Hora de la reflexión (Brasil) – Por Tarso Genro

A presidente Dilma Rousseff durante entrevista coletiva sobre a Copa do Mundo, em Brasília, na segunda-feira. 14/07/2014 REUTERS/Ueslei Marcelino
401

Los conceptos vertidos en esta sección no reflejan necesariamente la línea editorial de Nodal. Consideramos importante que se conozcan porque contribuyen a tener una visión integral de la región.

Hora da reflexão

O Brasil vive uma situação inusitada. A falta de uma condução política coerente do Governo, de um lado, e, de outro, o fato de que ele tenta promover um ajuste contraditório com o discurso de campanha – adotando medidas que a oposição iria aplicar se vencesse o pleito – tem proporcionado a formação de uma ampla aliança política, que agora já se propõe explicitamente a retirar Dilma da Presidência. Não se trata de um movimento, cujo sucesso depende da adesão militar, como ocorreu em 1964, pois, para o júbilo da nossa democracia, as Forças Armadas estão firmes e tranquilas na sua missão constitucional e não tem aceito as provocações que, às vezes vem de grupos civis saudosistas de um regime de força, às vezes procede de militares da reserva. Trata-se de um processo político e jurídico, por dentro das normas constitucionais, o que não lhe dá legitimidade, sem que motivos sólidos sejam apontados para alcançar o seu desfecho.

Na verdade, se as direções políticas mais responsáveis dos partidos – de todos os âmbitos – parassem um pouco para pensar e não se seduzissem com a radicalização do confronto, promovida pela maior parte da grande mídia, -se parassem para pensar, repito- veriam que o melhor para o país e para quem preza o sistema democrático conquistado em 88, seria deixar Dilma governar até o fim. Mesmo que ela não mude o ajuste ou não consiga aplicá-lo, como ela está pretendendo, pois o confronto que está sendo promovido tem por base o fato de que o ajuste está “lento” e é “pequeno”, não que ele esteja fraudando as expectativas das classes populares e da própria classe média. Enganam-se os que pensam que a mídia iria simplesmente serenar, com outro Governo. Explico-me.

A grande mídia não mudará o seu comportamento porque a notícia, o crime, o escândalo constituem, hoje, em todo o mundo, uma mercadoria extremamente atraente para o senso comum, por razões que derivam da nossa condição de “sociedade-espetáculo”, que necessita exaltar os prazeres e a tragédias do presente, para que as pessoas vivam a vida com urgência e com consumo. E ela, a mídia, pode continuar fazendo o que faz sem quaisquer considerações de natureza moral ou política, pois não precisa de deputados e senadores, para lhe apoiar, pois é eles que precisam dela para sobreviver. A mídia precisa é que as pessoas comprem e não carece de prestar contas a ninguém dos seus erros, dos assassinatos de reputações, das perseguições políticas e das condenações sem Juízo. Até mesmo porque muitas informações que ela transita são, também, uma contribuição ao debate político de fundo, que se trava numa democracia, o que supostamente absolve-a dela “ter lado” na política e na economia. Se, eventualmente, der certo o impedimento da Presidenta -o que sinceramente não creio- quem assumir ficará subjugado a este mesmo processo, no qual os governantes são reféns permanentes do partido midiático. Uns ficam a gosto, outros sem gosto.

Outro motivo que recomenda prudência é o seguinte: é ilusão achar que, de um lado, no Brasil, estão os corruptos e, de outro lado, os imaculados que iriam “passar a limpo” a nação. Em ambos os lados -não sei se na mesma proporção- existem grupos de pessoas que usam a política para locupletar-se, para melhorar de vida, para tratar de interesses privados espúrios, que só podem ser encaminhados em detrimento do interesse público. Basta socorrer-se das informações oficiais da Justiça Eleitoral e da Justiça Penal, para concluir que os partidos que iriam assumir (ou permanecer no poder), tem uma plêiade de “desviantes” da conduta republicana -para usar um linguajar “soft”- muito significativa, já testada em cargos públicos desde a década de 80. Pessoas corretas, que são a maioria, tem em ambos os lados e o que ocorreria, na verdade, seria a interrupção de um mandato legítimo, por um mandato que teria que se legitimar e que não conseguiria fazê-lo sem uma base política sólida, pois a atual frente oposicionista seria esfacelada por falta de unidade programática.

Um terceiro e fundamental motivo para a prudência é que a oposição não está unida contra o “ajuste” para dar-lhe um sentido menos sofrido para as camadas populares e para os setores médios, que logo ficariam desencantados com qualquer novo Governo. A unidade oposicionista está pautada pela vontade de “tirar o PT do poder”, o que é apenas um elemento simbólico de unidade, que se nutre, de uma parte, do ódio disseminado contra toda uma comunidade partidária a partir do “mensalão” e, ainda mais ofensivamente, quando descoberto o sistema de corrupção na Petrobras, que está lá desde os anos 90. A unidade pela negação é sempre uma unidade limitada. Ela permanece até que a dialética do confronto “amigo-inimigo” se resolva e os portadores do ódio encontrem outro leito para despejar sua fúria. Um Governo que sucederia Dilma, pelo seu impedimento, iria radicalizar o ajuste e aumentar a concentração do sacrifício nos “de baixo”. E as consequências disso, num país que melhorou muito a vida de 50 milhões de pessoas, nos últimos dez anos, seriam imprevisíveis até para a estabilidade democrática do país.

Tarso Genro. Fue gobernador de Río Grande do Sul, alcalde de Porto Alegre, Ministro de Justicia, Ministro de Educación y Ministro de Relaciones Institucionales de Brasil.

Carta Maior

Más notas sobre el tema