Mario Neto, presidente del CNPq, sobre recorte de presupuesto: «El investigador brasileño es un héroe que resiste las dificultades»

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«O pesquisador brasileiro é um herói que resiste às dificuldades»

O sucateamento da ciência brasileira por conta dos cortes orçamentários do governo vem tirando o sono dos pesquisadores. Segundo o presidente do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), o professor Mario Neto, o contingenciamento do orçamento para o setor em 2017 está em torno de 39%. Podia ser pior: o previsto inicialmente pelo governo era chegar a 44% de corte. Para terminar 2017, porém, faltarão recursos ao setor, diz Neto. “Estamos na expectativa de que parte dos R$ 20 bilhões adicionais do aumento do déficit fiscal seja destinado à área de ciência, tecnologia e inovação. Se isso acontecer, nós conseguiremos fechar o ano pagando todos os compromissos assumidos”, disse.

Instituição destinada ao fomento da pesquisa científica e tecnológica e à formação e qualificação de pesquisadores, o CNPq é uma das maiores fontes de bolsas de pesquisa no país. Em um momento de redução de verbas e crise econômica, a instituição afirma que tem focado sua atuação em duas frentes. A primeira é buscar estabelecer parcerias com agências internacionais para «somar recursos» e gerar uma pesquisa de «maior impacto». A segunda é não depender só do governo e aumentar o interesse e, por consequência, o investimento da iniciativa privada. Algo que, segundo Neto, ganhou mais possibilidades com o novo marco do setor, aprovado em 2016. «Algumas empresas interessadas em parcerias tinham já, inclusive, participado do Ciência sem Fronteiras, mas não haviam ficado muito satisfeitas com aquele tipo de participação», disse o professor.

Em entrevista à Época NEGÓCIOS, o presidente do CNPq fala sobre essas parcerias com empresas que podem ajudar a contornar a crise do setor, comenta como os atuais cortes podem impactar a pesquisa dos próximos anos e reflete sobre o nível atual da ciência praticada no Brasil:

Como o cientista brasileiro vem se virando com tão pouco?
O pesquisador brasileiro ele vem sofrendo muito com isso, ele é um herói que resiste a essas dificuldades e que vem, inclusive, conseguindo resultados importantes pela persistência e luta. Mas, os recursos ainda são pequenos pelo que o país precisava para se manter não só como uma potência economia, mas também uma potência científica, cultural e social.

Eles estão procurando alternativas para desenvolver seus projetos fora do país?
Nós temos tido conhecimento de alguns casos de pesquisadores que estão indo para outros países, mas isso não está quantificado de uma forma precisa. Essa situação é sempre um prejuízo, porque nós investimos na formação desse pesquisador exatamente para que ele possa ajudar o país a transformar conhecimento em riqueza. Na medida em que perdemos, mesmo que seja alguns, isso não é uma boa trajetória.

Parar de investir em pesquisas brasileiras não gera um custo maior com tecnologias internacionais?
Sem dúvida. Parar com pesquisa no país é um desastre total, porque você não só você vai ter que comprar essas tecnologias, como o país vai caminhar para trás. Digo isso porque a competitividade do país depende de ciência, tecnologia e inovação de uma forma direta e estreita. Hoje, o país tem conseguido ter uma balança comercial favorável por causa do agronegócio, da produção de alimentos, tanto de grãos, quanto de carne. E embora não pareça, isso é devido exatamente a ciência que está por trás dessa produção de alimentos. Ela ajudou a aumentar a produtividade dos nossos campos. O Brasil se tornou o segundo maior produtor de soja do mundo graças a ciência e a tecnologia que foi embutida nesse processo. Hoje você produz carne com uma redução de tempo muito grande em relação ao que era tradicionalmente produzido na criação natural. Portanto, se nós não conseguirmos investir em ciência, tecnologia e inovação, todos esses processos irão se perder.

Existe o risco de faltar verba para o pagamento das bolsas de pesquisa este ano?
Não, agora essa questão está bem equacionada e até o final do ano nós estamos com os recursos assegurados. O governo tem consciência da importância da bolsa. Ela é importante para a formação do pesquisador, sem ela você não forma o cientista e não gera ciência. Se você não gera ciência, você não produz conhecimento. Se você não produz conhecimento, você não gera riqueza. E se você não gerar riqueza você não desenvolve o país. O erro de governo tem sido querer distribuir riqueza sem se preocupar com a geração. É importante que você gere riqueza. E uma das formas de gerar, importantíssima hoje no mundo atual, é a capacidade do país de ter ciência, tecnologia e inovação.

