Compra de refinaria foi um mau negócio, admite Graça
Em seis horas de depoimento ontem no Senado, a presidente da Petrobras, Graça Foster, admitiu que a compra da refinaria de Pasadena (EUA), em 2006, «não foi um bom negócio», mas endossou a versão de Dilma Rousseff ao afirmar que estava incompleto o resumo em que se baseou a aquisição.
«Não existe operação 100% segura, imagino que em nenhuma atividade comercial e certamente não na indústria de petróleo e gás», afirmou.
Na avaliação de parlamentares da oposição e do próprio governo, as explicações não surtiram o efeito desejado pelo Palácio do Planalto, que era esvaziar a pressão para a instalação de uma CPI da Petrobras no Congresso.
Senadores de oposição voltaram a defender a investigação durante e após o depoimento de Graça. Já os governistas reconheceram, nos bastidores, que ela conseguiu apenas reforçar a versão da presidente Dilma, que deu o aval ao negócio em 2006.
Na época, Dilma presidia o Conselho de Administração da estatal e apoiou a compra. Em março, no entanto, afirmou que o fez com base em um parecer jurídica e tecnicamente «falho».
Assim como a presidente, Graça criticou o ex-diretor da área internacional Nestor Cerveró, que fez o resumo executivo «sem citação a duas cláusulas contratuais completamente importantes».
«Quando fazemos uma apresentação ao Conselho de Administração e tratamos o resumo executivo, ele deve conter todas as informações necessárias e suficientes para a devida avaliação do que se pretende fazer. Além disso, é obrigação apontar os pontos fracos e frágeis», disse a presidente da Petrobras.
A executiva foi cobrada pela oposição a explicar qual foi a punição dada ao então diretor quando se descobriu o parecer supostamente falho.
Graça deu então a entender que a transferência de Cerveró para a diretoria financeira da BR Distribuidora representou uma espécie de rebaixamento, por se tratar, segundo ela, de um cargo menor, mais modesto.
MAU NEGÓCIO
Segundo Graça, a refinaria de Pasadena provocou perdas de US$ 530 milhões à estatal e só começou a dar lucro neste ano, contabilizado em US$ 58 milhões nos dois primeiros meses.
«Não foi um bom negócio. Isso é inquestionável do ponto de vista contábil. É um projeto de baixa probabilidade de recuperação do resultado», afirmou.
Ela, porém, ressaltou que as informações que o conselho tinha à época apontavam que a aquisição aparentava ser um bom negócio.
Graça ainda rebateu a informação de que a Astra Oil, de quem a Petrobras comprou inicialmente a metade de Pasadena, havia adquirido a refinaria anteriormente por apenas US$ 42,5 milhões.
Segundo ela, a Astra Oil pagou ao menos US$ 360 milhões, incluindo US$ 112 milhões em investimentos. Já a Petrobras desembolsou, ao fim do negócio, ao menos US$ 1,25 bilhão.
O esforço de Graça em responder os questionamentos de 27 senadores não evitou a queda de 3,83% das ações da estatal na Bolsa de Valores.
Em dos embates com a oposição, a presidente da estatal rebateu a afirmação do senador Pedro Taques (PDT-MT), que insinuou que a estatal estaria sendo gerida como uma quitanda. «Quando os senhor fala que a Petrobras é uma quitanda quero dizer que não é uma quitanda. Mas uma [empresa] absolutamente séria pelo desafio que enfrentamos todos os dias.»
A presidente da estatal também reconheceu que a prisão do ex-diretor Paulo Roberto Costa pela Polícia Federal provocou «grande constrangimento» na empresa.
Costa é um dos alvos da Operação Lava Jato, que apura esquema de lavagem de dinheiro e de repasse de dinheiro de empreiteiras e fornecedoras da Petrobras a partidos políticos.
Senado deixa votação sobre CPI da Petrobras para depois da Páscoa
O Senado vai deixar a votação do relatório da CPI da Petrobras para depois daPáscoa. O adiamento conta com a apoio da oposição, que prefere aguardar a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) sobre a questão. Esse é o mesmo argumento usado pelos governistas que tentam, a todo custo, protelar o início das investigações.
A apreciação do relatório do senador Romero Jucá (PMDB-RR), que defende a CPI «combo» da Petrobras, deveria ser votado ainda nesta terça-feira no plenário do Senado. Em seguida, os senadores iriam para a Câmara, para a sessão do Congresso Nacional onde devem ser lidos dois requerimentos de criação de CPIs mistas – um da oposição, com exclusividade para a estatal, outro dos governistas, com assuntos indigestos a PSDB e PSB.
No entanto, o clima no Senado é de conformismo com a ideia de que é melhor aguardar Rosa Weber, do STF, dar sua posição sobre os recursos impetrados por oposicionistas e aliados da presidente Dilma. A ministra deve se manifestar na próxima semana.
– Não vejo problema em deixar para semana que vem. Se essa for a decisão do governo, não vamos criar dificuldade – disse o pré-candidato do PSDB à Presidência da República, senador Aécio Neves, que se coloca a favor da CPI exclusiva da Petrobras.
Com interesse em atrasar o máximo possível a instalação da CPI, o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL) também concordou que o melhor a fazer no momento é deixar a decisão a cargo do Supremo.
– Como o STF vai ter de decidir sobre a constitucionalidade e a amplitude, talvez seja melhor esperar – afirmou.
Segundo Calheiros, mesmo sem quórum para votações, a sessão do Congresso deve ter o número de presentes necessário para abrir os trabalhos, o que permite que os requerimentos de criação de CPI sejam lidos ainda hoje. Se assim for, os deputados e senadores que aderiram aos pedidos de investigação terão até meia noite para retirar as assinaturas.