Eduardo Bolsonaro, diputado e hijo del presidente electo: “EEUU siempre fue el principal aliado de Brasil”

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Eduardo Bolsonaro defende guinada na relação com EUA 

Por Fabio Murakawa

Deputado federal mais votado nas eleições de outubro, Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) escolheu a esfera internacional como sua principal área de atuação no futuro governo. Ele recebeu 1.843.735 votos em outubro, na esteira da onda conservadora que levou Jair Bolsonaro à Presidência da República. Com o pai instalado no Palácio do Planalto, a partir de janeiro, Eduardo pretende se tornar uma liderança brasileira nessa área.

Ele é um dos maiores entusiastas da mudança da embaixada do Brasil em Israel de Tel-Aviv para Jerusalém, o que desagrada os países árabes. Diz que a mudança é apenas uma questão de tempo, apesar de auxiliares de Bolsonaro, como a futura ministra da Agricultura, Tereza Cristina, e o vice Hamilton Mourão alertarem para os riscos que a medida pode acarretar para o comércio e a segurança do país.

Mas sua grande meta é estreitar as relações com os EUA, onde esteve na semana passada para encontros com autoridades do governo Donald Trump. Para ele, é possível fazer com que o país volte a ser o principal parceiro comercial do Brasil, posto que perdeu para a China em 2009, penúltimo ano do governo Lula, «por razões ideológicas».
Eduardo Bolsonaro diz na entrevista que também por motivos ideológicos a Alemanha nazista se tornou a principal parceira do Brasil na era Vargas. É um exagero. Embora o comercial bilateral teuto-brasileiro tenha crescido à época, não superou o realizado com os Estados Unidos.
Após ouvir dos americanos queixas sobre as dificuldades para investir no país, Eduardo pretende articular «uma câmara direta, formada por notáveis da área dos negócios dos dois países», para estimular o comércio bilateral. Nos EUA, ele disse a investidores que a reforma da Previdência talvez não seja aprovada no governo Bolsonaro. Na terça-feira, negou a jornalistas ter levado uma bronca do pai por causa disso.
Eduardo é também um dos organizadores da Cúpula Conservadora das Américas, que ocorre sábado em Foz do Iguaçu (PR). Uma espécie de Foro de São Paulo às avessas, o evento reunirá líderes e economistas conservadores brasileiros e da América Latina.
O filho do futuro presidente falou ao Valor por cerca de dez minutos em seu carro, no trajeto entre o Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), onde funciona o governo de transição, e a Câmara. Leia abaixo a íntegra da entrevista:
Qual a ideia por trás da Cúpula Conservadora?
A ideia é que a gente aproveite essa guinada à direita, essa linha conservadora nos costumes, o pessoal que é contra a ideologia de gênero, que é a favor do livre mercado, que nós troquemos ideias. E que a gente chegue a alguns denominadores comuns em todos os países. É se organizar, afinar a comunicação. Aquilo que é gritado no Brasil é gritado no Chile, na Colômbia, nos Estados Unidos. Esse giro que eu tenho dado, Estados Unidos e Colômbia, estou também indo para Paraguai e Chile, tem servido apenas para corroborar aquele sentimento que a gente já tinha. Quando a gente vai «in loco» e vê o que acontece, a gente vê que tem a necessidade de a gente se aproximar dos nossos irmãos aqui.
Quais tópicos serão discutidos? Pode sair o esboço de uma aliança de países ou algo assim?
Além de ter um ambiente ali para troca de contatos com autoridades de todos os países das Américas, a gente vai redigir um documento final, uma espécie de carta, que provavelmente vai ser corroborada por todos os presentes. É uma maneira simbólica de dizer quais diretrizes são essas, nas seguintes áreas: segurança, economia, cultura e política.
E como foi a sua viagem aos Estados Unidos?
Fui a convite de dois «think tanks» dos EUA para palestrar lá. E é indissociável. Eu fui apresentado como o deputado federal mais votado do país. E inevitavelmente associam a minha imagem à do meu pai, que foi o grande avalista, o grande apoiador da minha campanha. E eles estão curiosos para saber que mudança é essa que está ocorrendo no Brasil. Porque por vezes há uma carência de informação. Nem sempre a informação chega até lá ou, se chega, não chega fidedigna. Eu fui para lá dizer que a gente tem ao lado do Jair Bolsonaro, na sua tropa ministerial, pessoas como o Paulo Guedes, que tem uma politica notoriamente liberal, que prega um Estado menor, o que vai ao encontro do combate à corrupção pregado pelo juiz Sergio Moro. Que existem pessoas do quilate do general [Augusto] Heleno [futuro chefe do Gabinete de Segurança Institucional], que tem fama internacional por ter comandado a Amazônia e ter pacificado o Haiti. É uma equipe que se forma nunca antes vista. E todos no sentido também de dar uma guinada na área comercial internacional.
