chico Buarque é o vencedor do Prêmio Camões 2019, um dos maiores reconhecimentos da literatura em língua portuguesa. O anúncio foi feito nesta terça-feira (21) na sede da Biblioteca Nacional, no Rio de Janeiro, pela presidente da instituição, Helena Severo.
A 31ª edição do prêmio, organizado pelos governos de Portugal e do Brasil, dá ao vencedor 100 mil euros. O júri responsável pela escolha, formado por representantes do Brasil, de Portugal e de países africanos de língua oficial portuguesa, anunciou o ganhador após reunião de quase duas horas.
Ainda não há previsão para data da cerimônia de entrega do prêmio.
«Fiquei muito feliz e honrado de seguir os passos de Raduan Nassar», afirmou Chico Buarque em nota, em referência ao último vencedor brasileiro. O autor de «Lavoura arcaica» e de «Um copo de cólera» foi reconhecido em 2016.
Instituído em 1988, o Prêmio Camões de Literatura tem o objetivo de reconhecer um autor de língua portuguesa que tenha «contribuído para o enriquecimento do patrimônio literário e cultural» do idioma através de seu conjunto da obra.
Conhecido principalmente como um dos maiores nomes da MPB, Chico Buarque conseguiu sucesso também como dramaturgo e como escritor. Além de ganhar os prêmios Jabuti de melhor livro do ano por «Leite Derramado» e por «Budapeste», também foi ganhador como melhor romance com «Estorvo».
«Os textos para teatro, as óperas são de uma qualidade sensacional. Assim também são os romances. Portanto é uma obra no seu conjunto que justifica está nossa decisão», afirma o jurado português Manuel Frias Martins, professor na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa.
«Ele não era o único nome, mas o Chico Buarque reúne uma universalidade que faltava a outros candidatos. Universalidade de tocar em várias culturas. E isto dava ao Chico um consenso quase natural. Foi relativamente fácil chegar ao nome dele.»
Veja as principais obras literárias e de teatro de Chico Buarque:
- «Chapeuzinho amarelo» (Autêntica), de 1970; livro infantil com ilustrações de Ziraldo
- «Fazenda modelo» (Civilização Brasileira), de 1974; novela
- «Gota d’água» (Civilização Brasileira), de 1974; peça de teatro
- «A bordo do Rui Barbosa», de 1981; poemas
- «Estorvo» (Companhia das Letras), de 1991; romance
- «Benjamin» (Companhia das Letras), de 1995; romance
- «Budapeste» (Companhia das Letras), de 2003; romance
- «Tantas palavras» (Companhia das Letras), de 2006; todas as letras
- «Leite derramado» (Companhia das Letras), de 2009; romance
- «O irmão alemão» (Companhia das Letras), de 2014; romance
13º ganhador brasileiro
Com a concessão deste prêmio, o cantor se torna o 13º brasileiro a fazer parte de um seleto grupo de grandes nomes como Jorge Amado (1994) e os portugueses José Saramago (1995) e António Lobo Antunes (2007), entre outros.
Para o jurado brasileiro Antônio Carlos Hohlfeldt, jornalista, escritor, professor universitário, político e presidente da Fundação Theatro São Pedro, em Porto Alegre, é impossível contar a história do Brasil entre os anos 1960 e 1990 sem conhecer a obra de Chico Buarque.
«A variedade de produção do Chico também foi importante. Ele tem a poesia, a dramaturgia e os romances. Particularmente, eu não sou muito fã dos romances, mas é indiscutível que um poema como construção, que trabalha com proparoxítonas rimadas, é um negócio extraordinário. É das coisas mais difíceis de fazer em língua portuguesa. Assim como outras tantas contribuições que o Chico tem, com penetração em todos esses países.»
O júri de 2019 foi composto por Clara Rowland e Manuel Frias Martins, de Portugal, Ana Paula Tavares, de Angola, Antonio Cicero Correia Lima e Antônio Carlos Hohlfeldt, do Brasil, e Nataniel Ngomane, de Moçambique. O anúncio do ganhador acontece alternadamente no Brasil e em Portugal.
