Evo Morales e militarização argentina na fronteira: »não nos intimidarão» – Por Sullkata M. Quilla

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Por Sullkata M. Quilla*

O presidente da Bolívia, Evo Morales, criticou a Argentina por enviar centenas de militares à sua fronteira conjunta, e assegura que “não vão nos intimidar com essas ameaças”.

O mandatário afirmou que não está de acordo com as medidas adotadas pelo governo da Argentina, “que busca militarizar a fronteira próxima a La Quiaca, querem nos amedrontar, mas não vão conseguir”. A declaração foi dada durante a abertura de uma escola na região de Chuquisaca, no sul do país.

“Temos profundas diferenças com o sistema capitalista, com o imperialismo estadunidense, mas para enfrentá-las, necessitamos mais unidade. Enquanto estivermos unidos, ninguém poderá frear o nosso processo de mudanças”, manifestou Morales.

No dia 17 de agosto, o presidente da Argentina, Mauricio Macri, inaugurou uma base militar na cidade de La Quiaca, limítrofe com a Bolívia, como parte de um plano de reforma para que as Forças Armadas que o seu país realiza, com tarefas que, segundo o governo argentino, são de segurança interior. Até o momento, Buenos Aires enviou à zona um primeiro contingente de 500 soldados, como parte do Operativo Integração Norte, embora esteja previsto que sejam 3 mil até o final do ano.

A iniciativa militar argentina diz respeito ao plano de reforma das Forças Armadas impulsado pelo presidente Mauricio Macri, para que se executem tarefas de segurança interior. O polêmico ministro de Defensa de Macri, Oscar Aguad, destacou que não está prevista a abertura de uma base militar em Jujuy (capital provincial argentina mais próxima à fronteira com a Bolívia), e acrescentou que a Argentina “tem uma excelente relação com os vizinhos”.

Segundo Aguad, “o plano de aumentar a capacidade militar na fronteira norte forma parte de um programa do governo de Macri para dar apoio logístico às forças de segurança na luta contra o narcotráfico e é parte de uma decisão soberana da Argentina”, indicou.

Morales afirmou que as bases militares estadunidenses, como as promovidas pela Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), não são um sinônimo de liberação.

“A OTAN e as bases militares estadunidenses são sinônimo de roubo, sinônimo de saque, de confrontação, de guerra”, disse o mandatário boliviano, e emendou com a consigna de que “enquanto estivermos unidos, ninguém poderá conter nossos processos de mudança”.

“São invenções; para que necessitamos militares dos Estados Unidos se nós temos forças militares profissionais que podem realizar tranquilamente o seu trabalho”, respondeu o embaixador argentino em La Paz, Normando Álvarez García. Por sua parte, a chancelaria argentina afirmou que as declarações do presidente Evo Morales “parecem ser uma apreciação formulada a partir do completo desconhecimento dos antecedentes do tema em questão”.

Recordações da escravidão

Morales celebrou o Dia internacional de Recordação da Escravidão e sua Abolição, data estabelecida em homenagem às pessoas que são vítimas desse flagelo social. Rendeu tributo aos que lutaram por um mundo sem escravidão, e fez um chamado evitar que o planeta caminhe para um novo mundo de escravos do capitalismo. “Não devemos esquecer este nefasto passado, para não nos tornarmos nós mesmos os próximos escravos do capitalismo”, tuitou o presidente.

Em 1998, a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) instaurou esta data como homenagem ao começo da Revolução Haitiana, em 1791, o primeiro e único levantamento de escravos bem sucedido na história. A finalidade desse dia internacional é inscrever a tragédia do comércio de escravos na memória de todos os povos, para evitar sua repetição.

Advertência de complô

Por sua parte, o partido governista Movimento Ao Socialismo (MAS) advertiu que políticos da oposição preparam um complô orquestrado desde o exterior para desestabilizar a Bolívia e desgastar a imagem do presidente Evo Morales, com o intuito de impedir ou prejudicar sua candidatura às eleições de 2019.

O deputado David Ramos informou que os planos dos detratores de Morales incluem desencadear protestos nas ruas, gerar violência e semear mentiras para confundir a população, criando instabilidade política, econômica e social. Ramos desafiou os rivais políticos do MAS a apresentar propostas alternativas para o desenvolvimento do país, em vez de “mentir à comunidade internacional, dizendo que a Bolívia vive uma ditadura”.

“Vemos com bastante preocupação o complô da direita internacional, ligada ao imperialismo, como os que se estão gestando na Venezuela e na Nicarágua. Hoje, essa mesma estratégia de complô começa a ser impulsada em nosso país, com o anúncio dos ex-presidentes Carlos Mesa e (Jorge) Tuto Quiroga, de que a Bolívia estaria vivendo uma convulsão social, o que não é verdade”, disse.

Segundo Ramos, apesar do afã conspirativo da direita, “a candidatura do nosso irmão presidente Evo Morales já é um fato”.

Em recente visita ao país, o relator da Comissão Interamericana de Direitos Humanos, Francisco José Eguiguren, “certificou clara e concretamente que Bolívia vive uma democracia plena e concreta, e isso é o mais importante”, enfatizou o dirigente do MAS.

Sullkata M. Quilla é antropóloga e economista boliviana, e analista associada ao Centro Latino-Americano de Análise Estratégico (CLAE)

(*) Publicado originalmente em estrategia.la | Tradução de Victor Farinelli

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