Bolsonaro promete en Davos que Brasil se abrirá al mundo con privatizaciones y reformas económicas

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Bolsonaro en Davos: «La izquierda no prevalecerá en América Latina»

El presidente brasileño, Jair Bolsonaro, abrió este martes con su discurso el Foro Económico Mundial de Davos, en Suiza, y, como lo había hecho en sus primeras declaraciones al asumir su cargo, aseguró que «la izquierda no prevalecerá en América Latina».

«No queremos una América bolivariana como hace poco existía en Brasil con gobiernos anteriores. La izquierda no prevalecerá, lo cual es muy bueno no solo para América del Sur sino también para el mundo», dijo ante los principales referentes políticos y económicos del mundo.

En esa línea, el mandatario vaticinó además que la ciudadanía de los países de la región optará por alternativas de centroderecha en futuros procesos electorales.

Se trata de la primera salida al extranjero de Bolsonaro, que asumió el cargo el 1 de enero y este año se convirtió en uno de los protagonistas del foro anual de Davos en ausencia de grandes líderes como Donald Trump, Theresa May o Emmanuel Macron, inmersos en sus propias crisis internas, consignó AFP.

Bolsonaro sostuvo que ha estado en contacto con los presidentes de Argentina, Chile y Paraguay, con quienes comparte la visión de una Sudamérica «fuerte».

Al evento lo acompañaron Paulo Guedes, su ultraliberal ministro de Economía, su ministro de Relaciones Exteriores, Ernesto Araújo, y de Justicia, el exjuez anticorrupción Sergio Moro, así como su hijo y diputado federal Eduardo Bolsonaro. El viaje se dio en medio de una creciente polémica por los ingresos sospechosos de su hijo mayor Flávio, legislador de la Asamblea Legislativa de Rio de Janeiro y senador electo que asumirá funciones el 1 de febrero.

En otro tramo de su discurso, prometió hacer compatible el desarrollo económico que quiere para su país con la preservación del medio ambiente. «El medio ambiente tiene que estar casado con el desarrollo. Pretendemos estar sintonizados con el mundo para disminuir el CO2 en la preservación del medio ambiente», afirmó.

Bolsonaro recalcó que la agricultura solo ocupa el 9% del territorio nacional y el sector agropecuario un 20%. «Hoy el 30% de Brasil son bosques. Somos un ejemplo para el mundo, lo que podamos perfeccionar lo perfeccionaremos», aseguró.

El exmilitar de 63 años enumeró la lista de reformas previstas, como abrir el país al comercio internacional, e hizo especial hincapié en la lucha contra la corrupción, un de sus promesas de campaña, y contra lo que llamó el «sesgo ideológico».

La situación regional también estará en la agenda de Bolsonaro en el foro, donde tiene una cena prevista con sus sus homólogos de Colombia, Ecuador, Perú y Costa Rica. Y en particular la situación en Venezuela, que tendrá un seminario específico en Davos, en el que Bolsonaro podría participar.

«Gozamos de la credibilidad para hacer as reformas de que necesitamos y que el mundo espera de nosotros», aseguró.El lunes el Fondo Monetario Internacional dio un espaldarazo a la economía del país en sus nuevas previsiones.

Según el FMI, la mayor economía latinoamericana está en la senda de la recuperación después de la recesión de 2015 y 2016, y auguró un crecimiento revisado al alza de 0,1 puntos porcentuales, hasta el 2,5% en 2019.

Según el FMI, las economías de Brasil y México divergirán aún más

Por su lado, la Argentina envió como representantes al ministro de Hacienda Nicolás Dujovne y al presidente del Banco Central Guido Sandleris. En la agenda figuran reuniones con inversores, banqueros y varios funcionarios.

Este miércoles estarán en el panel “Emerging Markets Outlook” (perspectiva de mercados emergentes) y el jueves tendrán una bilateral con Christine Lagarde, la directora gerente del Fondo Monetario Internacional.

Perfil


Em Davos, Bolsonaro diz que quer compatibilizar preservação ambiental com avanço econômico

Em sua estreia em eventos internacionais, o presidente Jair Bolsonaro discursou nesta terça-feira (22) na abertura da sessão plenária do Fórum Econômico Mundial, em Davos, na Suíça.

