A partir de 1º de outubro haverá uma nova história entre Bolívia e Chile – Por Sullkata M. Quilla
Por Sullkata M. Quilla*
O presidente boliviano Evo Morales afirmou que a partir do dia 1º de outubro haverá uma nova história entre a Bolívia e o Chile, em alusão ao anúncio da Corte Internacional de Justiça (CIJ) de Haia, que marcou para esse dia a leitura da decisão definitiva sobre a demanda marítima boliviana, iniciada em 2013, que reivindica o acesso ao Oceano Pacífico, arrebatado após a invasão chilena durante a Guerra do Pacífico (1879-1883).
Morales disse que a Bolívia “tem muitas esperanças e muita fé” em sua postura que, assegurou, está fundada na verdade e no direito internacional. “A partir do primeiro dia de outubro, haverá uma nova história para a Bolívia e para o Chile, nas que haverá novas relações diplomáticas, e se resolverão os temas pendentes entre os países, porque somos vizinhos e irmãos para sempre, e não podemos conviver tendo essas diferenças ainda vigentes”, afirmou o mandatário boliviano.
Por sua parte, e através do twitter, o presidente chileno Sebastián Piñera abordou o mesmo assunto, e disse que seu país “respeita os tratados internacionais vigentes, e por isso cumpriremos e faremos cumprir o Tratado de 1904, assinado pela Bolívia”, ao se referir ao documento que permitiu ao Chile legitimar a soberania do país sobre os 400 quilômetros de costa da região de Antofagasta, cerca de 120 mil quilômetros quadrados de território que até 1879 pertenciam à Bolívia, e cuja perda decretou a mediterraneidade do país do altiplano.
“Seguiremos defendendo com firmeza a nossa soberania e integridade territorial. Esperamos com tranquilidade e unidade a sentença da Corte de Haia”, comentou Piñera na rede social. Na mesma linha do seu presidente, o chanceler chileno Roberto Ampuero afirmou que “o Chile respeita os tratados vigentes e clama pela unidade de todos os chilenos diante da decisão que virá de Haia”.
A Bolívia apresentou em 2013 uma demanda contra o Chile na CIJ, para que fossem concretizados os oferecimentos feitos pelos chilenos ao longo da história, nos quais os vizinhos aceitaram negociar uma saída soberana ao Oceano Pacífico, para remendar a perda boliviana após a invasão de 1879. “A Corte deve estabelecer e ser a garantia de um diálogo, uma negociação de boa fé sobre todos os temas oferecidos pelo Chile durante quase um século, incluindo acordos que algumas vezes não foram cumpridos, oferecimentos diversos e resoluções da OEA a respeito do tema”, relembrou o presidente Morales.
“Assim como o Chile, a América Latina e o mundo, estarão atentos a esta decisão”, afirmou o mandatário boliviano. “A CIJ sempre é uma esperança para resolver os temas pendentes entre os Estados que são parte das Nações Unidas”, concluiu.
Por sua parte, o ex-presidente Carlos Mesa, porta-voz internacional da demanda, admitiu que “o pai da demanda marítima é o presidente Evo Morales, pela decisão política de levar o tema até o Tribunal de Haia”, e disse que apesar das diferenças políticas que tem com Morales, não pode negar seu mérito no trabalho de reivindicação marítima. “Meu distanciamento político com ele não fará com que eu deixe de enaltecer o seu papel neste caso”, afirmou um dos líderes da direita boliviana.
Os cidadãos bolivianos “esperam com confiança, porque trabalhamos juntos como Estado, como uma equipe, sem improvisações e com coerência”, completou Mesa.
Direto de Haia, o agente da Bolívia na CIJ, o ex-presidente Eduardo Rodríguez Veltzé, pediu à população boliviana para esperar a decisão do alto tribunal “em um clima de unidade e serenidade”, e sem triunfalismos. “Este é um tema que mobiliza as expectativas de 11 milhões de bolivianos, não é só uma delegação em Haia, estamos todos ansiosos, e eu queria sentir que todos os bolivianos seguirão esta decisão em clima de unidade. É a nossa oportunidade de mostrar ao mundo que somos um povo unido, sem diferenças de nenhuma ordem, e o mais importante, conscientes de que estamos dando um passo a mais no caminho de uma solução que será muito importante”, disse.
(*) Sullkata M. Quilla é antropóloga e economista boliviana, e analista associada ao Centro Latino-Americano de Análise Estratégico (CLAE)