Aloysio Nunes: una política externa omisa y sumisa (Brasil) – Por Diogo Bueno y Josué Medeiros

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Los conceptos vertidos en esta sección no reflejan necesariamente la línea editorial de Nodal. Consideramos importante que se conozcan porque contribuyen a tener una visión integral de la región.

Aloysio Nunes: uma política externa omissa e submissa

A nomeação de Aloysio Nunes (PSDB-SP) para o Ministério das Relações Exteriores, em substituição ao tucano José Serra, faz lembrar uma certeira frase do Barão de Itararé: «De onde menos se espera é que não sai nada mesmo».

Com o novo chanceler, podemos ter certeza de que que a trágica política externa do governo golpista terá continuidade garantida sob a direção do também senador do PSDB.

Em comum, Serra e Aloysio têm trajetória política no estado de São Paulo. Ambos foram eleitos várias vezes para o legislativo estadual e federal e para o executivo. Serra foi prefeito e governador e Aloysio foi vice-governador durante o massacre do Carandiru, em 1992, quando 111 presos foram executados pela polícia militar.

Ademais, eles têm no currículo um passado de participação em movimentos esquerdistas – Serra é ex-presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE) e Aloysio foi guerrilheiro e motorista de Carlos Marighella – e um presente de ação entreguista e autoritária, que vai na contramão daquilo que eles faziam na juventude.

E os dois também se mostraram exímios analistas da política internacional, colecionando declarações de desprezo e de desqualificação ao então candidato republicano Donald Trump, hoje presidente dos Estados Unidos.

Ao aceitar o cargo, Aloysio Nunes gravou um vídeo que nos permite analisar bem sua capacidade para o papel de chefe da política externa golpista.

Na mensagem, três tópicos chamam atenção e merecem ser destacados: em primeiro lugar, o novo ministro afirma que o Brasil começa a sair de uma profunda crise econômica.

Aloysio parece desconhecer os dados produzidos pelo governo do qual faz parte, pois o IBGE anunciou em janeiro que vivemos no país uma situação de desemprego recorde, com 13 milhões de pessoas sem trabalhar, número que foi superior às piores previsões das agências econômicas internacionais que os tucanos tanto prezam.

Nesse tema da crise econômica, o chanceler terá que se bater também com os organismos internacionais das Nações Unidas. Por exemplo, o relatório do PNUD de dezembro de 2016 alertando para o aumento da pobreza no país, ou ainda com as instituições que regem o sistema econômico internacional, tal como consta em documento do Banco Mundial divulgado em fevereiro de 2017 no qual essa idônea instituição do neoliberalismo estima que entre 2,5 milhões e 3,6 milhões de pessoas deverão retornar para a miséria no Brasil até o final desse ano.

Além disso, o titular do Itamaraty afirma que o Brasil tem um papel relevante a cumprir na agenda internacional porque é um país grande. Sim, é isso mesmo. O nosso tamanho é o principal predicado aventado pelo ministro na sua doutrina da política externa. Esperemos novos documentos que conceitualizem o que é “ser um país grande” como elemento de protagonismo internacional.

Por fim, em momento de altíssima inspiração republicana (sic), Aloysio agradece aos amigos que o ajudaram na sua vitoriosa carreira política e diz que não vai decepcioná-los.

Nisso, caro Ministro, tenha certeza que nós acreditamos.

Sabemos muito bem que aqueles que o ajudaram são os que mais se beneficiam da agenda neoliberal implementada pelo governo de Michel Temer. Sabemos que entre eles estão os interesses estrangeiros que querem acabar com a soberania nacional e transferir nossas riquezas para engordar os lucros das grandes corporações.

Como cada golpe tem o chanceler que merece, Aloysio Nunes tem todas as prerrogativas para o cargo de Ministro das Relações Exteriores.

O novo chanceler segue uma linha coerente com o atual governo, na qual, para ocupar a pasta, precisa ser investigado, ser réu ou constar em alguma lista de delator.

E nesta matéria pode-se afirmar que Nunes cumpre exemplarmente os requisitos. Desde 2015, o Supremo Tribunal Federal autorizou, no âmbito da operação Lava-Jato, a abertura de investigações sobre o então senador, suspeito de receber propinas de empreiteiras na sua campanha para o senado em 2010. Tal fato, no entanto, está longe de ser exceção no Brasil pós-golpe, afinal o ministério de Temer tem quase uma dezena de investigados pelo STF.

Como se não bastasse, e na contramão de uma das principais tradições históricas da diplomacia brasileira, Aloysio Nunes leva também para o Itamaraty a marca de um político autoritário e violento que se orgulha de combater “o politicamente correto”, tal como ele mesmo declarou em entrevista quando foi nomeado candidato a vice-presidente em 2014 na chapa derrotada do PSDB e como atestam os constantes xingamentos e agressões a jornalistas.

Nunes também levará para o Itamaraty a presença de Eduardo Saboia, na chefia de gabinete, cujo principal feito na carreira foi interferir na política interna da Bolívia ajudando um senador condenado pela justiça a fugir do país.

A nomeação de Aloysio tem o mérito de confirmar que o governo golpista não é só dominado pelo PMDB. A cada dia que passa o domínio do PSDB é maior, abrangendo a área econômica, a nomeação de novo ministro do STF e a direção das relações exteriores.

Os tucanos não aprenderam a ganhar eleição mas sabem muito bem quais são as áreas estratégicas que precisam assumir.

Em suma, podemos cravar com alto grau de acerto que a Aloysio seguirá o curso de seu antecessor e aprofundará a destruição da política externa brasileira ativa e altiva que impulsionou o Brasil no cenário internacional nesse começo de século XXI. A contrapartida é clara, implementar um projeto que mais se assemelha a uma política externa omissa e submissa.

Se lembramos que Aloysio esteve na Venezuela para denunciar a “ditadura bolivariana” e que ele foi aos EUA durante o processo de impeachment negociar o apoio oficial estadunidense – missão na qual falhou – podemos ter certeza que nosso país acumulará mais perdas no cenário internacional.

Entre elas, o fim do protagonismo no Sul Global, do ativismo nos Brics, da concertação com os vizinhos latino-americanos e, finalmente, de aproximação a um continente que desponta, a África.

Neste sentido a escolha foi certeira. Aloysio Nunes é o indivíduo que mais representa a gestão de Michel Temer, o homem perfeito para o desgoverno completo, no qual ele, como chanceler, terá somente uma tarefa: desfazer tudo o que foi feito anteriormente com o intuito de acabar com a soberania nacional do Brasil e nos posicionar de modo subalterno na globalização neoliberal ora em crise.

* Diogo Bueno é analista internacional e Josué Medeiros é professor de Ciência Política. Ambos são integrantes do Grupo de Reflexão sobre Relações Internacionais/GR-RI.

Carta Capital

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