Em 14 anos, mais de 1,8 mil jornais fechados nos Estados Unidos – Por Ricardo Carnevali

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Por Ricardo Carnevali*

Entre o ano de 2004 e este que vivemos, os Estados Unidos perderam mais de 1,8 mil jornais, que fecharam suas redações, expandindo os “desertos de notícias” locais, onde a pouca ou nenhuma informação sobre os assuntos públicos contribui para os que fazem política através da desconexão das pessoas com a realidade – sem contar o problema da concentração da comunicação e da informação nas mãos de poucas e cada vez menos grandes empresas.

Um estudo realizado pela Escola de Meios e Jornalismo da Universidade da Carolina do Norte (UNC) revelou que mais de um quinto dos diários ou semanários dos Estados Unidos deixaram de existir nestes 14 anos, e o resultado disso é que “milhares de comunidades correm o risco de se tornarem novos desertos informativos”.

Outra parte dessa turbulência se observa no fato de que mais da metade dos jornais mudaram de proprietário na última década. Atualmente, as 25 maiores cadeias possuem um terço do total dos meios gráficos, o que permite a elas concentrar e difundir somente informações que são vantajosas aos seus interesses, e ocultar as demais.

Metade dos 3,1 mil condados dos Estados Unidos possui apenas um jornal, geralmente um pequeno semanário, e há quase 200 que não têm nenhum. “As pessoas com menos acesso às notícias regionais costumam ser as mais vulneráveis: as mais pobres, as mais isoladas e, logo, as com menor acesso à educação”, comenta o informe da UNC.

O estudo destaca o estado sombrio da alguma vez próspera indústria dos periódicos. A perda de tantos diários locais, resultado da transformação digital na indústria, torna mais difícil manter os cidadãos informados e fazer com que os funcionários públicos prestem contas sobre suas práticas e deveres.

Segundo os analistas norte-americanos, são dois os fenômenos que caracterizam as organizações envolvidas no ramo das notícias nos Estados Unidos: a Internet não potenciou a diversidade geográfica, mas sim a concentração de empresas em Nova York e nas regiões costeiras. Além disso, os grandes meios continuam absorvendo poder e adquirindo outros menores, incapazes de sobreviver. Concentração geográfica e fusões massivas são os eixos que justificam os fechamentos.

Um informe deste ano do Pew Research Center mostra que os empregos nas redações jornalísticas caíram 23% desde 2008, principalmente nos meios gráficos. Embora os Estados Unidos ainda tenham 7,1 mil jornais diferentes em circulação, muitos são quase fantasmas, com pessoal reduzido e menos recursos para as coberturas, o que os levam a repetir as informações das grandes usinas e megaempresas de comunicação.

Apesar da abundância de notícias mundiais e nacionais online, a cobertura dos problemas locais importantes está diminuindo, e não há solução fácil para isso, nem interesse em ressaltar os problemas cotidianos dos cidadãos. “Precisamos assegurar que aquilo que surja para substituir os impressos neste Século XXI cumpra com as mesmas funções, como a de promover a construção comunitária”, destaca o estudo.

(*) Ricardo Carnevali é doutorando em Comunicação Estratégica e investigador do Observatório em Comunicação e Democracia, associado ao Centro Latino-Americano de Análise Estratégica (CLAE)

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