No discurso de pouco mais de seis minutos, Bolsonaro afirmou que:

– o governo investirá «pesado» em segurança para que estrangeiros visitem mais o Brasil
– pretende «avançar» na compatibilização de preservação ambiental e desenvolvimento econômico
– diminuirá a carga tributária para «facilitar a vida» de quem produz
– trabalhará pela estabilidade macroeconômica
– respeitará contratos
– promoverá privatizações
– fará o equilíbrio das contas públicas
– colocará o Brasil no ranking dos 50 melhores países para se fazer negócios
– fará a «defesa ativa» da reforma da Organização Mundial do Comércio (OMC)
– defenderá a família e os «verdadeiros» direitos humanos
– protegerá o direito à vida e à propriedade privada
– promoverá uma educação voltada aos desafios da «quarta revolução industrial», que consiste na aplicação de tecnologias modernas (como inteligência artificial, automação e 5G) na indústria

Bolsonaro foi o primeiro chefe de Estado da América Latina a discursar na abertura do fórum. Cerca de 250 autoridades do G20 (grupo que reúne as 20 principais economias do mundo) e de outros países compareceram ao evento, porém, a edição deste ano tem ausências importantes: os presidentes Donald Trump (EUA), Xi Jinping (China), Emmanuel Macron (França), Vladimir Putin (Rússia) e os primeiros-ministros Theresa May (Reino Unido) e Ram Nath Kovind (Índia).

O encontro deve contar com apenas três líderes do G7 (grupo formado pelos sete países mais industrializados do mundo): o primeiro-ministro do Japão, Shinzo Abe, a chanceler alemã, Angela Merkel, e o premiê italiano, Giuseppe Conte.

Preservação e desenvolvimento – Diante das desconfianças internacionais em relação à política do governo para a preservação ambiental, o presidente disse na abertura do fórum que o Brasil é o país que mais preserva o meio ambiente e afirmou que o governo quer compatibilizar preservação do meio ambiente e biodiversidade com avanço econômico.

Criticado por ambientalistas pelas mudanças que implementou na estrutura de preservação ambiental do governo, ele citou estatísticas para demonstrar aos líderes do planeta que o agronegócio não estaria avançando sobre áreas de preservação ambiental, como as florestas.

Segundo Bolsonaro, a agricultura ocupa somente 9% do território brasileiro, e a pecuária, menos de 20%. «Nossa missão é avançar na compatibilização da preservação do meio ambiente e biodiversidade com avanço econômico», discursou.

“Hoje, 30% do Brasil são florestas. Então, nós damos, sim, exemplo para o mundo. O que pudermos aperfeiçoar, o faremos. Nós pretendemos estar sintonizados com o mundo na busca da diminuição de CO2 e na preservação do meio ambiente», complementou o presidente depois do pronunciamento, ao responder perguntas dos organizadores.

Negócios – O presidente destacou que pretende investir em educação e repetiu, mais uma vez, que deseja tirar o «viés ideológico» dos negócios realizados com outros países, «visando o comércio com aqueles que comungam com práticas semelhantes à nossa».

Reforma na OMC – Bolsonaro defendeu uma reforma da Organização Mundial do Comércio (OMC). «Buscaremos integrar o Brasil ao mundo também por meio de uma defesa ativa da reforma da OMC, com a finalidade de eliminar práticas desleais de comércio e garantir segurança jurídica das trocas comerciais internacionais», disse no discurso.

Abertura da economia – Ele também afirmou que o governo vai promover uma abertura na economia do país. «O Brasil ainda é uma economia relativamente fechada ao comércio internacional, e mudar essa condição é um dos maiores compromissos deste governo.»

‘Crise ética’ e corrupção – O presidente afirmou à plateia do fórum que assumiu a Presidência da República com uma «profunda crise ética, moral e econômica». Após dizer que não aceitou pressões políticas para montar seu ministério, o presidente apresentou o ministro da Justiça e Segurança Pública, Sérgio Moro, como «homem certo» para o combate à corrupção e o combate à lavagem de dinheiro.

Segurança – «Vamos investir pesado na segurança para que vocês nos visitem com suas famílias, pois somos um dos primeiros países em belezas naturais, mas não estamos entre os 40 destinos turísticos mais visitados do mundo. Conheçam a nossa Amazônia, nossas praias, nossas cidades e nosso pantanal. O Brasil é um paraíso, mas ainda é pouco conhecido», declarou.

Reformas – Bolsonaro afirmou que tem «credibilidade» para realizar as reformas que o Brasil precisa e que o «mundo espera», sem especificar quais seriam as mudanças estruturais que pretende propor ao longo do mandato.

Ao final do pronunciamento, ao responder perguntas do fundador e presidente executivo do Fórum Econômico Mundial, Klaus Schwab, Bolsonaro mencionou a intenção de realizar as reformas previdenciária e tributária.

