La política de la venganza – Diario Zero Hora, Brasil
Los conceptos vertidos en esta sección no reflejan necesariamente la línea editorial de Nodal. Consideramos importante que se conozcan porque contribuyen a tener una visión integral de la región.
O Brasil atingiu ontem o momento mais agudo da atual crise política, com o acolhimento de um dos 34 pedidos de impeachment da presidente Dilma Rousseff, que agora será examinado por uma comissão especial formada por lideranças de todos os partidos e posteriormente pelo plenário da Câmara dos Deputados. Se dois terços dos parlamentares aceitarem a abertura do processo, ele será enviado ao Senado e, só então, depois da chancela da Câmara Alta, a presidente teria que se afastar do cargo. Dilma é acusada de ter cometido crime de responsabilidade ao incidir na prática das chamadas pedaladas fiscais, que são o uso de artifícios contábeis para maquiar os resultados das contas públicas. Outros governantes utilizaram o mesmo procedimento, mas a atual oposição, proponente do pedido de afastamento, reuniu argumentos jurídicos consistentes.
Não se trata de um golpe, o impeachment está previsto na Constituição. Trata-se, isto sim, de uma vingança política explícita por parte do presidente da Câmara, deputado Eduardo Cunha, que se julga perseguido pelo governo por ter sido denunciado pela Procuradoria-Geral da República como beneficiário de propinas no escândalo da corrupção na Petrobras. Cunha segurou sua decisão sobre os pedidos de impeachment até saber que a bancada petista votaria contra ele no Conselho de Ética e Decoro Parlamentar. Foi uma evidente retaliação.
É lamentável que as relações políticas entre o Planalto e o Congresso tenham se deteriorado a esse ponto, mas a crise também abre oportunidade para uma depuração ética. Tanto a presidente da República quanto o presidente da Câmara poderão apresentar suas defesas e alterar o rumo de seus julgamentos. Difícil vai ser mudar a percepção dos brasileiros em relação aos seus desempenhos nos cargos que ocupam: Dilma faz um mau governo, adota decisões equivocadas, não consegue equilibrar as contas e está impondo sacrifícios sucessivos à população; Cunha comanda uma das casas legislativas de forma prepotente e vingativa, comporta-se como se estivesse acima da lei e não consegue justificar os delitos de que é acusado.
O que fica deste deplorável episódio é um pouco mais de desencanto com a política e a certeza de que o Brasil merece lideranças mais qualificadas.