Guinada rumo aos EUA?
Os EUA sempre foram o principal parceiro econômico do Brasil. Só não foram em dois momentos da nossa história. Um nos anos 1930, quando o presidente Getúlio Vargas se aproximou de Hitler, e nós tivemos a Alemanha nazista como principal parceiro comercial do Brasil. E novamente agora, por razões ideológicas, a China, que desde 2009 é a principal parceira comercial do Brasil.
Não é importante o comércio com a China?
Eu acho que a China indiscutivelmente sempre estará no topo desse ranking, mas a gente ouviu muita reclamação dos EUA com relação à burocracia, incerteza, falta de segurança jurídica, voltar ao chamado «rule of law», para ter segurança jurídica para eles poderem investir. Outros reclamaram que não conseguem investir por conta das licenças ambientais ou se deparam com algum tipo de corrupção. Então, nisso daí, a gente consegue se abastecer e ver do lado de cá o que pode ser feito. E eu sonho em fazer através da intermediação do ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, uma câmara direta, formada por notáveis da área dos negócios, entre uma parte brasileira, uns 10, 15 nomes. E do lado de lá uma parte americana, com 10, 15 nomes, a fim de se debruçar em como fazer um negócio mais pujante entre o Brasil e os Estados Unidos.
Fazer com que os EUA voltem a ser o maior parceiro comercial do Brasil pode ser a principal mudança na política externa do governo Bolsonaro?
Com certeza. Imagina só, você destravando esses obstáculos, o quanto que a gente não poderia gerar de emprego aqui, melhorar nossa infraestrutura, por exemplo, para escoar nossos produtos agrícolas. Tem muita coisa a ser feita no Brasil. E, sendo feita sem corrupção, acredito que tem dinheiro e dá para fazer.
O senhor chegou a conversar sobre isso com autoridades que encontrou lá nos EUA?
Eu conversei com autoridades do governo. Conversei com a Kim Breier [secretária-adjunta para assuntos do Hemisfério Ocidental], com o Jared Kushner [genro e assistente sênior de Trump], com o 02 do tesouro, o senhor David Malpass, conversei com uma assessoria do vice-presidente Mike Pence. E no sentido de estreitar a relação, dizer que o Brasil está aberto, que a gente não faz mais sinal da cruz quando passa um americano em algum evento. A gente vai tomar um café.
Comer pão com leite condensado?
Quem sabe um pão com leite condensado na residência do Jair Bolsonaro? [risos] Acho que o senhor John Bolton [assessor de Segurança Nacional de Trump] saiu muito satisfeito daquela reunião. É como disse o senhor Bolton. Do lado de lá ele falou isso, mas do lado de cá a recíproca é verdadeira. A gente está vivendo um momento histórico que tem tudo para dar certo. E voltando à questão da cúpula. Eu quero que a gente consiga se organizar a tal ponto que essa prosperidade seja permanente, e não só momentânea nesses quatro anos de governo.
Alguma chande de o presidente Trump vir para a posse?
Eu acho que o Bolton está falando isso diretamente com o Trump. Eu não sei exatamente, mas o convite sendo enviado para o Trump, o Pence ou qualquer outra autoridade americana, certamente vai ser bem representado aqui.
Como vai ser a relação com os países não alinhados, como Bolívia e Venezuela, por exemplo?
Vai ser estritamente comercial. A gente tem que dar condições para quem tem a colaborar com a gente. Seja colaborar comprando nossos produtos, investindo o dinheiro aqui. É basicamente dessa maneira. Também cooperação tecnológica. A gente tem bons olhos voltados para essa área junto ao governo de Israel. É isso o que a gente espera. E não somente o viés ideológico onde o Brasil só se ferrava. Ano passado a gente teve que aprovar no Congresso um calote da Venezuela porque, se não fosse assim, as sanções internacionais que o Brasil sofreria seriam piores. Esse tempo aí acabou.
A mudança da embaixada para Jerusalém sai mesmo?
Sai. O negócio é quando. Eu sou entusiasta para que seja no primeiro mês do governo.
 representação da Palestina aqui no Brasil continua?
Isso vai ser tratado pelo ministro Ernesto Araújo. Mas eu creio que essa embaixada, exatamente ao lado da Presidência, não é algo visto com bons olhos. A embaixada de ninguém, não só da Palestina, mas de qualquer outro país.

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