Se a esquerda e o centro não se unem, a direita ganhará – Por Camilo Rengifo Marín
Camilo Rengifo Marín*
O silêncio das armas serviu como caixa de ressonância para as denúncias de corrupção, a compra de votos e a improvisação do organismo eleitoral, que não tinha uma quantidade suficiente de cédulas as primárias presidenciais nem para as eleições legislativas do último domingo (11/3) na Colômbia, o que colaborou com o aumento da abstenção.
Há um consenso: tanto a direita quanto a esquerda fizeram menção a uma possível fraude. Pela primeira vez nas últimas décadas, uma votação aconteceu em completa paz: as FARC, agora um partido político reconhecido, participou voltando, e o ELN, outro grupo guerrilheiro, respeito o cessar fogo que ofereceu como gesto de respeito ao povo.
Mas o silêncio dos fuzis também permitiu ouvir os dramas da democracia que estavam escondidos pelo barulho da violência, e o escândalo passou a ocupar o lugar das balas: algumas autoridades eleitorais se negaram a entregar as cédulas de votação, segundo denúncia do próprio candidato da esquerda, Gustavo Petro.
As eleições primárias deixaram claro quem serão os candidatos presidenciais em maio: o uribista Iván Duque será o representante da direita, enquanto Petro é o principal nome da esquerda. Duque, do partido Centro Democrático, obteve 3,7 milhões de votos, superando Marta Lucía Ramírez (1,4 milhões), do Partido Conservador. A consulta da esquerda mostrou um Petro com 2,6 milhões de preferências, cinco vezes mais que o seu adversário, Carlos Caicedo (471 mil). A votação da direita reuniu pouco mais de 5 milhões de votos, contra 3 milhões da esquerda.
O Partido FARC, nascido após a desmobilização da guerrilha, a partir dos acordos de paz, sofreu uma dura derrota nas eleições legislativas, em seu primeiro encontro com as urnas: conseguiu apenas 52,5 mil votos (0,34%) para o Senado.
Para Petro, os fatos acontecidos no domingo mostraram que “o governo de Juan Manuel Santos não está oferecendo as garantias de segurança e funcionamento institucional para uma campanha presidencial que será muito acirrada”.
Ele também destacou que a vantagem da direita foi bastante ampla no departamento de Antioquia, um dos mais importantes do país, e no eixo cafeteiro, na zona andina. Porém, também lembrou que “nós (a esquerda) pudemos superar a Duque no litoral do Pacífico, nas regiões de Chocó, Nariño (os territórios onde mais se sofre com a guerra) e em boa parte da costa do Caribe. Acreditamos que podemos vencer a disputa pela Presidência”. Petro também venceu na capital do país, Bogotá, mas com uma vantagem muito aquém do esperado para uma cidade da qual ele já foi prefeito.
O panorama para as presidenciais de maio exige, portanto, a união dos candidatos do centro e da esquerda, caso estes queiram vencer a direita. A única opção desses dois campos para uma surpreendente contra o conservadorismo seria uma união entre Petro, o socialdemocrata Sergio Fajardo (do partido Compromisso Cidadão) e da líder da Aliança Verde, Claudia López, que por enquanto se apresenta como vice na chapa de Fajardo.
Por sua parte, o governo justificou assim os problemas de organização vistos durante a jornada eleitoral: “o problema foi a falta de recursos, imprimir 36 milhões de cédulas teria sido muito caro”, explicou Juan Carlos Galindo, representante do organismo eleitoral, que denunciou o Ministério da Fazenda por não entregar a verba solicitada previamente para a impressão.
A fragilidade do sistema eleitoral e a permanência de uma cultura de medo e terror, insuflados até hoje pelos meios de comunicação hegemônicos, ficou em evidência, assim como o fato de que os partidos corruptos e ligados ao crime organizado continuam tendo mais força nas disputas por cargos legislativos, com o apoio das máfias paramilitares de direita e do narcotráfico.
O partido com mais candidatos questionados pelos organismos humanitários é o Cambio Radical, com sete casos. Depois aparecem os uribistas do Centro Democrático, o Partido da Unidade, o Opção Cidadã e o Partido Conservador, cada um com cinco candidatos questionados.
Mas a verdade é que não importa o histórico criminal dos e dos seus candidatos. Neste último domingo, os colombianos escolheram seus representantes no novo Congresso – que terá dez representantes do partido FARC, que já tinham suas vagas especiais garantidas, segundo o determinado pelos acordos de paz – e quem serão os presidenciáveis. Agora, o cenário da luta principal já está montado.
(*) Camilo Rengifo Marín é economista e acadêmico colombiano, investigador do Centro Latino-Americano de Análise Estratégica (CLAE)