«Pretendemos diminuir o tamanho do Estado, realizar reformas, por exemplo, como a da Previdência e tributária, queremos tirar o peso do Estado de cima de quem produz, de quem empreende», afirmou Bolsonaro.

Mercosul – Em outro trecho da fase de perguntas e respostas, Jair Bolsonaro relatou aos participantes do fórum que conversou com os presidentes Mauricio Macri (Argentina), Sebastián Piñera (Chile) e Mario Abdo (Paraguai) sobre a necessidade de fazer mudanças no Mercosul. O bloco também é composto pelo Uruguai.

O presidente brasileiro não citou quais alterações defende, mas já defendeu, após um encontro com Macri, um Mercosul “enxuto”.

“Estamos preocupados sim em fazer uma América do Sul grande, que cada país, obviamente, mantenha a sua hegemonia local. Não queremos uma América bolivariana como há pouco existia no Brasil em governos anteriores”, afirmou.

‘Resposta’ à esquerda – Bolsonaro ressaltou as vitórias recentes em países do continente de políticos de centro e de centro-direita o que, segundo ele, é uma “resposta” à esquerda. “Creio que isso seja uma resposta que a esquerda não prevalecerá nessa região, o que é muito bom no meu entender, não só para América do Sul, bem como para o mundo”, opinou.

G1


Discurso do Presidente da República, Jair Bolsonaro, durante a Sessão Plenária do Fórum Econômico Mundial – Davos, Suíça, 22 de janeiro de 2019

Confesso que estou emocionado e me sinto muito honrado em me dirigir a uma plateia tão seleta.

Hoje em dia, um precisa do outro. O Brasil precisa de vocês, e vocês, com toda certeza, em parte, precisam do nosso querido Brasil.

Boa tarde a todos.

Agradeço a honra de me dirigir aos senhores já na abertura desta sessão plenária.

Esta é a primeira viagem internacional que realizo após minha eleição, prova da importância que atribuo às pautas que este fórum tem promovido e priorizado.

Esta viagem também é para mim uma grande oportunidade de mostrar para o mundo o momento único em que vivemos em meu país e para apresentar a todos o novo Brasil que estamos construindo.

Nas eleições, mesmo gastando menos de 1 milhão de dólares e com apenas poucos segundos de televisão, e sendo injustamente atacado a todo tempo, conseguimos a vitória.

Assumi o Brasil numa profunda crise ética, moral e econômica.

Temos o compromisso de mudar a nossa história.

Pela primeira vez no Brasil um presidente montou uma equipe de ministros qualificados. Honrando o compromisso de campanha, não aceitando ingerências político-partidárias que, no passado, apenas geraram ineficiência do Estado e corrupção.

Gozamos de credibilidade para fazer as reformas que precisamos e que o mundo espera de todos nós.

Aqui entre nós, meu ministro da Justiça, Sérgio Moro, o homem certo para o combate à corrupção e para o combate à lavagem de dinheiro.

Vamos investir pesado na segurança para que vocês nos visitem com suas famílias, pois somos um dos países primeiros em belezas naturais, mas não estamos entre os 40 destinos turísticos mais visitados do mundo. Conheçam a nossa Amazônia, nossas praias, nossas cidades e nosso Pantanal. O Brasil é um paraíso, mas ainda muito pouco conhecido.

Somos o país que mais preserva o meio ambiente. Nenhum outro país do mundo tem tantas florestas como nós. A agricultura se faz presente em apenas 9% do nosso território e cresce graças a sua tecnologia e graças à competência do nosso produtor rural. Menos de 20% do nosso solo é dedicado à pecuária. Essas commodities, em grande parte, garantem superávit em nossa balança comercial e alimentam boa parte do mundo.

Nossa missão agora é avançar na compatibilização entre a preservação do meio ambiente e da biodiversidade com o necessário desenvolvimento econômico, lembrando que são interdependentes e indissociáveis.

Os setores que nos criticam têm, na verdade, muito o que aprender conosco.

Queremos governar pelo exemplo e queremos que o mundo restabeleça a confiança que sempre teve em nós.

Vamos diminuir a carga tributária, simplificar as normas, facilitando a vida de quem deseja produzir e empreender, investir e gerar empregos.

Trabalharemos pela estabilidade macroeconômica, respeitando os contratos, privatizando e equilibrando as contas públicas.

O Brasil ainda é uma economia relativamente fechada ao comércio internacional, e mudar essa condição é um dos maiores compromissos deste Governo.

Tenham certeza de que, até o final do meu mandato, nossa equipe econômica, liderada pelo ministro Paulo Guedes, nos colocará no ranking dos 50 melhores países para se fazer negócios.

