Justicia brasileña condena a supermercado Zaffari a pagar indemnización por racismo

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Supermercado Zaffari é condenado a pagar indenização por racismo

A rede de supermercados Zaffari foi condenada a pagar 60 mil reais de indenização a três jovens por racismo, má-fé e danos morais. A juíza Karla Aveline de Oliveira, da Vara Cível do Foro Regional da Tristeza, no Rio Grande do Sul, também multou a empresa por não entregar um DVD que seria prova no processo.

Três estudantes, hoje maiores de idade, mas que tinham 14 anos e um 15 anos em 2013, quando o fato ocorreu, saíram da escola e foram ao supermercado localizado na avenida Otto Niemeyer, em Porto Alegre (RS), próximo do colégio. A intenção era comprar pacotes de bolacha, mas, ao efetuarem o pagamento no caixa, foram abordados de maneira abusiva por cinco seguranças, que ordenaram que abrissem as mochilas escolares e esvaziassem bolsos.

Os três relataram que, na frente de diversas pessoas, foi constatada “a inocorrência de furto e ordenada pelos seguranças a imediata saída de todos do local”. Eles foram até a polícia e registraram boletim de ocorrência e apresentaram a nota fiscal dos produtos adquiridos.

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Racismo: Zaffari é condenado por danos morais e má-fé

«Exatamente assim, como meros ‘neguinhos’, pessoas sem importância, adolescentes sem defesa, não humanos, seres invisíveis e sem valor, foram vistos Ronaldo, Alessandro e Ygor naquele final de tarde, quando expostos a uma revista desmotivada, humilhante e truculenta.»

Esse é um dos trechos da sentença da Juíza de Direito Karla Aveline de Oliveira, da Vara Cível do Foro Regional da Tristeza, que condenou a Companhia Zaffari Comércio e Indústria Ltda. a pagar R$ 60 mil reais para três jovens por abordagem indevida e mais multa por não entregar um DVD que seria prova no processo. A empresa também foi condenada por litigância de má-fé, por negar veementemente os fatos e, após mais de dois anos, ao final do processo, juntar DVD com as imagens do circuito interno de segurança.

Caso

Três estudantes, agora maiores de idade, mas na época do fato com 14 anos (dois deles) e um com 15 anos, saíram da escola e foram ao supermercado Zaffari, na avenida Otto Niemeyer, em Porto Alegre, que fica próximo de onde estudavam. Queriam comprar alguns pacotes de bolacha, mas ao efetuarem o pagamento no caixa, foram abordados de maneira abusiva por cinco seguranças da empresa, os quais ordenaram que abrissem as mochilas escolares e esvaziassem bolsos.

Na ação que ajuizaram contra a empresa, relataram que, após a revista, na frente de diversas pessoas, foi constatada «a inocorrência de furto e ordenada pelos seguranças a imediata saída de todos do local». Eles apresentaram boletim de ocorrência e nota fiscal dos produtos adquiridos na ocasião.

De acordo com a magistrada, a abordagem foi desmotivada, abusiva e truculenta e resultou em abalo moral e psíquico.

«Foi em horário de pico, em estabelecimento muito próximo à escola onde estudavam, frequentado por colegas, amigos e pais de colegas, de modo que foram expostos, a não ser pelo fato de serem negros, à situação vexatória, humilhante e violenta.»

Em sua defesa, a empresa alegou que nenhum fato foi registrado ou ocorreu na data e hora alegada pelos estudantes. Sustentou que «a fantasiosa história narrada constitui-se em uma aventura jurídica com o intuito de auferir lucro».

Mas, após a instrução do processo, em memoriais, a empresa mudou a linha de defesa e confirmou a abordagem aos autores, que teriam colocado na mochila o próprio energético para induzir os seguranças ao erro.

Uma testemunha, que estava na fila do caixa, contou que os seguranças se referiram aos meninos como ¿esses neguinhos¿. Afirmou que os rapazes ficaram nervosos com a situação, que gerou um tumulto. Outra testemunha disse ter sido «constrangedor». Disse que ouviu os seguranças comentarem: «Vamos ver se esses neguinhos não têm alguma coisa aí.»

