Renunció el ministro de cultura de Brasil tras menos de un mes de mandato

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João Batista de Andrade: ‘Foi o governo que quebrou o acordo’

O cineasta João Batista de Andrade credita ao próprio governo a mais recente crise que se abateu sobre o Ministério da Cultura — pasta que, na gestão de Michel Temer, chegou a ser brevemente extinta, mas retornou para ter dois titulares, Marcelo Calero e Roberto Freire, que deixaram seus cargos fazendo críticas ao presidente. Ministro interino desde a saída de Freire, em maio, Batista de Andrade, antes secretário-executivo da pasta, enviou nesta sexta-feira carta a Temer em que declara “seu desinteresse em ser efetivado” na função. Na prática, o cineasta ficará no MinC até o presidente, que está em viagem à Rússia, indicar um substituto.

Ao GLOBO, Batista de Andrade aponta três motivos para sua decisão: os cortes orçamentários, o esvaziamento do Fundo Nacional de Cultura e o que ele chama de “desrespeito” com as indicações do MinC para a diretoria da Agência Nacional do Cinema (Ancine). O cineasta afirma que o governo quebrou um acordo feito com o ministério ao não aceitar o nome da produtora Debora Ivanov como presidente da Ancine.

O que motivou o senhor a enviar a carta avisando que não continuaria no governo?

Já venho pensando há algum tempo na minha retirada. Na verdade, desde a saída do Roberto Freire. Mas eu não podia deixar o ministério sem ministro e sem secretário-executivo. Então fiquei. Mas fui começando a ver o que era o MinC. A pasta tem um orçamento cada vez menor, é mesquinho para suas atividades. Um pouco antes de eu assumir, houve um corte de 43%. Outro dado é que o Fundo Nacional de Cultura, que no passado já teve R$ 500 milhões em conta, foi entregue ao Roberto com R$ 50 milhões. E sabe quanto tem para este ano? Zero. Nenhum centavo. O MinC não permite a sobrevida do ministério nem para tocar a máquina. E tudo isso em meio ao desrespeito com as decisões do MinC, como aconteceu com a Ancine. Qual o papel de um ministro numa situação dessas?

Então a indicação de Debora Ivanov como diretora-presidente da Ancine, feita pelo senhor na semana passada, não foi aceita pelo governo?

Não tive nem resposta, não houve conversa comigo. Mas o próprio Palácio do Planalto se manifestou através da imprensa que seu indicado seria o Sérgio Sá Leitão. Depois, indicaram a Fernanda Farah para uma diretoria da Ancine sem passar pelo MinC. Para mim foi a gota d’água.

Mas o senhor não teria que conversar com o presidente antes de fazer suas indicações?

Desde que entrei no governo como secretário-executivo, comecei a trabalhar na busca de nomes para a Ancine. Eram duas vagas, uma para diretor e outra para diretor-presidente. Eu me reuni com as pessoas do cinema, em busca de nomes de consenso. Nossa ideia era indicar pessoas que todo o setor apoiasse, como a Debora. Nesse período, o Palácio resolveu indicar para o Roberto Freire o nome do Sérgio Sá Leitão. Não tenho nada contra ele, mas avisei que não estava condizente com o trabalho que vínhamos fazendo. Mas o Roberto achou que deveríamos aceitar porque é um governo de coalização. Então foi feito um acordo: aceitaríamos a indicação, mas o MinC é que apontaria o presidente da Ancine. Isso foi comunicado até para o próprio Sérgio.

Mas, antes da saída de Freire, o seu nome chegou a ser anunciado como presidente da Ancine.

Sim. Eu não queria ir para a Ancine, falei isso para o Roberto, mas ele insistiu muito. Acabei aceitando e, dentro do acordo que tínhamos feito, fui indicado para a presidência da agência, com apoio do setor. Quando o Roberto saiu, aquilo passou a não fazer mais sentido. Eu era secretário-executivo, não tinha como ser ministro interino e presidente da Ancine. Decidi ficar no MinC para não deixar a pasta vazia. Voltamos então a buscar um nome de consenso, e surgiu a Debora. Diante do acordo que tínhamos feito, a indiquei para a presidência. Mas não foi levado em consideração. Foi o governo que quebrou o acordo.

