Alguns falam de invasão, outros de ressuscitar o Grupo de Boston – Por Alvaro Verzi Rangel
É evidente que na Venezuela existe uma semeadura permanente do pessimismo a fim de impor à imaginação coletiva da população o sentimento de que o país está submerso em um processo de deterioração imparável; que desmorona.
E é por isso que insiste repetidamente em questões como segurança, inflação, falta de alimentos e remédios, problemas inegáveis mas que são exagerados ao extremo, mesmo quando o mesmo problema é experimentado, também, em outros países da região, mas isso e seus efeitos são ignorados, tornados invisíveis, silenciados pelas mídias hegemônicas e organizações como a OEA (lembre-se da recente fraude eleitoral e repressão em Honduras) …
A semeadura, bem elaborada e executada é alimentada pela mídia nacional e estrangeira, com o uso das práticas de desestabilização mais audaciosas. O sentimento é que o que as pessoas estão procurando é sair do país antes que seja tarde demais, diz o ex-vice-presidente José Vicente Rangel.
Poucos falavam do petro (a nova criptomoeda), ou do diálogo que segue – entre o governo e a oposição – (ou não?) na República Dominicana, enquanto isso o governo anunciava o desmantelamento de uma célula terrorista comandada por Oscar Pérez, um ex policial piloto que bombardeou o Supremo Tribunal de Justiça.
A ofensiva contra a Venezuela tem ángulos diferentes. O economista da oposição, Ricardo Hausmann, ex-ministro de Carlos Andrés Pérez e funcionário de organismos multilaterais, ainda faz campanha pela intervenção militar dos EUA na Venezuela e uma estreita crítica à nomeação de um oficial da Guarda Nacional, o general Manuel Quevedo, para presidir uma PDVSA em meio a uma crise, o que reforça, diz ele, um processo de militarização da política.
Quando o controle de Washington não existe, como na Venezuela, desde que a missão militar dos EUA foi expulsa do país por Chávez e com as mudanças políticas e ideológicas dos 18 anos do processo bolivariano, recorre-se à desqualificação global do país.
Mas isso não desobriga o governo de colocar a PDVSA a funcionar, resgatar a produção, o que requer uma otimização organizacional, focar em atividades de extração e refinação, licitações, delegar em muitos casos a gestão e separação da burocracia – muitas vezes corrompida – que não gera petróleo.
No meio das tensões que caracterizam as relações de Washington e Caracas, pode ser visto como um impossível que pospere a iniciativa que propôs ressuscitar o Grupo de Boston em 2018, com o objetivo de estabelecer pontes, gerar pontos de contato e propiciar entendimentos entre os dois países.
O Boston Group foi um comitê parlamentar da Assembléia Nacional da Venezuela financiado pela Organização dos Estados Americanos (OEA) e criado pelo grupo de amizade parlamentar venezuelano-americano, após o golpe de estado de 2002. Se tratava de parlamentares de ambos os países que conversavam em um ambiente de menor polarização.
Metade dos membros venezuelanos eram deputados da oposição e a outra metade era pró-governo e a representação dos EUA era compartilhada igualmente entre democratas e republicanos. Entre os membros do grupo estavam Nicolás Maduro e John Kerry.
Você pode se surpreender ao conhecer o seu comitê executivo (criado em 2000): Pedro Díaz Blum, Calixto Ortega, Cilia Flores (esposa de Maduro), Luis Acuña, ex-ministro e diretor do Banco Central, José Khan, a reitora do Conselho Nacional Eleitoral ,Tania D ‘Amelio, Elvis Amoroso, Enrique Márquez e Ángel Emiro Vera.
Claro, as diferenças se agravaram com a passagem do tempo, todos os dias as palavras são mais amargas e a insistência de Washington em impor sanções econômicas e financeiras à Venezuela torna o progresso mais difícil.
É neste conjunto de acusações e reprovações mútuas que o Grupo Boston propôs agir para criar cadeias de contato que serão fortalecidas para de alguma forma recompor relacionamentos, criar confiança, provocar mudanças e estabelecer laços de cooperação. Um caso de realismo mágico?
(*) Sociólogo venezuelano, co-diretor do Observatório da Comunicação e Democracia.