Brasil: movimientos feministas marchan a favor del aborto

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Chegou a nossa hora de legalizar o aborto!

Logo após o resultado da votação na Argentina, alguns atos foram marcados nas principais cidades brasileiras, em apoio à luta que segue no país vizinho para aprovar em definitivo o projeto de legalização do aborto no Senado, mas também para impulsionar o debate na sociedade brasileira e enfrentar os setores conservadores que tentam impor uma criminalização ainda maior à nós, mulheres brasileiras, proibindo o aborto mesmo nos casos de estupro, de risco a vida da mãe ou em fetos anencéfalos.

Nós do Movimento Mulheres em Luta estaremos nas ruas, no dia 22 de Junho, construindo esses atos e também vamos, junto com a CSP-Conlutas, fazer com que esse tema chegue à base das categorias dos trabalhadores para disputar a consciência da nossa classe e organizar a defesa da vida e dos direitos das mulheres.

LITCI


Como uma brasileira encara o movimento das feministas argentinas para legalizar o aborto – Por Ana Beatriz Rosa

»Foi realmente um exemplo de resistência. Para mim, o movimento por si só já é uma grande vitória.»

A frase acima é de Ivana Vagenin, brasileira que estuda Gênero e Diversidade na Universidad Nacional de Lanús, na Argentina, e que acompanhou as manifestações a favor da legalização do aborto no país. Em uma decisão histórica, a Câmara de Deputados da Argentina aprovou na semna passada, a descriminalização do aborto até a 14ª semana.

O projeto começou a ser votado ainda na quarta-feira (13) e a votação mais de 20 horas. O clima era tenso entre os parlamentares e poucos minutos antes de a sessão terminar não se tinha certeza sobre o placar. Os 3 votos decisivos só foram conhecidos na manhã do dia seguinte.

Por 129 votos a favor e 125 contra, as argentinas deram um passo a frente da discussão sobre o direito ao aborto legal, seguro e gratuito no país. Aprovado na Câmara, o projeto de lei agora segue para o Senado e a expectativa é de que a votação seja concluída até setembro deste ano.

Se dentro das salas do Congresso a história das mulheres era decidida por seus representantes, nas ruas de Buenos Aires elas assumiram o protagonismo ao gritar por «educação sexual para decidir, anticoncepcional para não abortar, aborto legal para não morrer». A Plaza Del Congreso, marco histórico das manifestações políticas da capital, foi tomado por uma maré que foi batizada de «onda verde», já que manifestantes usavam lenços na cor verde — e que não representa nenhum partido político — durante os dias da votação.

Ao lado das «hermanas» e outras companheiras brasileiras, Vagenin, que mora há 3 meses em Buenos Aires, aguardou o resultado da decisão durante a madrugada em acampamentos organizados pelos movimentos sociais e compartilha sua visão nesta entrevista ao HuffPost Brasil.

A estudante conta que, enquanto mulher, feminista e brasileira, aprendeu com a militância do movimento feminista na Argentina e compartilha que participar da movimentação, em um dia histórico, despertou a «vontade de voltar para o Brasil e compartilhar tudo o que vi para inspirar nossas companheiras de luta a nunca deixar de resistir».

Leia trechos da entrevista:

A inspiração nas Argentinas
«O que me inspira no movimento feminista da Argentina é esse forte feminismo popular que surge de baixo para cima, que se fortifica e ganha identidade pela incorporação da causa por aquelxs [sic] que realmente vivem a opressão. É um movimento que se consolida no boca a boca e vai se espalhando na medida em que as pessoas entendem a opressão interseccional de gênero. (…) As argentinas são para mim um exemplo de resistência e ativismo contra a violência de gênero e violência social causada pela sociedade machista e pelo Estado patriarcal e neoliberal.

Como brasileira, o que senti estando aqui nesse dia histórico foi a vontade de voltar para o Brasil e compartilhar tudo o que vi para inspirar nossas companheiras de luta a nunca deixar de resistir. A vitória feminista na Irlanda no mês passado e a vitória feminista na Argentina são eventos históricos que mostram que é possível deter o fundamentalismo religioso e o Estado patriarcal. Estamos em 2018 e queremos o nosso direito de decidir sobre nossos próprios corpos.

»As argentinas não engolem a opressão, elas não se calam. Pelo contrário, saem para a rua e transformam sua dor em revolução, sua angústia em sororidade, e sua luta em empoderamento.»