Veja todos os vencedores da premiação:
- 1989 – Miguel Torga, Portugal
- 1990 – João Cabral de Melo Neto, Brasil
- 1991 – José Craveirinha, Moçambique
- 1992 – Vergílio Ferreira, Portugal
- 1993 – Rachel de Queiroz, Brasil
- 1994 – Jorge Amado, Brasil
- 1995 – José Saramago, Portugal
- 1996 – Eduardo Lourenço, Portugal
- 1997 – Artur Carlos M. Pestana dos Santos, o Pepetela, Angola
- 1998 – Antonio Cândido de Melo e Sousa, Brasil
- 1999 – Sophia de Mello Breyner Andresen, Portugal
- 2000 – Autran Dourado, Brasil
- 2001 – Eugênio de Andrade, Portugal
- 2002 – Maria Velho da Costa, Portugal
- 2003 – Rubem Fonseca, Brasil
- 2004 – Agustina Bessa-Luís, Portugal
- 2005 – Lygia Fagundes Telles, Brasil
- 2006 – José Luandino Vieira, Angola
- 2007 – António Lobo Antunes, Portugal
- 2008 – João Ubaldo Ribeiro, Brasil
- 2009 – Armênio Vieira, Cabo Verde
- 2010 – Ferreira Gullar, Brasil
- 2011 – Manuel António Pina, Portugal
- 2012 – Dalton Trevisan, Brasil
- 2013 – Mia Couto, Moçambique
- 2014 – Alberto da Costa e Silva, Brasil
- 2015 – Hélia Correia, Portugal
- 2016 – Raduan Nassar, Brasil
- 2017 – Manuel Alegre, Portugal
- 2018 – Germano Almeida, Cabo Verde
Nobel de Bob Dylan se sentiria à vontade no colo de Chico Buarque
Por Sérgio Rodrigues
Embora a nota oficial distribuída pelo júri do Prêmio Camões fale em “transversalidade” de uma obra “multifacetada, repartida entre poesia, drama e romance”, não parece haver dúvida de que a maior honraria da literatura de língua portuguesa foi concedida muito mais ao compositor Chico Buarque do que ao escritor Chico Buarque: 85-15 parece uma divisão de mérito artístico até generosa com a parte escrita de sua obra.
Não há demérito nisso, mas deve-se ter cuidado com a ideia. As comparações inevitáveis com o prêmio Nobel de Literatura concedido em 2016 a BobDylan, também um artista popular do ramo musical, não fazem inteira justiça ao brasileiro. A relação de Chico com a palavra é bem mais ampla e “literária” do que a do compositor americano.
A verdade é que Chico Buarque, vamos falar sério, parece muito menos surpreendente numa galeria de premiados que conta com Jorge Amado e Raduan Nassar do que Dylannuma festa de intelectuais frequentada por J.M. Coetzee e Mario Vargas Llosa. “Fiquei muito feliz e honrado de seguir os passos de Raduan Nassar”, disse o compositor ao saber do prêmio. Isso se deve em parte, é claro, ao fato de Chico ser autor não só de textos para serem cantados, mas também de muitos que foram concebidos para a leitura silenciosa ou declamada.
Alguém aí falou em “Tarântula”? Ora, o livrinho único de ficção experimental que Dylan publicou é uma curiosidade pálida quando comparado a uma obra que inclui diversos títulos de ficção e textos teatrais. Chico é mais escritor-escritor, não se discute.
No entanto, ainda não será por isso —ou não só por isso— que o autor de textos teatrais como “Gota
d’Água” e “Ópera do Malandro” e romances como “Budapeste” e “Leite Derramado” parece uma escolha natural para o Camões.
A chave está mesmo na canção, no apuro do verso que, mal nasce, parece ter existido desde Camões —o poeta, não o prêmio. O poeta Antonio Cícero, um dos jurados, mencionou a sempre lembrada “Construção”, canção de 1971, como prova de que a discussão sobre letra de música ser ou não ser poesia é papo furado.
De fato, “Construção” é um primor técnico com seus versos alexandrinos perfeitos, sua tônica na sexta e na 12ª sílabas, sua influência bem digerida das vanguardas poéticas brasileiras dos anos 1960. Material rico para teses acadêmicas, um critério de validação literária de peso.
Contudo, a qualidade superior do cancioneiro de Chico vai além da capacidade que ele demonstra de manejar, como se os tivesse inventado, basicamente todos os recursos disponíveis no patrimônio acumulado pelos vates desde Homero.
