Pepe Mujica, expresidente de Uruguay, en Brasil pide respetar al voto como única fuente de legitimidad

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Condecorado nesta quinta-feira em Ouro Preto com o Grande Colar, grau máximo da Medalha da Inconfidência, o ex-presidente do Uruguai José Pepe Mujica pediu respeito ao voto popular, ressaltando que «a única fonte real de legitimidade na democracia é o voto».

A cerimônia de entrega da Medalha da Inconfidência, que ocorre todos anos em Ouro Preto, foi encerrada com o discurso de Mujica, que defendeu a democracia e falou sobre a crise política pela qual passa o Brasil.

— Não é um problema de um partido. É um problema do Brasil. Seja qual for o desfecho da crise, nosso país precisa passar um processo de pacificação. Sem isso, não encontraremos saída — disse o ex-presidente uruguaio, atribuindo o uso do pronome pessoal por ter a América Latina como pátria e, por isso, também se sentir brasileiro.

Mujica mostrou-se especialmente preocupado com o efeito negativo que a crise política no Brasil pode ter sobre os jovens:

— A função da política é lutar por um mundo melhor e negociar as inevitáveis diferenças que se apresentam na sociedade. Insisto nesse ponto porque o pior resultado que se pode ter para as novas gerações, com o conflito que se está vivendo no Brasil, é que muita gente jovem termine concluindo que a política não serve para nada e que são todos iguais.

Em entrevista após a cerimônia, Mujica evitou entrar em detalhes da crise política no Brasil, mas voltou a defender o resultado das urnas.

— Eu não acredito em bruxas, mas que elas existem, existem. Não gosto que corrijam o voto do povo — afirmou.

Durante a cerimônia, integrantes do Movimento Sem Terra (MST) protestaram contra o pedido de impeachment. Durante o acendimento da pira, posicionaram-se contra o vice-presidente Michel Temer e o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, ambos do PMDB. «Queima o Temer, queima o Cunha», gritaram.

Globo

Direita pode tirar Dilma do cargo, mas não solucionará a crise, diz Mujica

O ex-presidente uruguaio José «Pepe» Mujica afirmou nesta quinta-feira (21) que a direita não vai solucionar a crise no Brasil tirando a presidente Dilma Rousseff.

«A direita pode pensar que magicamente, ao tirar Dilma, consertará a crise. Não podem. Pode consertar a crise em um país sem conciliar o capital com o trabalho? Não, não pode», disse o uruguaio em Ouro Preto, onde foi homenageado com o Grande Colar, grau máximo da Medalha da Inconfidência.

Ele afirmou ainda que há hoje no Brasil uma ilusão de que a presidente Dilma seria a responsável pela retração econômica quando, na verdade, crises fazem parte do capitalismo e, portanto, são sistêmicas. «O Brasil se encontra hoje no ponto mais baixo da crise do próprio capitalismo. Este é um problema do sistema, mas quando há dor na sociedade, precisam encontrar em quem colocar a culpa. Vai passar um tempo e o brasileiro vai perceber que nada é tão mau nem tão bom.»

Mujica também foi questionado se o impeachment da petista pode ser considerado golpe. «Há um ditado popular no Uruguai que diz: não acredito em bruxas, mas que elas existem, existem.»

Ele defendeu ainda o voto popular e disse que ele jamais deve ser esvaziado. «As pessoas se equivocam, mas ainda assim são elas as que têm o direito de se equivocar [ao votar] porque são elas as que pagam impostos», afirmou ele, frisando que ele não abordaria o aspecto institucional ou legal do Brasil.

‘PACIFICAÇÃO’

Sem citar o impeachment de Dilma, o governador Fernando Pimentel (PT) também ressaltou a supremacia do voto livre e popular frente às decisões do parlamento, dos tribunais e das manifestações de rua. «A única pacificação real é a que vem do voto popular, do voto livre e direto.»

Para ele, «os parlamentos representam, sim, os eleitores e têm papel fundamental, como fundamental também é o papel dos tribunais ao promoverem julgamentos no estrito limite da lei, desde que assegurados e respeitados todos os direitos constitucionais e universais».

«Mas nada, repito nada, supera o valor absoluto da supremacia do voto popular. É dele, e somente dele, que advém a legitimidade dos Poderes.»

EVENTO FECHADO

Tradicional evento realizado desde 1952, a Medalha da Inconfidência foi restrita a convidados pela primeira vez desde a posse do governador petista.

Depois criticar os governos Aécio Neves (2003-10) e Antonio Anastasia (2010-14), que fechava o evento, em 2015, a Medalha da Inconfidência foi aberta ao público.

Neste ano, o governo alegou motivos de segurança para restringir o evento. Foram convidados movimentos sindicais, como CUT, e o MST (Movimento os Trabalhadores Sem Terra), que levaram faixas de apoio ao governo e com os dizeres «Cunha e Temer: traidores do Brasil».

Também durante a cerimônia foi considerada a abertura da Marcha pela Democracia, organizada pela Frente Brasil Popular, de apoio ao governo Dilma.

O movimento de resistência ao processo de impeachment fará um ato político em Mariana, passará por outros municípios mineiros e será encerrada em Belo Horizonte na próxima terça-feira (26).

CONFUSÃO

Nas ruas laterais à praça Tiradentes, onde acontecia o evento, servidores da Segurança Pública de Minas Gerais e representantes de entidades de classe –como a Aspra (Associação dos Praças Policiais e Bombeiros de Minas Gerais), Ascobom (Associação dos Servidores do Corpo de Bombeiros de Minas Gerais) e Centro Social dos Cabos e Soldados da Polícia Militar– foram impedidos pela tropa de choque da PM de entrar no evento.

Eles organizaram uma manifestação contrária ao governo petista que, em janeiro deste ano, adotou o escalonamento dos salários dos servidores que recebem mais de R$ 3.000 devido à crise financeira do Estado. Desde a decisão do governo pelo parcelamento, as manifestações da PM têm sido constantes.

Os manifestantes foram recebidos pela tropa de choque com spray de pimenta e, segundo eles, bombas de gás lacrimogêneo. A PM negou o uso do gás. De acordo com o capitão Flávio Santiago, o uso do spray de pimenta foi direcionado apenas a pessoas que tenham tentado entrar à força ou sem credencial –já que o evento foi fechado
ao público.

Folha

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