A única observação crítica que tenho – e isso vale não só pra Argentina, mas acho que para todo o mundo – é que o racismo está tão intrínseco e enraizado na mentalidade das pessoas que elas nem conseguem perceber sua linguagem racista ou admitir a existência do racismo no país. Infelizmente, isso ainda acaba acontecendo dentro do próprio feminismo. Luciana Peker, por exemplo, é uma jornalista feminista que fez um discurso lindo durante os debates no Congresso.

Porém, em uma de suas falas, ela fez uma analogia racista – provavelmente inconsciente – enquanto tentava sinalizar as desigualdades regionais de mortalidade materna na Argentina. De acordo com os dados do país, na cidade de Formosa, no interior, a mortalidade de mulheres é 8 vezes maior que em Buenos Aires. Peker, então, comparou as porteñas com as europeias e as mulheres de Formosa com as de Cabo Verde, na África. O que a jornalista não sabia é que em Cabo Verde o aborto já é legalizado há décadas e que o procedimento pode ser feito em qualquer hospital público ou privado.

A comparação com a África demonstra a tendência do senso comum de relacionar o que existe de ruim com a comunidade afro. O motivo pelo qual faço essa crítica é para que a gente possa refletir sobre como o racismo está enraizado nas nossas mentes e nos aparatos institucionais.

Como brasileira, me parece essencial pensarmos a respeito disso, já que a nossa luta deve ser transversal ou seja, devemos resistir ao racismo, sexismo, classismo, machismo, homofobia, transfobia, gordofobia, e a todas as possíveis intersecções dessas formas de discriminação.»

O papel da militância

«Na verdade, a luta pela legalização do aborto no país começou há 30 anos na mesma esquina onde estávamos concentradas para assistir a votação. Dora Coledesky [feminista e militante que teve papel primordial na discussão sobre o aborto na Argentina na década de 50] e suas companheiras ficavam ali fazendo o boca a boca e coletando assinaturas pela causa.

Mas foi somente em 2005 que foi organizada a Campanha Nacional pela Legalização do Aborto Legal, Seguro e Gratuito. Desde então, o projeto de lei foi discutido 7 vezes no Congresso. E em 2018 ele foi aprovado para ser discutido e votado. Em março desse ano, a questão do aborto tomou não apenas o Congresso, mas também as escolas, as universidades, as salas de aula, as mesas de bar e até os almoços em família. Diversos grupos de mulheres de distintas áreas da sociedade (médicas, enfermeiras, professoras, estudantes do ensino médio e superior, artistas e etc) se reuniram para um pañuelaso ao longo desses meses. Algumas escolas foram ocupadas pelas jovens que protestavam pela educação sexual integral e pela legalização do aborto. Como reação, parte das escolas sequer deixavam as meninas entrarem na instituição com os lenços verdes – que se tornou o símbolo da luta.

Nesse processo, muitas pessoas que eram contra a descriminalização do aborto passaram a ser a favor, porque esteve em contato com a perspectiva interseccional de gênero, que é fundamental para discutirmos o aborto. Além disso, durante esses meses, o movimento tomou realmente as ruas. As terças e quintas verdes, como ficaram conhecidas, eram os dias em que o tema era discutido no Congresso e a militância organizava intervenções artísticas e discursos empoderados sobre a legalização do aborto.»

A movimentação nas ruas

«Estive na Plaza del Congreso no dia 13 e 14 de junho. A concentração começou às 12h da quarta feira (13) e foi até o dia seguinte, quando saiu o resultado da votação e todas nós comemoramos. Foi um dia inesquecível. Há meses era possível ver feministas de todas as idades andando com os pañuelos verdes da campanha pelas ruas de Buenos Aires, trocando sorrisos ao se identificarem como companheiras de luta. Na praça não foi diferente. Todo mundo foi solidário, cuidando uma da outra. Dezenas de organizações estavam presentes pela mesma causa. No palco, diversas intervenções como bandas feministas, teatro feminista, poemas, discursos. Músicos em cada esquina puxando o grito e o coro pelo aborto legal. Foi emocionante. A rua estava completamente lotada, e não era por causa de Carnaval ou Copa, era pela Legalização do Aborto! A noite, todo mundo acampou na rua, fez fogueira e ocupou a praça, independente da temperatura gelada (fazia 3 graus durante a madrugada). Foi realmente um exemplo de resistência. Para mim, o movimento por si só já é uma grande vitória.»

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