Temer celebra dos años de mandato y pone en duda el informe de la CIA que prueba ejecuciones durante la dictadura brasileña

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Geisel aprobó ejecuciones durante la dictadura brasileña

Un documento desclasificado de la CIA publicado ayer por la prensa brasileña muestra a uno de los presidentes de la dictadura militar autorizando la ejecución de opositores. Pedro D’Alari, el presidente de la Comisión de la Verdad creada por la ex presidenta, Dilma Rousseff, afirmó que el cable de la CIA era terrible y que era hora de que las Fuerzas Armada asumieran su responsabilidad institucional.

Según el documento, Ernesto Geisel (1974-79), penúltimo jefe de estado de la dictadura, le dijo explícitamente al jefe del Servicio Nacional de Informaciones, Joao Baptista Figueiredo, quien le sucedería en el cargo, que las ejecuciones debían continuar. El archivo fue revelado por el historiador e investigador de la Fundación Getúlio Vargas, Matias Spektor.

El informe, fechado el 11 de abril de 1974, está firmado por el entonces director de la Central de Inteligencia estadounidense (CIA), William Colby, y dirigido al secretario de Estado Henry Kisinger.

“Este es el documento más perturbador que he leído en veinte años de investigaciones”, escribió Spektor en su cuenta de la red social Facebook, sobre el informe desclasificado en 2015. El documento de la CIA, que fue rescatado de los archivos del Departamento de Estado, expuso por primera vez con documentación que los dictadores de Brasil, que gobernaron entre 1964 y 1985, sabían y eran los que autorizaban los asesinatos de opositores.

En el memorando, Geisel autoriza la continuación de la política de asesinatos, pero exige del Centro de Informaciones del Ejército una autorización previa del propio Palacio presidencial de Planalto. “El 1 de abril (de 1974), el presidente Geisel le dijo al general Figueiredo que la política de ejecuciones debería continuar, pero que debía tomarse cuidado para estar seguros de que solamente los subversivos peligrosos serían ejecutados”, apunta el informe.

El memorando del 11 de abril de 1974 incluye un mensaje con el título “Presidente brasileño Ernesto Geisel decide continuar con la ejecución sumaria de subversivos bajo ciertas circunstancias”. Irónicamente, Geisel, quien gobernó entre 1974 y 1979, era considerado uno de los apaciguadores de la represión política y ejecuciones. El informe de la CIA sostuvo que Geisel tomó la determinación luego de ser informado por Figueiredo, entonces su jefe de inteligencia, de que durante el gobierno del dictador Emilio Garrastazú Médici (1969-1974) fueran ejecutadas 104 personas. El memorándum indicaba que el general Figueiredo, como mano derecha de Geisel, debía ser informado de cada ejecución.

Marcelo Rubens Paiva, escritor e hijo del diputado Rubens Paiva, asesinado en 1971, dijo que el documento confirma que el Palacio del Planalto sabía de los homicidios políticos.

La ex presidenta Dilma Rousseff, durante su gobierno creó una Comisión de la Verdad para investigar los hechos que consignó 434 muertos o desaparecidos. En el período posterior al cable de la CIA hubo 80 opositores asesinados, informó ayer el diario O Globo, basado en las nuevas revelaciones. Además, en aquel momento la Comisión acusó a 377 agentes militares, policiales y civiles por crímenes contra la humanidad, aunque no pueden ser juzgados porque está en vigor la Ley de Amnistía de 1979 (sancionada por el dictador Figuereido y ratificada en 2010 por el Supremo Tribunal Federal) que ampara a policías y militares acusados de violación de los derechos humanos. Por dicha ley, Brasil nunca juzgó a los represores.

“Nunca tuvimos en la mano un documento en el que realmente estuviese escrito: ‘Vamos a ejecutar’. (Los militares) siempre dijeron que las ejecuciones eran casos aislados”, dijo Vera Rotta, quien durante los gobiernos del presidente de izquierda Luiz Inácio Lula da Silva trabajó en la Secretaría de Derechos Humanos y coordinó un amplio informe sobre la represión.

