Colômbia: Se Petro não ganhar, tudo continuará como está – Por Camilo Rengifo Marín

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Por Camilo Rengifo Marín*

A Colômbia se prepara para o segundo turno presidencial, que ocorrerá no dia 17 de junho, e que coloca mais uma vez os processos de paz em plebiscito, assim como o modelo de país e a posição a ser adotada nas relações internacionais

O primeiro turno terminou com a vitória do senador Iván Duque, representante do partido Centro Democrático, agrupação de ultradireita liderada por Álvaro Uribe. Apesar da diferença de 14% a menos de votos, o centro-esquerdista Gustavo Petro, que ficou em segundo lugar, também celebrou seu resultado como um grande triunfo: foi a primeira vez em muitos anos que um candidato progressista consegue ser competitivo. Petro deixou pelo caminho o moderado Sergio Fajardo, da Coalizão Colômbia (formada pelos partidos Polo Democrático, Partido Verde e Compromisso Cidadão pela Colômbia) e venceu a tentativa do establishment de fazer com que um “centrista” capturasse o voto não dos indignados e descomprometidos ideologicamente.

Iván Duque representa os setores mais reacionários, o poder fático (grupos econômicos concentrados, conglomerados financeiros, latifundiários, meios de comunicação hegemônicos) e o uribismo, linha política responsável pela guerra suja eleitoral, pelas mortes provocadas por paramilitares de direita, pelos milhões de deslocados internos, pela militarização no interior do país, e pela aliança férrea com Washington e o compromisso com o Plano Colômbia.

Petro propõe algo muito diferente disso. Uma pacificação real e uma política e economia que beneficiem as grandes maiorias. Um capitalismo com propostas de maior inclusão, mobilidade social ascendente e um menor impacto ambiental, a defesa da educação pública, a tolerância, o respeito à diversidade sexual e à pluralidade de forma ampla, a separação dos poderes e o apego aos direitos humanos.

No dia 2 de outubro de 2016, as forças democráticas receberam um balde de água fria, com os resultados do plebiscito pela paz. Por pouco mais de 53 mil votos, venceu a opção do “não”, o que impediu referendar por essa via os acordos assinados em Havana entre as FARC (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) e o governo. Aquela jornada, que esteve marcada por uma fortíssima abstenção e uma crise climática no Caribe colombiano, despertou nas pessoas um estado de incerteza diante do desafio de buscar a paz pela via negociada.

Dentro de duas semanas, as forças do “sim” à paz no plebiscito terão uma nova oportunidade, com um projeto democrático que vai além dos acordos e do próprio candidato. As forças do “não” tentarão impedir a via eleitoral das mudanças, evocando o fantasma do “castrochavismo” e alimentando o ódio de classes, como estratégias para gerar medo e assegurar o retorno de Uribe, através de Duque. A revanche será difícil, mas não impossível, dizem os analistas.

Os donos do país

Os responsáveis por fazer da Colômbia um dos países mais desiguais do mundo se agrupam sob a candidatura de Duque, um arremedo da Frente Nacional de conservadores e liberais, que se alternaram no governo entre 1958 e 1974 para frear qualquer tentativa de transformação social. Essa irresponsabilidade social da direita é acompanhada hoje pela irresponsabilidade política e histórica de alguns dirigentes, aparentemente dissidentes do modelo autoritário e neoliberal, mas funcionais à manutenção do mesmo.

Nesta oportunidade, a cidadania tem a oportunidade mudar a história. E para isso, Petro apela aos votos daqueles que votaram no primeiro turno por Fajardo ou pelo liberal Humberto de La Calle, que juntos obtiveram mais de cinco milhões de eleitores. Também tenta convencer os que se abstiveram ou votaram em branco, convocando a um gesto em favor da candidatura que está a favor dos processos de paz. A tarefa é bastante difícil em meio a uma permanente propaganda difamatória sobre um possível governo de Petro, e a manipulação pelas redes sociais e meios de comunicação.

Para enfrentar a fraude, a compra de votos, a extorsão, a manipulação das grandes redes de rádio e televisão, a pressão estrangeira e a farsa publicitária, os grupos apoiadores da candidatura de Petro apelam a serenatas, fotos e cartas para pedir aos eleitores que não votem em branco e apoiem o ex-prefeito de Bogotá neste segundo turno.

Com o anúncio de vários dirigentes do chamado centro político, e alguns que se auto definem como de esquerda, de que votarão em branco para o segundo turno – entre eles Sergio Fajardo e Humberto de la Calle – a campanha de Petro se viu obrigada a se esforçar mais para cativar os votos dos eleitores que ainda poderiam estar indecisos.

Uma das primeiras ações foi uma serenata na porta da casa da senadora Claudia López, que foi a candidata a vice-presidente junto com Sergio Fajardo.

Gustavo Petro sabe de posicionar por cima das banalidades, vaidades pessoais e conjunturais. A contradição política fundamental a se resolver no segundo turno presidencial, na qual os colombianos deverão escolher entre um projeto ideológico, política e socialmente conservador e reacionário, ou a possibilidade de uma alternativa democrática para a paz e a reconciliação nacional, pluralista, comprometida com mais liberdades e direitos sociais.

(*) Camilo Rengifo Marín é economista e acadêmico colombiano, investigador do Centro Latino-Americano de Análise Estratégica (CLAE)

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