A empresa não arrolou testemunhas, ainda que os nomes de dois dos seguranças tenham sido informados na inicial, segundo a magistrada.

Decisão

A Juíza abre a sentença reproduzindo a letra da música «Cara Sucia», do artista El Chojin:

«…el primer palo fue en el colegio compañero le busca:
mi mama dice que tienes la cara sucia

…niño no entiende antes de ir a clase al dia siguiente se lava fuerte
de puntillas para poder verse
no importa cuanto se lave
su cara siempre es mas oscura que la de los otros chavales.»

Em seguida, a magistrada traz citações de autores e especialistas em uma verdadeira análise antropossociológica do racismo no mundo e no Brasil:

«Para entender o que ocorreu no Supermercado Zaffari com esses três adolescentes, negros, necessário compreender o que se passa no Brasil atual, herdeiro de um passado escravagista e indigno e detentor do vergonhoso título de último país do continente americano a abolir ‘completamete’ a escravidão, em 13 de maio de 1888.»

Analisando os fatos ocorridos no supermercado, a Juíza de Direito Karla Aveline de Oliveira afirmou que diante do contexto fático, ficou configurado o agir ilícito da empresa, a qual, segundo ela, não se preocupou em preservar a imagem, a integridade emocional e a honra dos adolescentes. «Ao contrário, em total desprezo, abordou-os como se suspeitos de furto fossem, na frente de todos os clientes, sem qualquer razão, a não ser a discriminação e o preconceito racial.»

A magistrada disse que chamou atenção que a conduta desrespeitosa e humilhante perpetrada pelo supermercado Zaffari também tenha se repetido com o pai de um dos rapazes, que foi chamado pelo filho em face do ocorrido, mas nem sequer conseguiu falar com o gerente ou qualquer outro responsável pelo estabelecimento.

«O agir da demandada configura evidente ato ilícito, pois, não há direito que proteja ação truculenta, despropositada e infundada por parte dos seguranças em relação aos adolescentes, os quais ingressaram no estabelecimento na condição de cidadãos/consumidores e foram abordados como suspeitos de furto, sem qualquer amparo fático a não ser a cor da pele.»

E, citando a iniciativa recente da empresa Starbucks, que após incidente envolvendo dois jovens negros que foram presos em uma de suas unidades, resolveu fechar todas as lojas da franquia por um dia para ministrar treinamento a seus funcionários com o objetivo de humanizar e conscientizar seus funcionários, acrescentou:

«Não se vê nos autos, ainda, qualquer movimento de empatia ou respeito com os adolescentes, circunstância que permite concluir que a empresa ainda não fez a devida reflexão sobre o ocorrido, muito menos está considerando com seriedade a responsabilidade de bem instruir os prepostos para que estes saibam agir de modo democrático para com as pessoas.»

Indenização

Por fim, a magistrada fixou em R$ 20 mil de indenização por danos morais para cada um dos rapazes.

A magistrada também fez referência ao fato de que a empresa tratou de resguardar as imagens da abordagem para usar no momento oportuno, já que demorou mais de dois anos para entregar o DVD à Justiça e ainda mudou a versão do fato. Para ela, tudo leva a crer que o «não-atendimento constitui-se em medida pensada e planejada pela demandada, de modo a que o consumidor, atingido em seus direitos, não possa ter maiores dados a respeito das pessoas e situações envolvidas no conflito.»

«Sem justificar o aparecimento repentino do DVD, ousou referir que a ação da empresa, além de não ter produzido qualquer dano, deu-se porque a segurança foi induzida em erro pelos adolescentes ‘para provocar uma abordagem’.»

Má-fé

Diante disso, a magistrada também condenou o supermercado Zaffari a pagar multa no valor equivalente a 10 salários mínimos aos autores da ação por má-fé, já que «alterou, vergonhosamente, a verdade dos fatos, procedendo, inclusive, de modo temerário».

Proc. nº 001/1130173208-8

Tribunal de Justiça


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