Nossas relações internacionais serão dinamizadas pelo ministro Ernesto Araújo, implementando uma política na qual o viés ideológico deixará de existir.

Para isso, buscaremos integrar o Brasil ao mundo, por meio da incorporação das melhores práticas internacionais, como aquelas que são adotadas e promovidas pela OCDE.

Buscaremos integrar o Brasil ao mundo também por meio de uma defesa ativa da reforma da OMC, com a finalidade de eliminar práticas desleais de comércio e garantir segurança jurídica das trocas comerciais internacionais.

Vamos resgatar nossos valores e abrir nossa economia.

Vamos defender a família, os verdadeiros direitos humanos; proteger o direito à vida e à propriedade privada e promover uma educação que prepare nossa juventude para os desafios da quarta revolução industrial, buscando, pelo conhecimento, reduzir a pobreza e a miséria.

Estamos aqui porque queremos, além de aprofundar nossos laços de amizade, aprofundar nossas relações comerciais.

Temos a maior biodiversidade do mundo e nossas riquezas minerais são abundantes. Queremos parceiros com tecnologia para que esse casamento se traduza em progresso e desenvolvimento para todos.

Nossas ações, tenham certeza, os atrairão para grandes negócios, não só para o bem do Brasil, mas também para o bem de todo o mundo.

Estamos de braços abertos. Quero mais do que um Brasil grande, quero um mundo de paz, liberdade e democracia.

Tendo como lema “Deus acima de tudo”, acredito que nossas relações trarão infindáveis progressos para todos.

Meu muitíssimo obrigado.

Itamaraty


Agenda de Bolsonaro em Davos se limita a encontros com políticos nacionalistas

Prometendo apresentar um Brasil «sem amarras ideológicas», o presidente Jair Bolsonaro concentrará sua agenda bilateral em Davos, durante o Fórum Econômico Mundial, em encontros exclusivamente com governos conservadores, nacionalistas e que fazem parte de um movimento que contesta o que chamam de «globalismo».

A agenda do brasileiro inclui encontros com Polônia, República Tcheca, Japão, Itália e Suíça, todos comandados por governos com forte características de questionamento do atual sistema e pautado em assuntos que tocam em temas como soberania e rejeição às instituições internacional.

Na quarta-feira, 23, Bolsonaro vai se reunir com o governo da Itália, liderado pela extrema-direita e com um forte discurso anti-imigração. O caso de Cesare Battisti deve estar na pauta e fontes em Roma confirmaram ao Estado que os italianos querem abrir um «novo capítulo» na relação bilateral, como resposta ao gesto brasileiro.

Bolsonaro estará com o primeiro-ministro italiano, Giuseppe Conte, que, no dia da prisão de Battisti, telefonou para negociar com o brasileiro uma deportação direta do condenado, sem passar pelo Brasil.

O presidente brasileiro também tem um encontro fechado com o primeiro-ministro do Japão, Shiunzu Abe, eleito com uma plataforma nacionalista.

Bolsonaro ainda se reunirá com o presidente da Polônia, Andrzej Duda, alvo de polêmicas por ser acusado de violar a constituição de seu país para escolher seus próprios juízes da Suprema Corte. Ele também manobrou para assinar uma lei em que passaria a ser ilegal acusar a «nação polonesa» por cumplicidade no Holocausto.

A agenda inclui reunião com o primeiro-ministro da República Tcheca, Andrej Babis. Ele é um forte crítico da abertura de fronteiras para imigrantes e insiste que é contra o euro.

Outro encontro bilateral de Bolsonaro no dia 23 será com o presidente da Suíça, Ueli Maurer, que lidera o partido de direita no país. Maurer é do Partido do Povo Suíço que, há poucos anos, criou uma polêmica internacional ao fazer uma publicidade sugerindo que as ovelhas brancas chutassem para fora da Suíça as ovelhas negras.

O encontro tem sido alvo de debates, já que partidos políticos de centro e esquerda querem garantias de que Maurer também tratará de temas como meio ambiente, democracia e direitos humanos com Bolsonaro.

A agenda se contrasta com a promessa do tom do discurso oficial, em que Bolsonaro supostamente vai falar nesta terça-feira, 22, ao meio dia, no horário brasileiro, que o País está disposto a fazer negócios com «todos os países do mundo». Antes de chegar a Davos, Bolsonaro insistiu nas redes sociais que anunciaria que o «Brasil mudou» e que estaria livre das «amarras ideológicas».

