Rousseff y Biden descongelan relaciones y EEUU se compromete acompartir archivos de la dictadura
Biden diz que teve conversa franca com Dilma sobre espionagem
Depois de se encontrar com a presidente Dilma Rousseff o vice-presidente americano, Joe Biden, disse que teve uma conversa franca com ela sobre espionagem, assunto que ele diz saber ser muito caro para o Brasil. Sem detalhar o conteúdo da conversa, Biden disse que para os americanos este também é um assunto importante. Ele lembrou que logo que soube das denúncias de espionagem contra Dilma, seus auxiliares e empresas brasileiras, o presidente Barack Obama ordenou uma revisão dos procedimentos da Agência Nacional de Segurança (ANS), responsável pelo monitoramento feito não apenas no Brasil, mas também em outros países, como Alemanha. E que uma reforma foi feita na agência. Segundo Biden, os dois falaram sobre o esforço comum em prol de uma Internet segura, algo que, ele reconheceu, o Brasil vem liderando.
– É claro que discutimos o programa de vigilância dos Estados Unidos revelados no ano passado. Sei que o assunto é bastante importante às pessoas aqui. Bem francamente, bastante importante às pessoas dos Estados Unidos também. E a presidente Rousseff e eu tivemos a chance de ter uma conversa franca e eu disse o que ela já sabia, que o presidente Obama pediu uma revisão imediata depois que soubemos das revelações e, baseados nas suas instruções, fizemos mudanças reais no nosso processo e estamos adotando uma nova abordagem nessas questões. Continuaremos fazendo consultas próximas a nossos amigos e parceiros, como o Brasil conforme as coisas procedem – disse Biden em declaração à imprensa na embaixada americana.
De acordo com Biden, a reunião rendeu um acordo de cooperação na área de direitos humanos. Os Estados Unidos vão começar a compartilhar documentos sobre a ditadura no Brasil, o que vai ajudar a Comissão da Verdade a desvendar fatos que ocorreram naquele período. Parte desses documentos já teriam sido entregues hoje ao governo brasileiro.
– Espero que olhando documentos do passado, possamos focar na imensa promessa do futuro – disse.
Biden também se encontrou com o vice-presidente Michel Temer. O americano chegou ao Brasil ontem para assistir ao jogo de estreia da seleção dos Estados Unidos na Copa, em Natal, onde os americanos derrotaram Gana por 2 a 1. Ele disse que trouxe a neta e o sobrinho, porque a neta o importunou para vir com ele assistir ao jogo da Copa. Ele aproveitou para dizer que o Brasil e os brasileiros estão fazendo um ótimo trabalho na realização do mundial e elogiou a Arena das Dunas.
Após breve encontro com a presidente, Joe Biden disse a jornalistas que a reunião «foi ótima». Sem parar para dar entrevistas, ele respondeu ainda que o encontro foi bom porque gosta muito da presidente. Sobre a reciprocidade desse sentimento, Biden disse esperar que Dilma também goste dele. O ministro das Relações Exteriores, Luiz Figueiredo, participou da reunião.
– Foi um ótimo encontro. Eu gosto muito dela – disse Biden.
– E ela também gosta do senhor? – perguntou uma jornalista.
– Espero que sim – respondeu, rindo.
Ainda nesta terça-feira, Joe Biden embarca para Colômbia, onde ficará até amanhã. Na quinta-feira, ele irá para a Guatemala.
Antes da reunião com Dilma, Biden demonstrou que aposta em uma reaproximação entre Brasil e EUA. Momentos antes de ser recebido pela presidente Dilma Rousseff, ao ser indagado por jornalistas se as relações poderão ser totalmente restabelecidas, ele respondeu:
– Estou confiante que sim.
Perguntado sobre o jogo de ontem, em Natal (RN), quando a seleção americana venceu a de Gana por 2 a 1, Biden disse, em tom lacônico:
– Nós ganhamos.
As relações entre os dois países foram fortemente comprometidas em agosto do ano passado com a denúncia, publicada com exclusividade pelo GLOBO, de que órgãos de inteligência americanos espionavam cidadãos brasileiros. Algumas semanas mais tarde, surgiu a informação que não escapava do esquema nem mesmo a presidente da República.
Irritada, Dilma chegou a suspender a viagem que faria a Washington. O presidente Barack Obama enviou Joe Biden ao Brasil, para dar explicações, que foram consideradas insatisfatórias pelo então ministro das Relações Exteriores, Antônio Patriota.
Análise: Tarefa de refazer a ponte entre Casa Branca e Planalto deverá ser árdua. Por Matias Spektor
Vem aí uma grande mexida de postos na diplomacia brasileira. O motivo é a mudança de comando na principal peça do xadrez: a embaixada em Washington.
Quem pegar o cargo terá de implementar a restauração das relações que Joe Biden veio combinar.
Essa reaproximação é desejada com intensidade similar por Dilma e Aécio. Ambos entendem que o estado da relação bilateral faz mal ao Brasil e fará muito mal ao governo empossado em janeiro.
No entanto, a tarefa de construir entendimento político de primeiro nível entre Casa Branca e Planalto será árdua. Nos principais temas da agenda, os dois países discordam ou têm interesses conflitantes. Além disso, Obama e o próximo presidente do Brasil terão pouco espaço de manobra para grandes concessões.
Nesse ambiente, a busca de uma saída honrosa para a crise da espionagem é o menor dos problemas. Diante do desafio, qual o perfil ideal para chefiar a embaixada? A história recente sugere três elementos essenciais.
O próximo embaixador tem de ser visto pelos americanos como um interlocutor privilegiado do Palácio do Planalto. Ele precisará mostrar que goza de alguma independência de seu chefe imediato, o ministro das Relações Exteriores.
Sem isso, a embaixada será vista como entreposto a ser evitado, não como alavanca a ser aproveitada para o projeto da restauração.
«O que mais importa», revela um velho assessor da Casa Branca, «é saber se a pessoa terá autoridade para telefonar à Presidência e resolver o problema antes de o vazamento chegar à imprensa.»
Trata-se de uma expectativa ambiciosa, porque acesso pessoal ao gabinete presidencial é um dos bens mais escassos da Esplanada dos Ministérios. Mas é possível –já tivemos isso no passado.
O embaixador em Washington também precisará de carta branca para falar com a imprensa norte-americana. Para reverter as atitudes negativas que ainda reverberam, precisará pautá-la o tempo inteiro.
Por fim, terá de construir uma rede de relacionamentos no Congresso Nacional, em Brasília, e nas redações de jornal em São Paulo e Rio de Janeiro.
Trata-se de escudo para protegê-lo das pressões contrárias que sofrerá daqueles que, no governo e na oposição, preferem manter os Estados Unidos à distância.
O próximo embaixador pode ser extrovertido ou reservado, barulhento ou discreto. Só não poderá deixar de ser um animal político.