Corrupção e fascismo acabam com o governo de Mariano Rajoy – Por Juan Carlos Osuna

798

Por Juan Carlos Osuna*

O socialista Pedro Sánchez, um economista de 46 anos, natural de Madrid, foi eleito como o novo presidente do e, em substituição do corrupto e ultra-direitista Mariano Rajoy, o primeiro presidente do país a ser derrubado do poder pela via da moção de censura (processo similar ao impeachment no Brasil), mas não o primeiro corrupto.

A corrupção foi o que detonou a aniquilação política de Rajoy, o sucessor de José María Aznar como impulsor do projeto da ultradireita no comando do governo espanhol. Esse quadro se deve à proliferação asfixiante de dezenas de casos de desvios de recursos públicos, em pequena, média e grande escala, que afetam praticamente a todas as organizações territoriais, governos locais e autonômicos – calcula-se que há mais de mil autoridades regionais envolvidas, com um saldo de bilhões de euros em desfalques.

Mariano Rajoy foi a última figura mais popular da direita hispano-americana e aliado estratégico da avançada neoliberal nos países latino-americanos. Nas reuniões com mandatários da direita latina, se comportava como um vice-rei (figura que governava os territórios espanhóis na América, no período colonial) diante dos seus colonizados. Entre outras coisas, foi um dos que mais estimulou e ajudou no planejamento da guerra contra a Venezuela, pedindo mais sanções ao governo de Nicolás Maduro que assinaturas de acordos comerciais e políticos, exigindo o não reconhecimento dos resultados eleitorais e a liberdade dos supostos presos políticos no país e questionando o “autoritarismo” do chavismo que convoca eleições democráticas.

“A festa está só começando”. Assim se jactaram os porta-vozes do governo que saiu, a respeito das dificuldades que encontrará Pedro Sánchez, o novo presidente, para aprovar a Lei de Orçamentos Gerais do Estado para 2018, da qual foi um duro crítico, e agora terá que “comê-la com batatas”, para usar uma expressão do próprio Rajoy.

No Senado, já foram registrados ao menos três vetos às contas públicas, porque o orçamento em questão não cumpre com as exigências mínimas: elaborar e aprovar um novo orçamento é uma tarefa que requer meses.

Alguns casos de corrupção

– O Caso Gürtel, que tem várias ramificações, afeta mais de 300 pessoas e recentemente se conheceu a primeira sentença da Audiência Nacional sobre uma das ramificações da trama. Nela, foi condenado Luis Bárcenas, ex-tesoureiro do PP (Partido Popular, a ultradireita franquista de Rajoy e Aznar), a uma pena de 33 anos de prisão e ao pagamento de uma multa de 44 milhões de euros. O PP também foi condenado a pagar uma multa de 250 mil euros por responsabilidade subsidiária.

– O Caso Púnica, no qual se investiga o financiamento ilegal de campanhas do PP e o pagamento de comissões por parte de empresários a deputados da Assembleia de Madrid e de chefe de governos autonômicos. O processo inclui várias peças que são investigadas em separado.

– O Caso Lezo, que investiga os possíveis delitos de Ignacio González em sua etapa como presidente da Comunidade de Madrid, através do Canal Isabel II, que envolve mais de 60 pessoas suspeitas, entre empresários e políticos.

– O Caso Acuamed, sobre o desvio de mais de 20 milhões de euros em fundos, uma trama ilegal que usava a empresa pública Acuamed e que salpicou o advogado Miguel Arias Cañete, ex-ministro de Rajoy e atual comissário europeu.

– O Caso Nóos, no qual se investiga a corrupção dentro da Casa Real, a partir das manobras de Iñaki Urdangarín, cunhado do Rey Felipe VI, que já foi condenado a 6 anos e três meses de prisão.

– O Caso Andratx, sobre um esquema de corrupção nas Ilhas Baleares, ligadas ao ex-ministro Jaume Matas.

Com o rabo entre as pernas

Rajoy se ausentou da maior parte do debate parlamentar que levou à sua censura, e só chegou ao final para pronunciar umas breves palavras de despedida. Sánchez – que se tornou assim o sétimo presidente do governo desde a restauração da democracia – obteve o apoio à sua moção de censura e também à sua posse como novo mandatário, com o voto favorável de 180 deputados

A queda de Rajoy contou com os votos de 84 parlamentares do PSOE (Partido Socialista Operário espanhol, do qual Sánchez faz parte), 67 da coalizão Unidos Podemos, 9 de Esquerda Republicana da Catalunha, 8 do Partido Democrata da Catalunha, 5 do Partido Nacionalista Basco, 4 do partido Compromisso, 2 do EH-Bildu e 1 do Partido Nacional de Nova Canárias.

Macri, um “caminho em comum”

Em abril, Rajoy visitou a Argentina, onde manteve vários encontros com o presidente Mauricio Macri e sua equipe econômica, trocaram elogios carregados e promessas de investimentos mútuos e ataques verbais à Venezuela.

Rajoy chegou também para pressionar pela definição do Tratado de Livre Comércio entre a União Europeia e o Mercosul, negociado em segredo e repudiado por industriais, camponeses, trabalhadores e movimentos sociais europeus.

“Claramente, temos um caminho em comum”, disse Macri na recepção oferecida ao colega, na qual fez participar todos os funcionários do seu gabinete, para que tivessem reuniões com a numerosa delegação de empresários ibéricos trazida por Rajoy. Ao final do mesmo evento, o bom encaminhamento das conversas levou o presidente argentino a dizer: “a Espanha é um modelo a seguir”. E no que se refere a corrupção e negócios espúrios, parece que isso é certo.

Rajoy disse que a Argentina vislumbrava os investimentos espanhóis “para criar mais empregos e reduzir a pobreza”, porque esse foi “o principal compromisso assumido pelo presidente (Macri)”. Logo, para devolver os elogios ao colega argentino, ratificou seu apoio ao ingresso da Argentina ingresse na Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).

“Acreditamos que, para que os governos estejam mais próximos dos cidadãos, temos que introduzir tecnologia e criar maior transparência”, disse Macri, visando concretizar o apoio de Rajoy ao Tratado de Livre Comércio entre o Mercosul e a União Europeia. “É uma oportunidade para ambos, que nunca esteve tão perto de se tornar realidade”, disse o chefe de Estado argentino. Agora, após a queda do seu amigo, essa aspiração deverá esperar um pouco mais.

(*) Juan Carlos Osuna é jornalista espanhol, associado ao Centro Latino-Americano de Análise Estratégica (CLAE)

Más notas sobre el tema