O nome de Sá Leitão na presidência da Ancine não foi considerado pelo MinC? Há resistência?

Conhecia muito mal o Sérgio, ouvia falar um pouco e sabia de algumas queixas que parte do cinema carioca tem contra ele. Mas o que nos motivou é que ele não era o nome que vinha sendo costurado pelo MinC junto ao setor. Foi uma indicação do Palácio do Planalto.

O senhor fica até quando no MinC?

Mandei a carta para o Palácio, para os deixar à vontade, para dizer que vou esperar a troca. Agora a decisão é do Palácio. Fiquei um pouco enjoado com esse carrossel de nomes que tem saído na imprensa para ocupar o cargo. Não vim para cá atrás de cargos, vim para fazer política cultural.

Muita gente o criticou por ir para um governo que travou batalhas com o setor cultural. O senhor se arrepende de ter aceitado o cargo?

Não me arrependo de nada. As pessoas dizem que isso é uma ditadura, mas nunca vi ditadura em que o presidente é obrigado a depor, tem processo. Tenho uma formação de esquerda, mas tenho uma visão de que nem sempre se pode escolher o campo de batalha e a arma. Minha luta era para blindar o MinC. O Brasil precisa de uma política cultural livre.
O Globo


Marta Suplicy rejeita reassumir Ministério da Cultura

A senadora Marta Suplicy (PMDB-SP), ex-ministra da Cultura no governo Dilma Rousseff, foi sondada semanas atrás para reassumir a pasta, mas rejeitou o convite. Seria uma tentativa de fazer agrado ao PMDB, que quer mais um ministério depois da demissão de Osmar Serraglio da Justiça para dar lugar a Torquato Jardim.

Em carta enviada ao presidente Michel Temer, o ministro interino da Cultura, João Batista de Andrade, pediu demissão do cargo nesta sexta-feira, 16, alegando que a pasta ficou «inviável» e que há uma «deterioração» do ambiente político. A informação foi antecipada pela Coluna do Estadão no estadão.com.br. Ele é o terceiro a deixar o comando do Ministério da Cultura em um ano de governo Temer.
Segundo pessoas próximas à Marta, os motivos da recusa são os mesmos usados por Andrade para pedir demissão: redução de pessoal e corte de verbas.
De acordo com interlocutores de Marta, o sucateamento da pasta com o corte de pessoal feito ainda na gestão de Marcelo Calero e o contingenciamento de 43% do orçamento da Cultura inviabilizaram a gestão da pasta.
Interino
O Palácio do Planalto já não tinha a intenção de efetivar o ministro interino da Cultura, João Batista de Andrade, no cargo, em retaliação ao fato de Roberto Freire, titular anterior, ter saído e cobrado a renúncia de Temer, após a delação do empresário Joesley Batista, um dos acionistas da J&F. Os dois são filiados ao PPS.
A pasta poderia ser oferecida à base aliada na negociação por apoio político no Congresso assim como o Ministério da Transparência, que também está com ministro interino.
Andrade disse ao jornal O Estado de S. Paulo que decidiu deixar o cargo após perceber que o posto estava sendo negociado com outros partidos da base. «Eu não vim aqui atrás de cargo, vim fazer política cultural», afirmou Andrade, alegando que não quer ficar no meio «dessa roda de disputa». O interino afirmou que o corte de mais de 40% do orçamento da pasta tornou o funcionamento «inviável». «Os governantes não ligam muito para o Ministério da Cultura», disse.
Ele lembrou que sua indicação para ocupar o cargo de presidente da Agência Nacional do Cinema (Ancine), Debora Ivanov, foi ignorada, e que Temer preferiu outra pessoa. «Se como ministro não posso indicar os nomes das agências que estão ligadas à pasta, o que eu estou fazendo aqui? É um grau de desprestígio muito grande. Isso vai desgastando», afirmou.
Andrade é escritor, roteirista e cineasta. Antes do ministério, foi nomeado secretário de Cultura do Estado de São Paulo em 2005 e, entre 2012 e 2016, exerceu a função de presidente da Fundação Memorial da América Latina (SP).
O governo deve efetivar a troca na Cultura quando Temer retornar da viagem para Rússia e Noruega na sexta-feira, 23. Um dos cotados é o deputado André Amaral (PMDB-PB). As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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