Colômbia: um capanga da OTAN na América Latina – Por Camilo Rengifo Marín

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Por Camilo Rengifo Marín*

O presidente Juan Manuel Santos, dois dias antes das eleições presidenciais e dois meses antes de deixar o poder, anunciou que, no fim deste mês, viajará a Bruxelas para formalizar o ingresso da Colômbia na aliança militar Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), na categoria de sócio global, o que condicionará o seu sucessor no Palácio de Nariño e a consolidação da paz na América Latina.

Não se deve esquecer que a Colômbia é o principal produtor de cocaína do mundo, e também o principal agente desestabilizador do governo bolivariano da Venezuela. Após cinco décadas de conflito interno, foi assinado um acordo de paz com as FARC (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia, agora transformadas em um partido político legal), que não tem sido plenamente respeitado pelo governo de Santos. Enquanto isso, renascem os grupos paramilitares de direita e os de traficantes, que vem aumentando ainda mais o já assustador saldo de 8 milhões de vítimas da guerra interna do país, entre mortos, desaparecidos e refugiados. Lamentavelmente, o país está longe de poder ser considerado uma zona de paz.

O anúncio, que aconteceu depois de duas visitas ilustres ao país este ano – a dos então secretário de Estado norte-americano, Rex Tillerson, e logo a do vice-presidente do mesmo país, Mike Pence –, foi parte de um discurso onde Santos confirmou que a Colômbia também foi aceita como membro da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômicos (OCDE). “Ser parte da OCDE e da OTAN melhora a nossa imagem e permite ter maior capacidade de jogar no cenário internacional”, destacou o mandatário, pronto para deixar seu cargo.

Os sócios globais da OTAN “desenvolvem grande cooperação em áreas de interesse mútuo, incluindo os desafios de segurança emergentes, e alguns contribuem ativamente para as operações da OTAN, sejam elas militares ou outras”, indica a organização, em sua página web, onde a adesão da Colômbia também já foi anunciada.

Outros oito países formam parte desta mesma categoria: Afeganistão, Austrália, Iraque, Japão, Coreia do Sul, Mongólia, Nova Zelândia e Paquistão.

O general retirado Jairo Delgado, ex-chefe de inteligência policial e analista de defesa e segurança, considerou que a entrada do país como sócio global será com “restrições”. Não creio que a Colômbia deverá “se comprometer a assumir intervenções do tipo militar, por exemplo, mas sim pode se beneficiar de missões de preparação de tropas ou de intercâmbio de informação”, declarou.

Durante seu primeiro mandato, Santos havia assinado um acordo de intercâmbio de informação e segurança com a OTAN, o que provocou manifestações de preocupação por parte de vários governos: Brasil, Venezuela, Equador, Bolívia e Nicarágua consideraram o convênio como uma ameaça à estabilidade da região. A situação foi apaziguada quando o Ministério de Defesa colombiano descartou uma adesão plena ao organismo, opção que foi estudada por antecessor de Santos, o agora senador Álvaro Uribe (2002-2010).

Vários mandatários e analistas disseram, naquela oportunidade que Santos seguia ordens de Washington, que pretendia dinamitar desde a medula todas as conquistas em termos de comunhão regional que foram alcançadas nos últimos anos na América Latina, Caribe e América do Sul, transformando a região num cenário de paz, livre de armas nucleares e de exércitos interventores imperiais.

Santos já havia anunciado há cinco ano atrás – no dia 1 de junho de 2013, durante a cerimônia na Escola Militar de Cadetes, em Bogotá – essa medida que alvoroçou o vespeiro da América Latina. Um vespeiro que, naquele então, já andava agitado pelo apoio do mandatário colombiano à oposição (abstencionista, desestabilizadora e subversiva) venezuelana, a qual ele apoia financeira e operativamente, e também pela conformação da Aliança do Pacífico, eixo direitista que surgiu para enfrentar as iniciativas integracionista que não permitiam a intromissão estadunidense no continente, além de fechar as portas para acordos de livre comércio e demais políticas a favor do livre mercado neoliberal.

O presidente boliviano Evo Morales e o então chanceler equatoriano Ricardo Patiño também criticaram duramente o eventual ingresso da Colômbia na OTAN, porque traria ao continente o risco de haver bases militares colocando em perigo a segurança dos países que a integram.

Luis Varese, ex-representante adjunto do Alto Comissionado das Nações Unidas para os Refugiados, fez a seguinte provocação sobre o fato: “isso significa trabalhar pela paz numa frente interna para golpear seus inimigos ideológicos na frente exterior? E digo com precisão, inimigos ideológicos, porque em matéria de comércio ou da vontade dos dois povos, a vocação é a de unidade da Pátria Grande”.

Os defensores de Santos (se é que existem) dizem que é preciso buscar alianças fora da região para consolidar a paz na América do Sul.

Muitos já haviam alertado que as diferenças entre Álvaro Uribe e Juan Manuel Santos, revestidas por uma briga pelo poder, estavam apenas nos detalhes, já que no fundo eles defendem o mesmo, estão apegados ao mesmo modelo econômico e à dependência da política dos Estados Unidos.

(*) Camilo Rengifo Marín é economista e acadêmico colombiano, investigador do Centro Latino-Americano de Análise Estratégica (CLAE)

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