Entre caras novas e repetidas, uma mulher no topo da linha de sucessão – Por Victoria Korn
Por Victoria Korn*
Três semanas depois da vitória nas eleições gerais do dia 20 de maio, o presidente venezuelano Nicolás Maduro revelou as mudanças no gabinete ministerial para este segundo mandato, onde se destaca a designação da ex-chanceler e ex-presidenta da Assembleia Constituinte Delcy Rodríguez como vice-presidenta executiva e a primeira na linha de sucessão, substituindo Tarek El Aissami.
O triunfo nas urnas, segundo o presidente, “nos obriga a ter um novo começo, uma renovação parcial e profunda” do gabinete executivo. O time anunciado esta semana tem novos nomes, mas não O mandatário anunciou os novos nomes, mas não falou de um projeto para sair da gravíssima crise econômica e social na qual o país se encontra.
Enquanto se fala de uma “deschavização” do processo bolivariano, o sociólogo chavista Javier Biardeau se pergunta “qual é o horizonte de pensamento da direção política que o novo bloco popular e democrático pensa em construir, qual é a filosofia concreta e histórica que traduz tal rumo ao socialismo?”.
Quando se fala, por exemplo, de “rumo ao socialismo”, será que se está atuando de acordo com tal rumo, aqui e agora? Biardeau questiona também qual é a filosofia “concreta e histórica” de Nicolás Maduro, de Diosdado Cabello, de Tarek El Aisammi, de Jorge Rodríguez, de Vladimir Padrino e da “alta direção político-militar” do governo.
Tarek El Aissami, de 43 anos, ocupou o Ministério do Interior no final do mandato do falecido presidente Hugo Chávez, e agora terá a responsabilidade de controlar a equipe econômica, através do recém criado Ministério da Indústria e Produção Nacional, “com a missão de recuperar as forças produtivas da Venezuela”, segundo destacou o governante. Em fevereiro de 2017, ele havia sido sancionado pelo Departamento do Tesouro estadunidense, que foi denunciado pelo envio de carregamentos de droga da Venezuela, incluindo o controle de aviões que partiram do país, assim como o controle de rotas, entre outros supostos delitos.
Em maio, o governo dos Estados Unidos impôs sanções contra Diosdado Cabello, sob a acusação de narcotráfico e de dirigir uma importante rede de corrupção que teria desviado fundos de companhias estatais a contas na Rússia e outros países, e além de outros castigos a dezenas de altos funcionários de Venezuela nos últimos meses, entre eles o próprio presidente Maduro, por violações aos direitos humanos, acusações de ligação com o narcotráfico e a erosão das garantias democráticas.
O novo titular do Ministério do Trabalho será Eduardo Piñate; Hipólito Abreu assumirá nos Transportes; Dante Rivas na Pesca e Heryck Rangel como ministro de Ecossocialismo, para a proteção do ambiente e a coleta de dejetos sólidos.
Delcy e seu irmão, Jorge Rodríguez, agora ministro das Comunicações, conformam junto com Cilia Flores, esposa do presidente, o círculo mais próximo de Maduro. Delcy, foi chanceler nos primeiros anos do mandato anterior, e presidenta da Assembleia Nacional Constituinte desde agosto passado, além de ter liderado o movimento Somos Venezuela, com o qual Maduro lançou sua campanha à reeleição.
Maduro anunciou por twitter um Conselho de Ministros com 10 novos titulares (seis mulheres e quatro homens) e duas trocas, uma formação marcada por um maior número de mulheres e de jovens. Também mantém a maioria dos pesos pesados do gabinete anterior.
O movimento de maior peso político foi o de tirar El Aissami da vice-presidência executiva e colocá-lo na vice-presidência econômica, para um trabalho mais específico do que é a sua tão publicitada “luta contra a hiperinflação” e contra o mercado paralelo de divisas, após a intervenção em alguns bancos e a prisão de 11 diretores dos mesmos.
Além de escalar El Aissami numa posição estratégica, Maduro conservou Simón Zerpa na pasta de Economia, Finanças e Banca Pública. Ademais, nomeou uma de suas principais colaboradoras, a arquiteta Yomana Koteich, para o Ministério de Comércio Exterior e Investimento Internacional.
Talvez em busca do equilíbrio entre os diferentes grupos de poder bolivariano, Maduro decidiu levar caras novas ao gabinete: Marleny Contreras, esposa de Diosdado Cabello, passou do Ministério de Turismo ao de Obras Públicas. Outras das novas ministras são Mayerlin Arias (Agricultura Urbana), a ex-governadora do Estado de Falcón, Stella Lugo (Turismo), Caryl Bertho (Ministério da Mulher) e Evelyn Vásquez, que assumirá o difícil Ministério das Águas, num momento em que a maioria dos centros urbanos do país enfrenta frequentes cortes do serviço de água, o que o governo atribui à seca e a supostas ações de sabotagem.
Mas a verdade é que Maduro não alterou alguns dos postos mais estrategicamente importantes do seu gabinete, apesar da crise social e econômica que existe na Venezuela. Por exemplo, um dos ministros mais criticados, o major Manuel Quevedo, se mantém no Ministério do Petróleo e na presidência executiva da estatal Petróleos de Venezuela (PDVSA), apesar de a produção do ouro negro ter caído a cifras comparáveis aos dos Anos 90.
O general Vladimir Padrino López também se mantém à frente da Defesa; Adán Chávez, irmão do ex-presidente Hugo Chávez, continua na Cultura e o ex-vice-presidente Elías Jaua na Educação, assim como Jorge Arreaza seguirá sendo o chanceler.
(*) Victoria Korn é jornalista venezuelana associada ao Centro Latino-Americano de Análise Estratégica (CLAE)