Tras 59 años en la vida política, se retira el expresidente José Sarney
Sarney: da Presidência da República aos atos secretos no Senado
Após 59 anos de vida pública, o senador José Sarney (PMDB-AP) anunciou que não será mais candidato. Aos 84 anos, ele desistiu de concorrer a mais um mandato nas eleições de outubro. Ele pretende agora ficar ao lado da mulher, Marly Sarney, que tem estado de saúde frágil.
Primeiro presidente após o fim da ditadura militar, Sarney subiu a rampa do Palácio do Planalto como o mandatário do país após a morte de Tancredo Neves, eleito presidente numa eleição indireta daquele ano, em 21 de abril de 1985. Sarney era candidato a vice na chapa de Tancredo, mas sua posse foi tensa. O ex-presidente José Figueiredo se recusou a participar da cerimônia de transmissão do cargo porque considerava o político maranhense um traidor do PDS e do seu governo. Também havia dúvidas constitucionais sobre se ele ou o então presidente da Câmara, Ulysses Guimarães, que deveria assumir o cargo.
Acabou sendo decisivo para que Sarney se tornasse presidente o apoio do general Leônidas Pires Gonçalves, indicado por Tancredo para Ministro do Exército.
No poder, o mandato de Sarney foi marcado pela consolidação da democracia e uma grave crise econômica com um quadro de hiperinflação histórica e moratória. Seu governo também foi afetado por escândalos de corrupção como suspeitas de superfaturamento e irregularidades em concorrências públicas, como a da licitação da Ferrovia Norte-Sul, que só voltaria a ser construída a partir de 2004, no governo Lula.
Com um governo de transição para o regime democrático, Sarney, logo que chegou ao poder, suspendeu mais de cem concessões e permissões de emissoras de rádio e televisão assinadas por Figueiredo a partir de outubro de 1984. Em seguida, começou a desmontar o dispositivo de exceção herdados pelo regime militar. Anunciou que não assinaria mais decretos-lei e que todos os atos que precisassem de lei para entrar em vigor seriam remetidos ao Congresso em regime de urgência.
Em maio de 85, Sarney sancionou as medidas aprovadas pelo Congresso com o objetivo de redemocratizar o país. Entre as principais medidas estavam o restabelecimento das eleições diretas para presidente e prefeitos das capitais em dois turnos e a liberdade de criação de partidos e coligações partidárias. Partidos então clandestinos como o PCB e o PCdoB também foram legalizados.
Um mês depois, anunciando que cumpria «o mais grave compromisso da Nova República», o presidente encaminhou ao Congresso a proposta de emenda criando a Assembleia Nacional Constituinte com o objetivo de elaborar uma nova Constituição para o país. O projeto seria concluído apenas em 1988.
NA PRESIDÊNCIA, 4 PLANOS ECONÔMICOS
Na área econômica, a política do seu governo foi considerada heterodoxa. Sua medida de maior destaque foi o Plano Cruzado, que congelou os preços por doze meses, e a adoção do «gatilho salarial», um reajuste automático de salários sempre que a inflação atingia ou ultrapassava os 20%. No início, o plano teve sucesso na contenção de preços e no aumento do poder aquisitivo da população. Consumidores passaram a fiscalizar os preços e denunciar as remarcações ficando conhecidos como os fiscais do Sarney.
Mas com a crise de abastecimento e a volta da inflação, o plano foi perdendo sua eficiência. O governo, porém, manteve o congelamento até as eleições estaduais para tentar faturar politicamente, estratégia que acabou rendendo ao PMDB a eleição de 22 governadores.
Porém, a economia sofria com a inflação e Sarney lançou o Plano Cruzado II. A medida não teve sucesso e acabou culminando na decretação da moratória em janeiro de 87. Mais dois planos foram lançados (Bresser e Verão) sem que o governo Sarney conseguisse combater a alta dos preços. Entre fevereiro de 89 e março de 90, a inflação chega a 86% ao mês, o equivalente a 2.751% ao ano. Foi nessa situação que Sarney, então um presidente com baixo nível de popularidade e muito criticado na campanha, entregou o governo ao seu sucessor Fernando Collor de Mello na primeira eleição direta do Brasil desde o fim do regime militar.
Após a passagem pelo Planalto, Sarney transferiu o seu domicílio eleitoral para o recém-criado estado do Amapá e foi eleito senador em 1990.
