Militares e industriais enfrentam o governo de Macri – Por Rodolfo Koé Gutiérrez

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Por Rodolfo Koé Gutiérrez*

Ao dar um aumento de somente 8% aos militares, o governo de Mauricio Macri teve que enfrentar o descontentamento público de um setor que sempre esteve ao seu lado, e que chegou ao ponto da suspensão do desfile de 9 de julho, o Dia da Independência. Ao mesmo tempo, a poderosa União Industrial Argentina (UIA), denunciou que 35% da capacidade produtiva industrial do país se encontrava desocupada no mês de maio.

Desde o início deste governo neoliberal, em dezembro de 2015, as fábricas vêm despedindo cerca 2,4 mil trabalhadores por mês em média.

Macri e seus aliados não conseguiram invisibilizar o mal-estar nas Forças Armadas. O anunciado plano dar mais relevância aos militares em termo de apoio logístico e participação nas políticas de segurança interior levou a que esses comparassem o aumento oferecido a eles com o que foi dado às outras forças de segurança (21%). Essa insatisfação, porém, não é resultado apenas pelos menores aumentos, mas também por problemas com equipamentos defasados.

Em outro âmbito, os números da UIA mostram que a gestão já acumula a perda de 71,2 mil postos de trabalho nas fábricas, graças a uma política de aumento dos custos da energia. Além disso, a diminuição do consumo e uma maior entrada ao país de produtos importados também foram fatores importantes para gerar uma forte queda de produção dos setores industriais.

Entre os ramos nos quais se notou mais fortemente esse derrotismo se encontram o de alimentação, produção de petróleo, laboratórios, maquinária para escritórios, couro e calçados, reciclagem, entre outros. Além disso, o mês de junho deu início a uma forte derrubada do setor automobilístico.

A produção de carros no último mês retrocedeu 13,4%, devido à queda das vendas ao mercado interno. O sindicato metalúrgico SMATA alertou para uma possível suspensão ou demissão em massa na indústria em breve.

“Junho foi um mês atípico para as filiais automotrizes radicadas na Argentina, porque se conjugaram fatores como a continuidade da greve dos caminhoneiros no Brasil, na primeira semana, e logo a greve da central sindical argentina CGT (Central Geral dos Trabalhadores) e das aduanas, que afetou o normal funcionamento da indústria e levou a contabilizar somente 17 dias úteis de atividade; a persistência da volatilidade cambiária, e o aumento das taxas de juros”, manifestou a Associação de Fábricas de Automotores da Argentina, em comunicado.

As filiais produziram pouco mais de 39 mil veículos (automóveis e utilitários), 13,4% a menos que em junho de 2017. As vendas a concessionários do total de unidades nacionais e importadas caiu a 55 mil unidades aproximadamente (31% a menos), e as exportações chegaram a quase 23 mil veículos (16,2% a mais que no ano passado).

A Associação de Automotores assegura que “pretende que a atividade seja o estandarte do crescimento e de uma política económica que entende pouco sobre a dinâmica da indústria”. Reconheceu que as vendas neste ano ficarão entre 850 e 900 mil unidades, e que entre 75% e 80% desses veículos serão importados, com os pretendidos e anunciados (pelo governo de Macri) investimentos milionários nas filiais sendo adiados até 2021, pelo menos.

Ricardo Pignanelli, dirigente sindical dos trabalhadores do setor, explicou que “a liberação de importações, o não cumprimento dos acordos de intercâmbio comercial automotriz com o Brasil (Flex) – que impõe que por cada dólar exportado se importe um e meio, sem penalizações econômicas às empresas que não o respeitarem – e os efeitos de uma política monetária que promove juros exorbitantes, além dos problemas de um mercado cambiário liberado, coloca em xeque o futuro de algumas plantas, como a da montadora Metalpar, que poderia fechar seus portões”.

“Outras fábricas filiais, como Faurecia, Brembo, Deutz, Fran, Honda e Yamaha planejam suspensões e demissões, por não poder concorrer com a importação. Enquanto Mercedez Benz, General Motors e Ford a partir da redução da produção. Não é possível o diálogo com quem não sabe escutar”, relata um comunicado sindical.

(*) Rodolfo Koé Gutiérrez é jornalista argentino e analista associado ao Centro Latino-Americano de Análise Estratégica (CLAE)

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