Obrador contra o poder financeiro e a intolerância – Por Gerardo Villagrán del Corral

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Por Gerardo Villagrán del Corral*

O candidato presidencial nacionalista e de centro-esquerda Andrés Manuel López Obrador (conhecido em seu país pela sigla do seu nome completo: AMLO), é o inimigo a se vencer nas eleições presidenciais mexicanas de 1º de julho. Não só os concorrentes apontaram sobre ele toda a sua artilharia, também o aparato institucional midiático nacional e internacional.

Em poucas campanhas se falou tanto de história como na atual. López Obrador promete uma transformação histórica caso obtenha o triunfo, e disse não duvidar em se apresentar como herdeiro de grandes próceres mexicanos, como Benito Juárez, Francisco Madero e Lázaro Cárdenas. Por sua parte, os dois grandes partidos da direita, o Partido Revolucionário Institucional (PRI, de direita liberal) e o Partido da Ação Nacional (PAN, extrema direita conservadora), parecem condenados, pela primeira vez, a um papel secundário nos destinos do país.

Há um fator que explica a força atual do nacionalismo mexicano, e ele se chama “Estados Unidos”. A primeira guerra internacional imperialista dos estadunidenses foi contra o México, para roubar mais da metade do seu território – 15 anos depois se produziu outra intervenção, por parte da França. O nacionalismo mexicano começou a ser forjado no Século XIX, e logo foi assumido como um dos valores essenciais da Revolução Mexicana.

Talvez, em nosso colonialismo cultural, esquecemos que as sociedades latino-americanas, no momento em que conseguiram suas independências, eram realmente as primeiras sociedades multiétnicas do mundo contemporâneo, assumindo a necessidade de integrar os deserdados, as etnias e os diferentes povos. Por isso AMLO usa um discurso voltado a um público de cidadãos, não de súditos.

Sua tenaz intolerância à crítica – uma das características de sua idiossincrasia segundo seus detratores – é reproduzida com ênfase, para tentar colar nele uma imagem de violento e vulgar. Através das redes sociais, e especialmente usando notícias falsas, são difundidas as típicas campanhas trumpianas desta era da pós-verdade, tentando sabotar a candidatura que, apesar de tudo se mantém como favorita segundo as pesquisas.

Por exemplo, AMLO chamou a jornalista Carmen Aristegui de “espiã profissional”, o colunista de extrema direita José Cárdenas de “caluniador a serviço da máfia do poder”, e o acadêmico Jesús Silva-Herzog Márquez de “articulista conservador com aparência de liberal”. Ademais, se referiu ao diário Reforma como “jornalismo fifí” (fofoqueiro).

Candidato da coalizão Juntos Faremos História e do partido Morena (Movimento de Regeneração Nacional), Obrador tem uma verdadeira possibilidade de ganhar a eleição, dentre de pouco mais de cinco semanas. Seu maior temor, como já aconteceu em outros pleitos no qual ele concorreu, é que seja impedido novamente por uma fraude eleitoral descomunal – sem contar alguns fatores profundamente marcados da sociedade e da institucionalidade mexicanas, como a corrução e a violência.

Mas AMLO também está sendo avaliado pelo establishment capitalista. Shelly Shetty, a principal analista de risco soberano para a América Latina da qualificadora Fitch Ratings, é consciente de que seu triunfo representaria um risco para a continuidade da atual política macroeconômica neoliberal e entreguista do México.

Nos últimos meses, o candidato tem conseguido aumentar seu favoritismo entre uma parte significativa da população, por saber aproveitar a insatisfação social que prevalece no país, graças ao seu discurso, que às vezes parece radical, embora a experiência dos centros financeiros é de que candidatos que abraçaram posições protecionistas e nacionalistas acabam se tornando mais pragmáticos uma vez que chegam à presidência.

Para o capital financeiro, não se pode descartar os riscos relativos a uma marcha mais lenta das reformas iniciadas pelo atual presidente, Enrique Peña Nieto, em especial no setor de energia. Ou a reorientação das políticas econômicas para uma maior intervenção do Estado, assim como um aumento do gasto fiscal para favorecer o 90% da população que vive abaixo da linha da pobreza.

O que preocupa os mercados é que uma vitória de Obrador poderia significar com respeito à autonomia do Banco do México, ao orçamento de 2019, às metas fiscais a serem estabelecidas a médio prazo, à nomeação do futuro diretor da estatal PEMEX (Petróleos Mexicanos), à anunciada revisão dos contratos do atual governo com relação à reforma energética e às futuras rodadas de licitação de campos petroleiros.

Ao visitar todos os municípios do país em sua campanha, Obrador conseguiu roubar do PRI, o partido governista, grande parte do que os analistas chamam de “voto duro” – e que muitas vezes é comprado, lembrado que em muitos casos se trata das zonas de menor renda do país –, criando uma base sólida de votantes, com a promessa, justamente, de tirá-los da pobreza, uma oferta política e moralmente necessária.

O candidato governista José Antonio Meade carrega em sua campanha a rejeição ao presidente Peña Nieto – que o nomeou como seu sucessor, mas tampouco tem feito grandes gestos de apoio. Enquanto Ricardo Anaya, a aposta da ultradireita (do partido PAN), se mantém em segundo, mas vê sua diferença com Obrador crescer a cada pesquisa.

(*) Gerardo Villagrán del Corral é antropólogo e economista mexicano, associado ao Centro Latino-Americano de Análise Estratégica (CLAE) – www.estrategia.la

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