Na manhã desta terça, saindo pela garagem de seu hotel em Davos, Bolsonaro fez um rápido passeio pela cidade suíça. Ele saiu com um carro em que também levava seu filho, o deputado Eduardo Bolsonaro. O passeio não estava na agenda e não foi anunciado pela sua assessoria.

Estadao


O PRIMEIRO SPEECH A GENTE NUNCA ESQUECE – Por Guilherme Casarões

Bolsonaro, em Davos, fez um brevíssimo discurso, que ele mesmo admitiu ter sido escrito a diversas mãos. Se, na superfície, a fala pareceu muito comedida e genérica o bastante para não desagradar, algumas coisas chamaram a atenção.

Primeiro: houve uma clara tentativa de agradar aos interlocutores de Davos, ao trazer o tema ambiental: «Somos o país que mais preserva o meio ambiente». Tratou, como esperado, preservação e desenvolvimento como temas «interdependentes e indissociáveis». O Brasil diz isso há meio século – a novidade é Bolsonaro trazer essa pauta.

Segundo: os três ministros presentes na delegação, Moro, Guedes e Ernesto Araújo, foram citados nominalmente. Além de estarem na audiência, eles são importantes porque se encaixam bem na narrativa do Novo Brasil, de superação da crise ética (combate à corrupção), moral (antiglobalismo conservador) e econômica (liberalismo econômico).

No mais, foi um discurso que contemplou o que venho chamando de «os cinco Bs do governo»: além da bancada BBB (Boi/Bíblia/Bala), o B de bancos, referente aos liberais da equipe econômica, e o B de Bolsonaro, relativo a núcleo olavista/antiglobalista. Em vez de fazer uma fala coerente para fora, preferiu jogar para a plateia interna.

Aos evangélicos, falou em defesa da família, dos «verdadeiros» direitos humanos (conceito que não faz sentido em nenhum lugar do mundo) e de proteger o direito à vida (contra o aborto) e à propriedade privada (em referência, talvez, à questão das armas).

Aos ruralistas, fez elogios à tecnologia da agroindústria, ao superávit gerado pela exportação de commodities e ao papel do Brasil na garantia da segurança alimentar do mundo. Na única menção concreta à política externa, falou sobre reforma da OMC, tema caro ao agronegócio.

Ao grupo da bala, no qual também incluo os militares palacianos, Bolsonaro brindou com a abertura do discurso, em que fez uma associação meio torta entre violência urbana e baixo desempenho no turismo para justificar «investimentos pesados em segurança pública». Ao falar que o Brasil é um paraíso ainda inexplorado, louvando as belezas naturais e a abundância de recursos minerais, escorregou para a retórica ufanista, tipicamente militar.

Aos liberais, reforçou, em vários momentos, as pautas de equilíbrio fiscal, privatizações e abertura econômica – o principal compromisso do governo. Na seção de perguntas, tocou, superficialmente, no tema das reformas da previdência e tributária. Falou muito em empreendedorismo e na busca das preparação dos jovens para a «Indústria 4.0».

Aos antiglobalistas, falou três vezes em acabar com o viés ideológico da diplomacia e do comércio. Adiante, deixou claro que quer ver a América Latina e o mundo livres da esquerda. Para este fim, sinalizou coordenação com outros governos de direita na região, como Argentina, Chile e Paraguai, como já vimos desde a realização da Cúpula Conservadora das Américas.

Minhas impressões gerais são as seguintes: foi um discurso muito curto, de pouco brilho e impacto. Deu as linhas gerais do «novo Brasil», mas ficou muito preso aos grupos internos e suas dinâmicas de poder. Não se preocupou em dar coesão à fala, que ficou fragmentada e desconexa, mesmo em 6 parcos minutos.

Errou feio ao manter o tom de discurso de campanha, fazendo comentários infantis e pouco comprometidos com os valores democrático-liberais, como ao dizer que a esquerda perder eleições «é bom para a região e para o mundo» ou falar que as relações internacionais do Brasil serão regidas pelo lema «Deus acima de tudo» (sic).

Acertou em tratar de meio ambiente, de combate à corrupção e de abertura econômica. Talvez não saibam que há muitos negacionistas climáticos no governo (para não falar de outras coisas). Também achei interessante ele ter flertado com o tal do globalismo, em franca continuidade do que o Brasil já faz, ao dizer que quer incorporar «melhores práticas internacionais» da OCDE: sinal de que, na hora H do grande teste internacional, Moro e Guedes falam mais alto que Ernesto.

Ainda assim, para os interlocutores internacionais, permanece o desafio de entender qual é o Brasil com que vão lidar nos próximos quatro anos.

Guilherme Casarões


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