E no ano que vem?
Nós estamos vislumbrando um ano parecido com este, ou seja, com muita dificuldade. Mas estamos na expectativa de que essa grande sensibilização que está havendo com relação aos cortes orçamentários nos ajude para que possamos ter um 2017 mais tranquilo. As dificuldades, porém, vão ser grandes, porque o déficit é enorme. E a economia começa a recuperar, mas ainda está longe da época de ouro que foi até anos de 2012.

Existe alguma parceria com setores privados ou universidades estrangeiras para amenizar as consequências da crise?
As duas bandeiras do CNPq hoje são justamente a internacionalização e a inovação. Associar-se a grandes pesquisadores do resto do mundo, é muito importante para melhorar a qualidade da pesquisa produzida no Brasil e, assim, conseguir gerar maior impacto. Quando você faz parcerias com pesquisadores estrangeiros, traz as agências de outros países para trabalhar de forma conjunta, você ganha mais recursos. Também estamos buscando estabelecer parcerias com empresas, aproveitando o novo Marco Legal, lei sancionada no ano passado, que abre a possibilidade de uma maior interação entre a academia e o mercado. O CNPq lançou uma convocação para as empresas que queiram investir em ciência, tecnologia e inovação junto ao instituto e a resposta tem sido muito positiva. Algumas empresas interessadas tinham já, inclusive, participado do Ciência sem Fronteiras mas não haviam ficado muito satisfeitas com aquele tipo de participação. Vieram até aqui agora para discutir novas formas de investimento.

Por falar no Ciência sem Fronteiras, como o senhor avalia o programa?
O programa Ciência Sem Fronteiras teve algumas qualidades e muitos defeitos. Um dos defeitos foi o envio dos alunos para o exterior ter sido baseado em uma meta numérica de 100 mil bolsistas.  Em ciência, meta numérica não faz muito sentido, você precisa do mérito e da capacidade dessas pessoas de usarem bem o investimento que está sendo feito nelas. Ao retornar, é preciso que elas sejam também encaixadas dentro de um sistema nacional de ciência, tecnologia e inovação. E nada disso foi planejado no programa. Então ele tem muitos defeitos que agora nós estamos tentando concertar da melhor maneira possível. Sem falar dos investimentos vultuosos que o programa recebeu.

Ele gerou resultados positivos para a ciência brasileira?
Tem resultados bons, não é tudo ruim. Mas se você pensar que foram mandados 100 mil bolsistas para o exterior e que apenas 30% dessas pessoas foram muito bem sucedidas, é muito pouco frente ao total investido.

Os cortes do orçamento podem afetar a ciência brasileira por vários anos? Como vocês avaliam o futuro do setor?
Isso é um ponto importante. O teto dos gastos vai fazer com que o orçamento público do Governo Federal não tenha um crescimento durante 20 anos. Um crescimento poderia resolver o problema da ciência brasileira, então precisamos procurar alternativas para isso. Uma delas é você ter uma forma de os fundos não serem contingenciados, especialmente o Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT). É preciso assegurar isso. Os políticos, tanto da Câmara quanto do Senado, estão tomando consciência disso. Felizmente, a ciência é uma bandeira apartidária e carrega uma agenda positiva que os parlamentares compram com facilidade. Outro ponto é facilitar através da regulamentação da legislação a participação do setor empresarial – para que ele possa ser motivado a investir em ciência, tecnologia e inovação. Com isso, teríamos uma saída para médio e longo prazo para o setor.

O que você diria aos pesquisadores brasileiros neste momento?
Continuem lutando, não desistam. Nossa luta tem que continuar para que possamos mostrar à toda a sociedade que é através da ciência, tecnologia e da inovação, que podemos fazer do Brasil uma grande potência. Nós temos todas as condições, de recursos naturais, de alternativas, precisamos só melhorar nossa educação e fazer os investimentos necessários.

Epoca Negócios

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