O Camões destacou “sua contribuição para a formação cultural de diferentes gerações em todos os países onde se fala a língua portuguesa”. Bingo. Mais do que qualquer outra qualidade, é esse alcance pan-lusofônico, a facilidade para atravessar fronteiras nas asas da canção popular, que torna Chico o poeta imenso que é.
Aí não tem jeito: a cordilheira imponente do cancioneiro buarquiano transforma em suave colina mesmo “Budapeste”, sua melhor obra de ficção, aquela em que o burilamento quase esteticista das palavras não leva a narrativa a escorregar aqui e ali, entre uma frase belíssima e outra, num tom artificioso ou mesmo, em momentos menos felizes, contrafeito.
“Budapeste” é uma pequena joia, mas empalidece porque a obra poética construída pelo homem no profícuo (e já quase extinto) subgênero da canção popular conhecido como MPB é de tal grandeza que o situa, sem favor algum, no time titular dos maiores artistas da história da língua portuguesa.
Um time de 11, digamos, para ficar num campo que lhe é familiar: Eça no gol, Machado com a 10, Pessoa se desdobrando em campo com a 8… Chico com a 11, como Canhoteiro.
Exagero? Duvido. Futebol e arte são caixinhas de surpresas, mas não passará longe desse olimpo um sujeito que aos vinte e poucos tinha escrito “Pedro Pedreiro” e “Retrato em Branco e Preto” —e que não parou mais.
É provável que o alcance cultural das canções do Chico não seja suficientemente claro para os brasileiros das novas gerações. Essa apreciação ficou ainda mais difícil nos últimos anos, quando o apoio inabalável de Chico a um PT que caía em desgraça o transformou em Geni —sua personagem “feita pra apanhar, boa de cuspir”— aos olhos de metade do país.
Sendo assim, convém lembrar: quem viveu no Brasil das últimas décadas do século 20 cresceu com uma dieta musical variada no estilo, mas coerente no sempre fino padrão de feitura, em que a limpeza clássica do verso está a serviço de uma cultura da língua de rara riqueza, compartilhada entre erudição e ouvido atento ao agora.
Faço uma lista sem pensar muito: “Samba do Grande Amor”, “Uma Canção Desnaturada”, “João e Maria”, “Olhos nos Olhos”, “Vai Passar”, “Beatriz”, “Eu Te Amo”.
Ao relê-la, me dou conta de que, como qualquer lista de canções do Chico, esta é repleta de obras-primas e de lacunas imperdoáveis. Camões é pouco. Já seria se Chico Buarque tivesse parado de compor aos 35 anos, e ele já vai com 74 —compondo menos, mas compondo. “Caravanas” é um disco de respeito.
Se escrevesse numa língua menos secreta, o Nobel de Dylan se sentiria à vontade em seu colo.
A obra de Chico Buarque
Chico Buarque de Hollanda (1966)
Primeiro disco de Chico, já trazia canções que virariam clássicos, como ‘A Rita’, ‘A Banda’ e ‘Olê Olá’
Roda Viva (1968)
Estreia de Chico como dramaturgo. A peça, atualmente em cartaz no Teatro Oficina, se tornou um símbolo de resistência à ditadura. Na sua segunda montagem, um grupo de militantes de direita invadiu o teatro e espancou os artistas
Construção (1971)
Um dos discos mais famosos de Chico. A canção que dá título ao álbum é feita em versos alexandrinos perfeitos que terminam sempre com proparoxítonas
Sinal Fechado (1974)
Este disco trazia gravações como ‘Sinal Fechado’, em dueto com Paulinho da Viola, e a canção de protesto ‘Acorda, Amor’, que Chico assinava como Julinho da Adelaide, pseudônimo que adotou para escapar da censura
Ópera do Malandro (1978)
Outro dos sucessos de Chico no teatro, o musical é inspirado na ‘Ópera dos Mendigos’, de John Gay, e na ‘Ópera dos Três Vinténs’, de Bertolt Brecht
Budapeste (2003)
Este romance, sobre um ‘ghostwriter’ em crise existencial que se refugia no idioma húngaro, rendeu a Chico o Prêmio Jabuti de melhor romance em 2004
Leite Derramado (2009)
O livro rendeu ao músico o Jabuti de livro do ano de ficção em 2010, embora tenha ficado em segundo na categoria romance. A notícia gerou uma polêmica sobre as regras do prêmio no meio editorial. O editor Sérgio Machado chamou o Jabuti de ‘concurso de beleza’