Os candidatos e a realidade: 70% dos que nascem pobres morrerão pobres – Por Gerardo Villagrán del Corral
Por Gerardo Villagrán del Corral*
Enquanto entramos na reta final das eleições presidenciais no México, um informe do Centro de Estudos Espinosa Yglesias (CEEY) desnuda a realidade dramática de um país onde 53 milhões de pessoas, 43% da população, vivem na e 7 de cada 10 mexicanos que nascem pobres permanecerão nessa condição toda a sua vida.
Em 20 anos, a renda dos lares pobres caiu 20% e o dos estratos médios e altos 18%. O México não gera meios de mobilidade social suficiente, e tampouco de melhoria da renda: no último quarto de século, a renda média dos lares diminuiu termos reais, é dizer, perdeu capacidade de poder de compra, indica o informe.
O economista Alejandro Nadal indica que um dos temas que brilha por sua ausência no debate político do México hoje é o das restrições impostas em matéria de política macroeconômica. Isso é crucial, porque nenhum governo poderá reorientar o rumo da economia mexicana se não recuperar o controle da política macroeconômica.
A política monetária se encontra capturada pelos mercados financeiros. O Banco Central é autônomo por lei, com relação ao governo, mas não com respeito ao setor bancário e financeiro. A importante função da criação monetária é desenvolvida pelos bancos comerciais e o serve para proporcionar reservas quando a banca as necessita. A taxa de juros está mais relacionada com a necessidade de reter capitais no México para sustentar as reservas do Banco Central que, com qualquer outro objetivo.
“Se o próximo triunfador das eleições presidenciais está preocupado por reorientar o rumo da economia, deverá tomar em conta estas restrições, que no fim das contas foram impostas, como cadeados para evitar mudanças no modelo neoliberal. Agora, se esse vencedor não se inquieta com o trágico panorama econômico que o México sofre, estas considerações podem parecer supérfluas, mas talvez também achará trivial o fato de que a sociedade mexicana é uma bomba de tempo”, agrega Nadal.
A “realidade real” é que a renda dos lares mais pobres diminuiu 20% entre 1992 e 2016. No mesmo período, a renda das famílias de estratos médios e altos caiu 18%. O informe é lapidário: com este ritmo de crescimento da economia, a renda média da população tardará 70 anos ou mais em se recuperar – pelo menos. Ou seja, os pobres serão mantidos na pobreza, e os ricos na extrema riqueza.
É o recorrente tema da desigualdade crescente: Quem nasce pobre fica pobre e quem nasce rico se mantém rico, segundo o mostrado pelo CEEY, já que 9 de cada 10 mexicanos que nascem de famílias ricas nunca cairão ao nível médio, e entre eles oito nunca conhecerão um nível de renda diferente da que têm suas famílias.
“A posição social se transmite de pais a filhos, e nesta dinâmica de baixa mobilidade social o México é uma das sociedades onde as condições de origem mais determinam as opções de sucesso das pessoas”, disse Roberto Vélez, diretor executivo do CEEY. Ao não permitir que a mobilidade social seja um fato – que as pessoas tenham mais renda e oportunidades de educação, saúde, emprego e pensão que seus pais – o país se está transformando numa sociedade de mexicanos de primeira, segunda, terceira e quarta classes, desgraçadamente.
No México, a pobreza combinada com a informalidade nas atividades econômicas inibe as oportunidades de escalar na pirâmide social. Para que isso mude é necessária uma reforma fiscal que leve à eliminação da informalidade na atividade produtiva e a uma maior arrecadação de impostos, e que o sistema de proteção social se unifique e se universalize. Isso inclui reformas aos sistemas de saúde e de segurança social.
Também é necessária a cobertura, qualidade e pertinência do sistema educativo, que devem se centrar em melhorar e igualar oportunidades de aprendizagem, em especial na educação média superior e as políticas públicas devem promover um mercado de trabalho flexível e seguro, eliminando a discriminação a grupos vulneráveis.
A mensagem dos candidatos presidenciais é clara: não basta maquiagem, deve-se produzir mudanças estruturais, para quebrar as restrições que se impõem na matéria de política macroeconômica.
(*) Gerardo Villagrán del Corral é antropólogo e economista mexicano, associado ao Centro Latino-Americano de Análise Estratégica (CLAE)