ESCÂNDALOS NA PASSAGEM PELO SENADO
Sarney presidiu o Senado em três oportunidades entre 95 e 97, 2003 e 2005, e de 2009 até fevereiro de 2013. Sua última gestão foi marcada por muitas polêmicas. Em março de 2009, foi revelado que o diretor-geral do Senado, Agaciel Maia, nomeado por Sarney em 95, usou o irmão e deputado João Maia (PR-RN) para esconder da Justiça, desde 96, a propriedade de uma casa avaliada em cerca de R$ 5 milhões. Agaciel acabaria se demitindo. Dois meses depois, Sarney foi acusado de receber R$ 3,8 mil de auxílio-moradia mesmo tendo residência em Brasília. Inicialmente ele negou, mas depois pediu desculpas e mandou cortar o benefício.
Em junho, foi alvo do escândalo dos atos secretos, quando foi acusado de nomear um neto, dois sobrinhos e uma ex-nora em cargos públicos. Apenas o neto, João Fernando Michels Gonçalves, foi demitido do gabinete do senador Epitácio Cafeteira. Dias depois, porém, a mãe dele, Rosângela, foi contratada no lugar. Acuado pelas denúncias, Sarney foi à tribuna do Senado para se defender e declarou: «Essa crise não é minha, a crise é do Senado».
Mas as denúncias continuavam. Com novas descobertas de atos secretos, foi revelado em junho que um mordomo da então ex-senadora Roseana Sarney, filha de Sarney, recebia R$ 12 mil. Dias depois, surgiu a notícia que outro neto de Sarney, José José Adriano Cordeiro Sarney, operava o esquema de crédito consignado do Senado. José Adriano negou que o parentesco com Sarney tenha favorecido a empresa e disse ainda que o avô sabia que a consultoria trabalhava com empréstimos consignados, mas desconheceria a atuação na Casa.
Bombardeado por críticas e denúncias, Sarney teve o pedido de afastamento da presidência do Senado protocolado pela oposição no final do mês.
Enquanto isso, julho começava com uma nova denúncia de que Sarney deixou de registrar na declaração de bens encaminhada ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) em 2006 a casa onde morava na Península dos Ministros avaliada em R$ 4 milhões. Na ocasião, ele disse que o erro foi do contador. Uma semana depois, a Fundação José Sarney foi acusada de ter desviado recursos de patrocínio da Petrobras para empresas fantasmas e outras da própria família.
Sarney se defendeu dizendo que não participava da administração da fundação que leva seu nome nem tinha responsabilidade sobre ela.
Na Casa, senadores de oposição pressionaram para que Sarney renunciasse. Nas ruas, na internet e no Twitter, jovens criam o movimento «Fora Sarney» e fizeram manifestações em Brasília. Pressionado, Sarney voltou a se defender dizendo que «a injustiça somente pode ser combatida com três ações: o silêncio, a paciência e o tempo».
No final de julho, um dos filhos de Sarney, Fernando, aparece em diálogos gravados por uma operação da Polícia Federal pedindo para Agaciel a nomeação do namorado da filha, Henrique Dias Fernandes. Após a nova denúncia, o PSDB entra com representações no Conselho de Ética acusando Sarney de quebra de decoro.
Para não ser afastado da presidência do Senado, Sarney contou com o apoio do então presidente Lula, que trabalhou para que o PT não ajudasse no pedido de afastamento. Lula também declarou que Sarney não deveria ser tratado como uma pessoa comum e defendeu sua continuidade como presidente do Senado.
Em agosto, Sarney voltou à tribuna para novamente se defender. Declarou nunca ter se envolvido em escândalos e reafirmou sua determinação de não renunciar à presidência da Casa. No mesmo dia, três denúncias e uma representação contra ele foram arquivadas. Dias depois, novos pedidos de investigação e afastamento de Sarney foram sendo arquivados. A última cartada da oposição foi ir ao Supremo Tribunal Federal (STF) para a abertura dos processos contra Sarney. Mas o ministro Eros Grau, argumentando que o tribunal não poderia se manifestar sobre o caso «em virtude do princípio constitucional da chamada separação dos poderes» arquivou o pedido.
Em toda a sua carreira, Sarney sempre esteve alinhado com o governo. Foi da Arena e apoiou todos os generais-presidentes do regime militar. Na década de 80, deixou o PDS para fundar a Frente Liberal (atual DEM). Foi quando formou a chapa com Tancredo. O único período em que esteve afastado do governo foi na gestão Collor, mas logo após o impeachment ele se aliou a Itamar Franco. Em seguida foi aliado dos presidentes Fernando Henrique Cardoso e Luiz Inácio Lula da Silva.