Pero la falta de documentación oficial de las Fuerzas Armadas impidieron continuar la investigación terminada el 10 de diciembre de 2014: en la Comisión de la Verdad se abrió un caso de 8.000 indígenas asesinados en la Amazonia que se oponían a la colonización de agricultores blancos que promovió el régimen para fomentar el agronegocio en la zona norte del país. La fiscal general, Raquel Dodge, pidió el año pasado a la Corte abrir juicios contra acusados de delitos de lesa humanidad, al considerarlos imprescriptibles y no alcanzados por la Ley de Amnistía.

El candidato presidencial ultraderechista, Jair Bolsonaro, minimizó el informe de la CIA al afirmar: “¿Quién nunca le pegó a un hijo y luego se arrepintió?” El diputado y ex capitán del ejército que marcha segundo en las encuestas detrás de Lula, reivindica a la dictadura militar y ayer puso en duda la veracidad del documento.

“Yo creo que sé lo que le pasó a este agente de la CIA que hizo el informe: ¿Cuántas veces uno dice, ‘te voy a matar, te voy a cagar a trompadas’. Este agente de la CIA debe haber escuchado una conversación así e hizo el informe. Pero me pregunto: ¿Dónde están los 104 muertos?”, dijo Bolsonaro a una radio de Minas Gerais. Bolsonaro se puso en el centro de la discusión e interpretó que la divulgación del informe por parte de Spektor es para frenar su candidatura.

El dirigente ultraderechista recordó, asimismo, que ahora el grupo Globo, el conglomerado de medios más importante del país, apoyó el golpe de 1964 que destituyó al presidente Joao Goulart.

Página|12


Temer cita delações e diz que é preciso ‘ter cuidado’ com documento da CIA sobre ditadura

O governo saiu em defesa das Forças Armadas e reagiu na sexta-feira, 11, com desconfiança ao memorando escrito em 1974 pelo então diretor da Agência Central de Inteligência (CIA) dos Estados Unidos que afirma que o ex-presidente Ernesto Geisel havia dado autorização para execuções de “subversivos perigosos” durante o seu governo, transformando esses assassinatos em política de Estado.

“Nesses tempos de delações, de disse que disse, aprendi que é preciso ter muito cuidado com informações dessa natureza”, afirmou o presidente Michel Temer ao Estado. Ao dizer que, ao receber a informação, “achou a história muito estranha”, o presidente declarou ter chamado sua atenção o fato de as revelações virem de fora do País: “Os documentos não são nacionais, são da CIA, uma entidade estrangeira. Nem tudo o que a CIA diz é necessariamente verdade, é uma verdade absoluta”.

Temer também avaliou que “não há um só documento, um só registro, um só depoimento dos envolvidos” corroborando a versão da CIA, que agora vem a público pelo pesquisador da FGV Mathias Spector. Em seguida, Temer acrescentou: “E a gente sabe como é… Essas coisas sempre acabam sendo faladas. Como nunca foram faladas aqui no Brasil até agora?”

Temer disse que, pela sua própria experiência, sabe que “presidentes não conseguem acompanhar tudo o que acontece lá embaixo, no governo”. Por isso, indagou: “Será mesmo que o general Geisel saberia disso, teria autorizado isso?” Citou, inclusive, sua versão sobre a frase atribuída ao então vice-presidente da República, Pedro Aleixo, ao discordar da aplicação do AI-5 em 1968 e tentar substituí-lo pelo instrumento do estado de sítio: “Não tenho medo do AI-5, tenho medo do que o guarda da esquina irá fazer com esse ato”.

Além de manifestar dúvidas quanto à veracidade da informação que chegou à CIA, Temer tentou fazer uma defesa subjetiva de Geisel, o penúltimo presidente do regime militar: “Isso não combina com o legado do presidente, conhecido pelo empenho em promover a abertura política, a volta à democracia”.

++ Políticos repercutem documentos da CIA indicando que Geisel autorizou execuções

Acesso. Para o ministro da Segurança Pública, Raul Jungmann, a divulgação dos documentos da CIA não afeta o “prestígio” das Forças Armadas. Ex-ministro da Defesa, ele disse que o governo ainda não teve acesso ao documento de forma oficial, mas afirmou que alguma medida deve se tomada.

“Não estamos desconsiderando (o memorando), mas precisamos ter acesso de forma oficial. O prestígio das Forças Armadas permanece nos mesmos níveis. As Forças são um ativo democrático, isso não é tocado por uma reportagem”, afirmou.

Jungmann foi evasivo, no entanto, quando questionado sobre quais medidas efetivamente devem ser tomadas. “Não sou mais ministro da Defesa, quem deve tomar essa decisão são os responsáveis pela área.”

Papéis mostram mudança na política externa dos EUA

Comissão. Membros da Comissão Nacional da Verdade defenderam a revisão da Lei de Anistia no Supremo Tribunal Federal depois da revelação do memorando da CIA. “É possível que, com essa nova composição do Supremo, a lei seja reexaminada. Esse fato pode servir justamente para estimular essa resolução desse impasse”, disse o coordenador do colegiado, professor Pedro Dallari.

O filho do jornalista Vladimir Herzog, Ivo Herzog, pediu na sexta-feira ao chanceler Aloysio Nunes que o Brasil solicite aos EUA a liberação completa dos registros da CIA.

Estadao


E o porão era no andar de cima

Que havia assassinatos praticados pela repressão durante a ditadura do período 1964/85 ninguém tinha o direito de duvidar. Basta lembrar um caso já devidamente esclarecido: o da morte do jornalista Vladimir Herzog, nas dependências do Doi-Codi de São Paulo.

Até aí, portanto, o documento da CIA agora divulgado não chega a ser uma novidade. A novidade, a chocante novidade, é que o porão ficava (também) no andar de cima. No mais alto andar da República, a própria Presidência.

Até que esse excelente pesquisador que é Matias Spektor trouxesse a público o relatório da CIA quase todo o mundo no Brasil acomodou-se à ideia de que, sim, havia torturas, prisões clandestinas, mortes e outras violências mas era melhor acreditar que se tratava de ações de um grupo de celerados de farda, não autorizadas pelo andar de cima.

Agora, a se acreditar no relatório da CIA, vê-se que o general Ernesto Geisel autorizou a execução de “subversivos perigosos”, o que introduz uma pitada aberrante ao que já era uma aberração. Cabia aos torturadores determinar quem era subversivo, primeiro, e perigoso, depois —conceitos subjetivos por natureza, mas levados à paranoia durante a ditadura.

Choca também o fato de que a autorização para matar veio de Geisel, o general que deu início à então chamada abertura lenta, gradual e segura, além de ter tomado uma ou outra iniciativa para coibir os abusos dos porões. Se um general-presidente mais moderado autoriza execuções, arrepia pensar o que diriam seus antecessores, considerados mais duros.

O relatório da CIA torna mais fácil entender porque os militares brasileiros jamais fizeram uma autocrítica institucional, jamais pediram desculpas pelas violações sistemáticas aos direitos humanos. Não podiam: do andar de cima ao porão toda a hierarquia foi cúmplice de um sistema abominável.

Ao contrário da prestação de contas, cobriram-se com uma Lei de Anistia, que teoricamente valia para os crimes de um lado e de outro. Não é bem assim: os “subversivos” —perigosos ou não— foram punidos. Com a morte, com a tortura, com o banimento, com a prisão, com o exílio, com a perda de direitos políticos.

Entre os militares, ao contrário, só um ou outro foi punido. Pior: neste ano eleitoral, pela primeira vez desde a redemocratização, há um candidato que reivindica a ditadura (e a tortura) e há um setor do público que pede a volta dos militares.

É uma vergonha, mas é o Brasil que tivemos e que temos, talvez por nunca ter sido passado a limpo.

Clóvis Rossi

Folha

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