ABL EM 1980
José Ribamar de Araújo Costa nasceu no dia 24 de abril de 1930 em Pinheiro, no Maranhão. O nome Sarney herdou do pai, Sarney de Araújo Costa, nas suas primeiras campanhas políticas quando era chamado de «Zé do Sarney» e «José filho de Sarney».
Formou-se em Direito na Universidade Federal do Maranhão em 1953, onde na mesma época ingressou na Academia Maranhense de Letras.
Começou na política em 1954, quando, filiado ao PSD, foi eleito suplente de deputado federal. Quatro anos depois, se filiou à UDN e foi eleito deputado federal em 1958 e em 1962, quando foi líder do governo Jânio Quadros. Em 1965, se elegeu governador do Maranhão. Já na Arena, foi eleito senador em 1970 e 1978. Também seria presidente do partido e do PDS. Já no PMDB se tornou presidente da República e foi três vezes eleito senador pelo Amapá em 1990, 98 e 2006.
PAI DE ROSEANA
Maranhão, do deputado Sarney Filho e do empresário Fernando Sarney. A família controla o Sistema Mirante de Comunicação, dono de três emissoras, entre elas a Rede Mirante, afiliada da Rede Globo, e de seis emissoras de rádio. Membro da Academia Brasileira de Letras (ABL) desde 1980, Sarney escreveu contos, crônicas, ensaios e três romances: «O dono do mar», «Saraminda» e «A duquesa vale uma missa».
Sua filha, Roseana Sarney, é governadora do Maranhão pela segunda vez. No início deste ano, esteve no epicentro de uma crise no sistema penitenciário do estado. No presídio de Pedrinhas, a violência e os casos de desrespeito aos direitos humanos ganharam destaque nacional e internacional.
PMDB confirma Gilvam Borges no lugar de Sarney
O presidente em exercício do PMDB, senador Valdir Raupp, disse que a legenda ficou triste com o anúncio de José Sarney (PMDB-AP) de desistir da candidatura à reeleição ao Senado. O peemedebista disse que a decisão do colega foi pessoal e confirmou o ex-senador e presidente da regional do partido no Amapá, Gilvam Borges, para o lugar de Sarney.
“Eu estou triste, lógico. O PMDB está triste de não ter o presidente Sarney como senador, ele vai fazer falta. Com certeza vai fazer falta”, disse Raupp, no Senado.
Raupp disse ter conversado com Sarney pela manhã, que o comunicou da vontade de deixar a política por questões pessoais. A mulher do ex-presidente da República, dona Marly, passa por problemas de saúde. “Ele me disse que já cumpriu a missão dele na política, pelo menos por enquanto. Problema de saúde na família, da dona Marly, inclusive dele mesmo”, disse o senador.
O presidente do PMDB não descartou completamente a possibilidade de Sarney mudar de ideia até sexta-feira, data da convenção da legenda no Amapá. «Tem um ditado na política que diz o seguinte: você nunca pode dizer que dessa água não bebo. Temos que aguardar. O nosso desejo é que ele continuasse. Desejo do PMDB é que ele pudesse continuar. Não sei se isso vai dar mais tempo, se for uma decisão definitiva dele. São coisas muito pessoais, então só ele pode tomar a decisão», disse.
Há 59 anos na vida pública, Sarney está no Senado desde 1991, Casa que presidiu em quatro ocasiões. O político assumiu seu primeiro cargo público em 1955 e presidiu o Brasil entre 1985 e 1990, depois da morte de Tancredo Neves.
Enfraquecido na política local, Sarney foi vaiado em um evento com a presidente Dilma Rousseff ontem, em Macapá, evento que precedeu o anúncio da desistência do peemedebista. Em 2006, ele venceu com pouco mais de 29 mil votos a candidata Maria Cristina do Rosário Almeida, do PSB.
Raupp negou que Sarney tenha desistido da candidatura pela possibilidade de derrota. Segundo ele, pesquisas colocavam o ex-presidente com 53% das intenções. “Se ele fosse candidato, sinceramente falando, acho que ele conseguia vencer a eleição sim”, disse.
Para o colega de partido, Sarney, depois de deixar o Senado em fevereiro do ano que vem, deve continuar na cúpula do partido como um conselheiro. “Obviamente não vai deixar de continuar dando conselhos na política. Papel que ele cumpriu na transição democrática do país já se imortalizou e ficou na história”, afirmou.
http://www.jb.com.br/pais/noticias/2014/06/24/pmdb-confirma-gilvam-borges-no-lugar-de-sarney/